Foto: Ian Hansley
Em meu novo livro, O Poder da Cultura, que será lançado dia 4 de novembro na Fnac Pinheiros, em São Paulo, faço uma análise histórica das políticas culturais brasileiras, de D.João a Gilberto Gil. Nela apresento algumas formas de relação entre Estado e cultura, propondo novas discussões e abordagens.

Cultura sempre foi, em nossa política cultural, instrumento de dominação e poder. De um mecenato estatal passamos para um novo discurso, de cidadania e diversidade cultural, mas ainda carregamos vícios nas relações entre poder público e os profissionais da cultura.

Precisamos enriquecer a abordagem e o compromisso social com a cultura. O PEC 150, que amplia e indexa o orçamento, e o Plano Nacional de Cultura, são caminhos interessantes, que precisam coexistir com uma proposta clara para lidar com os desafios de infra-estrutura e financiamento à atividade cultural no país.

Precisamos separar os vários níveis de atuação do poder público em relação às diversas demandas e necessidades culturais do país. Proponho uma nova tipologia para lidar com essa demanda:

Infra-estrutura: todo o investimento que visa garantir os direitos culturais ao cidadão é responsabilidade consitucional do o Estado. Isso inclui criar e manter equipamentos culturais, patrimônio, educação e banda-larga, por exemplo.

Pesquisa: o desenvolvimento do potencial simbólico de um povo e de uma nação está intimamente ligado com a sua capacidade de pesquisa artística, estética e de linguagem. O Brasil precisa desenvolver um fundo público sério, autônomo, qualificado, para lidar com essa emergência. O fomento não pode estar à mercê de uma lógica de mercado, tampouco sujeito às intempéries do governante de plantão.

Empreendedorismo: há um limbo entre aquilo que tem potencial comercial e aquilo que caracterizamos como fomento. Nosso modelo de financiamento precisa incentivar o empreendedorismo, possibilitando o diálogo com uma lógica de mercado, ao mesmo tempo que se pensa e se estrutura como atividade artístico-cultural. Penso que os mecanismos de mecenato, já existentes e consolidados, precisam se readequar para atender a essa necessidade.

Indústrias culturais: desenvolver uma indústria cultural propriamente brasileira é questão estratégica para o Brasil. Entre os setores econômicos que mais crescem no mundo, as indústrias de cultura são fundamentais para consolidar nossa contribuição no processo de globalização, auxiliando na exportação de produtos brasileiros, gerando empregos e recolhimento de impostos. As indústrias necessitam de apoio governamental na redução da carga tributária e concessão de empréstimos subvencionados.

Enquanto não estabelecermos um sistema mais complexo de financiamento à cultura continuaremos jogando nossa rica diversidade num caldeirão único, em que ninguém se beneficia.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

6Comentários

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 2 de outubro de 2009 @ 17:40 Reply

    O grande legado que o Estado deixou para o Brasil foi uma política complexada, cheia de medos, que não consegue largar o corrimão de pinho de riga. Por incrível que pareça, o império tinha uma postura mais autônoma, mais focada na arte brasileira. O que a bienal está colocando hoje, a antropofagia às avessas, já havia acontecido com o Xisto Bahia no século XIX com os seus lundus já brasileiros que incendiaram Portugal naquela época.

    Dia desses saiu um livro e, ao que tudo indica, é uma das grandes revelações, “Os Músicos Negros”, que fala das primeiras composições clássicas feitas por negros da fazenda imperial na região rural de Itaguaí, entre o Vale do Paraíba e a Baixada Fluminense. Acontece que dentro da própria estrutura do Estado havia um racha, mesmo que a Roquete Pinto ou a rádio Nacional conseguissem fundir múltiplas linguagens musicais, e eram extremamente populares, com a chegada do tsunami da grande indústri fonográfica no Brasil, a partir da década de 60, praticamente se desorganizou essa estrutura que vinha se consolidando.

    Esse mercado cultural que estamos tentando criar, padece de qualificação e, consequentemente autonomia para uma análise independente e produtiva. É que ele vem sendo encabeçado com aquela afinidade da elite estatal, melhor dizendo, o funcionalismo de elite que se protege numa falsa erudição para se sustentar debaixo das masmorras centenárias. Num primeiro plano vivemos uma das piores consequências disso, que é o desestímulo, no meio artístico, de se desenvolver um projeto complexo, rico, detalhado. A percepção de que tudo virou um digestivo sistema de produção, ou seja, os erros do mercado e os erros do Estado jogados dentro de um liquidificador, e um caldo espesso absolutamente indigestó para alçarmos voos mais producente.

