Não se pretende neste espaço, em momento algum, criar nenhum tipo de pseudo-observador de imprensa à moda de Alberto Dines, nem a pretensão de este autor ter se auto-intitulado o ombudsman do jornalismo cultural.
Segundos cadernos
O núcleo editorial de jornalismo cultural independente – 100canais, em parceria com o Cultura e Mercado, inaugura nesta semana uma nova coluna experimental que pretende colaborar com o debate sobre o jornalismo cultural contemporâneo. Amarrado à hegemonia pasteurizada dos segundos cadernos ilustrados, a pauta do repórter de cultura ficou restrita à agenda da indústria cultural e à crítica artística na lógica do jabá ou de uma elite com padrões estéticos europeus. Enquanto isso, as escolas de jornalismo, ao invés de pensar e executar alternativas, estão preocupadas em inserir mais e mais técnicos da comunicação a alimentar esse mercado de trabalho.
Dois.ponto.zero
Salvo as exceções de centros e núcleos de estudo acadêmicos que compreendem a necessidade do estudo multidisciplinar com centralidade na cultura, é nas propostas alternativas de comunicação desenvolvidas na grande rede que o fazer jornalístico transforma-se – experimenta as formas que a tecnologia possibilita: produzir e reproduzir a informação ao infinito, em ambiente em que os modelos de negócio e a propriedade intelectual perdem sentido. Caderno 2.0 nasce na experiência de descobrir que as notícias que realmente importam para a cultura não estão apenas nos segundos cadernos. A cobertura sobre as movimentações da cultura vivem fragmentadas em manchetes econômicas, políticas e entrevistas pautadas na visão de sociedade da grande imprensa, os conteúdistas do mercado.
Bom deixar claro
Não se pretende neste espaço, em momento algum, criar nenhum tipo de pseudo-observador de imprensa à moda de Alberto Dines, nem a pretensão de este autor ter se auto-intitulado o ombudsman do jornalismo cultural. Longe disso. O objetivo do Caderno 2.0 é inter-relacionar a pauta e a estratégia política dos meios de comunicação. Provocar o debate com o melhor e o pior que o jornalismo permite, sem sequer medi-los, apenas expondo-os. Dos comentários fofoqueiros sensacionalistas, às novas iniciativas e propostas tecnológicas. E assumiremos todas as nossas contradições.
É só provocação
Que a coluna espalhada semanalmente no boletim de Cultura e Mercado torne-se apenas o início desse Caderno 2.0. Que ele seja construído ao longo de cada semana, de forma compartilhada, nos comentários. Que cada leitor de Cultura e Mercado faça parte, com novas notas e opiniões, desse caderno de webpages de tinta reluzente e de conteúdo que pensa a centralidade da cultura em uma sociedade democrática.
Cultura e Pensamento
Esta coluna faz parte de uma série de iniciativas do Instituto Pensarte em promover e compartilhar o debate sobre políticas públicas para a cultura. Cultura e Mercado promoverá, a partir de outubro, contemplado pelo edital Cultura e Pensamento 2007 do Ministério da Cultura, um debate on line com acadêmicos e artistas das cinco regiões do Brasil, além de pensadores estrangeiros, exatamente com o tema Jornalismo Cultural em Pauta..
CADERNO 2.0 – O primeiro clichê
“Procura-se um ministro”
A grande imprensa anda incomodada com a atuação de Gilberto Gil no Ministério da Cultura. Sob o bordão “Procura-se um ministro”, a Janela Indiscreta da revista Época dessa semana afirma que o governo busca um novo ministro da Cultura. Conforme o periódico, o governo avalia que Gilberto Gil deixou a função para seu secretário-executivo, Juca Ferreira, e que o ministro estaria pensando apenas em retomar à carreira musical.
Quem procura acha!
Velhos ditados não falham, e o ministro apareceu no dia dez em uma sabatina no jornal Valor Econômico. O jornal ironizou as férias do ministro (o músico está lançando sua turnê Banda Larga pelo Brasil), com o título “As licenças poéticas de Gilberto Gil”. Questionando um suposto “apagão da cultura”, originado pelas férias do ministro e a greve dos servidores da cultura, Lobão, dos tempos de Acústico MTV, perguntou se Gil não temia ser “um precedente sombrio para uma nação à beira do nocaute ético?”. E o ministro respondeu ressaltando um trabalho de equipe e continuo facilitado pelas tecnologias da informação e da comunicação: “Creio que sim, que pode ser um exemplo de uma ética que não se restrinja à exigência do cumprimento de regras convencionalmente impostas, mas que se constitua por meio da eficácia de seu efetivo desempenho”.
Sobre Legitimidade e Ética
Acerca da greve dos servidores da Cultura, o ministro considera a luta dos trabalhadores legítima. Sobre a ética entre sua vida de homem público do estado e a de Gil, o cantor e compositor de uma grande gravadora, o ministro não titubeou e questionando a pauta da sabatina, contra-atacou: “O que não cabe mais é a carga brutal de rejeição a uma iniciativa do governo, sob as mais diversas alegações, como foi no caso da Ancinav”.
Furo ou Furada?
Tem gente até arranjando substituto. A coluna Bate e Rebate – Comentando os Fatos, do jornal O Estado do Maranhão, no dia nove de agosto elegeu o deputado Frank Aguiar (PTB-SP e vice-presidente da Comissão Permanente de Educação e Cultura da Câmara Federal) como possibilidade de ser o gestor das políticas culturais no Brasil. “Isso mesmo, não se sabe bem a origem do boato, mas já rola o papo do deputado forrozeiro Frank Aguiar como provável substituto do afável Gilberto Gil”, afirma a coluna.
Novo Mercado
A Tec Toy não vê a hora de chegar o Novo Mercado da Bovespa. Depois dos sucessos lançados no fim dos anos 80, como o Pense Bem e o Master System, a Tec Toy pretende investir em um dos ramos de negócios que abrirão com a implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital.
Novo Brinquedo
O brinquedinho que a empresa pretende desenvolver, conforme anunciou o principal executivo da empresa, Fernando Fisher, em entrevista à Gazeta Mercantil, está relacionado à conversão do sinal aberto de tevê de digital, para televisores analógicos. As ferramentas necessárias para tal façanha serão conhecidas como setup boxes. Um setup Box funcionará como um conversor UHF – VHF ou de tevê digital pago. Quem quiser receber o sinal aberto digitalizado em sua tevê comum terá que comprar o tal brinquedinho.
É Brinquedo, não!
Segundo Fisher, a expectativa é que até dezembro, a Tec Toy esteja no Novo Mercado. De acordo com as informações fornecidas pela Tec Toy, “a conversão das ações preferenciais em ordinárias será calculada com base na média das cotações das ações ordinárias e preferenciais nos últimos 30 pregões da Bovespa, ponderada pelo volume de negociação. A proposta também contempla o grupamento de ações na proporção de 20.000 para 1, devendo a Assembléia Geral definir o tratamento a ser dado às frações decorrentes”. Seja lá o que esses números significam, deixa claro que alguns poucos estão esperando ganhar muito dinheiro com isso tudo.
É Dinheiro!
O presidente do grupo Meio e Mensagem, José Carlos de Salles Neto, diz que, no novo ciclo de expansão da economia, as empresas terão de investir muito mais em propaganda para fidelizar clientes e ampliar participação de mercado. Em entrevista à revista Isto É Dinheiro do dia 11, ele afirmou que em uma perspectiva de crescimento de 5% do PIB, como prevê o governo, o mercado publicitário deve crescer de 8% a 10% ao ano. O setor movimenta por ano cerca de US$ 12 bilhões no Brasil.
TV Pública
Estranho foi o comentário do publicitário sobre o que deve ser a TV Pública no Brasil. Salles Neto considera que a mídia comercial já cumpre “com muita competência” o papel democrático que caberia, segundo o governo, à comunicação pública. Será a entrevista mais uma campanha publicitária para eliminar o artigo 223 da Constituição, que prevê que o estado garanta a constituição do sistema público de radiodifusão, como complementar aos sistemas estatal e privado?
Nota Póstuma
Após longa crise que se arrastava desde o início do ano, a Agência Carta Maior está encerrando seu trabalho de produção de conteúdo jornalístico orientado pelas bandeiras do Fórum Social Mundial. O www.cartamaior.com.br permanece no ar, mas cerca de 90% do corpo de editores e repórteres encerraram as atividades na última semana. Menos uma rica fonte de contra-informação. Menos um dos melhores veículos alternativos de comunicação de nossos tempos. Um novo editorial, no entanto, anuncia que Carta Maior, já incapaz de produzir o mesmo conteúdo que lhe deu o título de melhor veículo de hard news em meio eletrônico, pelo Portal Imprensa, continuará atuando como produtora de análise e opinião.
Carlos Gustavo Yoda