    Observo que a maioria dos debates sobre percentuais de apoio, planos de mídia, mais ou menos paticipação do Estado, ingerência ou incentivo, o conceito até gasto de valor agregado, simplesmente se ausenta, o que mostra que esse pequenino detalhe tão apreciado por qualquer indústria ou mercado, é abolido das estratégias de desenvolvimento.

    O pacto sanguíneo das elites culturais da iniciativa privada e do Estado, deixou esse enorme vazio, essa lacuna que a irresponsabilidade com o país e com o segmento cultural. Vamos ver até quando essa máquina de desilusão, essa similistronca de moer sonhos vai prejudicar a saúde do mercado cultural brasileiro.

  • Eduardo Cabus, 4 de outubro de 2009 @ 13:27 Reply

    Bom dia

    Gosto do seu trabalho mais não gostei da ilustração do seu novo livro Não falo da arte propriamente dita nem da qualidade da foto Falo da banana ela não merece ser dada em vão é muito gostosa para sair dando por ai(todas elas)muito menos ser atrelada aos micos mesmo porque nos MaKaKos sem dúvida somos YES temos banana.
    Ainda bem que temos
    para dar,vender,alugar,emprestar

    Boa sorte

  • cristiano, 6 de outubro de 2009 @ 10:46 Reply

    “O fomento não pode estar à mercê de uma lógica de mercado, tampouco sujeito às intempéries do governante de plantão.”

    sim, não dever estar a mercê do mercado, mas deve levar o mercado em conta….sem inocência, fazendo uma política de equilíbrio entre mercado cultural e cultura.

  • gil lopes, 7 de outubro de 2009 @ 17:28 Reply

    O que pensar olhando as capas dos cadernos culturais de hoje no O Globo, na Folha e no Estadão. Se temos na música brasileira um motivo pra se orgulhar, o que está diante de nós? O que se passa com a nossa música? Isso quando Bethânia, Calcanhoto lançam novos “discos”…discos? As pesquisas com as garotas it, seja lá o que isso for, já nos diziam: só música estrangeira. 100%. Nossa música está por fora entre nós? Onde está o mercado da nossa música e para onde a midia está olhando?
    Ao mesmo tempo observamos a Mac inaugurando lojas virtuais para vender mais Ipods e Iphones…qual é a música desses equipamentos? Qual é o mercado de música nesses equipamentos? O Brasil já é um dos maiores compradores do mundo, mas o que vem dentro dos equipamentos? Tem música brasileira à venda? E porque não tem? Ninguém compra? Só baixam?….então vamos falar de outra coisa…enquanto isso…ou não

  • Renata Seixas, 8 de outubro de 2009 @ 14:05 Reply

    O DIA D PARA A MÚSICA BRASILEIRA.

    A PEC da Música irá à votação no dia 21, quarta feira, às 14h na Câmara dos Deputados e sua participação é decisiva!

    A presença dos músicos, artistas, produtores e outros interessados no tema é fundamental para pressionar os deputados a votarem a favor da PEC. Haverá estrutura para recebê-los e todos estão convidados!

    Precisamos de 308 votos (de um total de 513). Contate os deputados do seu estado e peça que votem a favor. Divulgue a proposta em suas redes de relacionamento, blogs, e-mails etc. Esta é a hora de pressionarmos.

    Dúvidas: Gabinete do Deputado Otavio Leite (autor da proposta)
    Em Brasília: (61) 3215-5437
    No Rio de Janeiro: (21) 3388-6240
    E-mail: tatiana@otavioleite.com.br / gabinete@otavioleite.com.br
    Saiba mais: sss://www.otavioleite.com.br/pesquisa.asp?q=pec+da+musica

  • wander, 8 de outubro de 2009 @ 22:26 Reply

    A capa do: Cada macaco no seu galho,é uma representação infeliz de latinos com disfunção erétil que ainda buscam o ponto G8. Tenho meio século, e agora com certeza da minha incompetência diante dos buracos negros nos porões do submundo do mapa-múndi.Eu juro que acreditei.

    g

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