Cada vez mais, investidores brasileiros e estrangeiros voltam os olhares para os talentos nacionais na área de tecnologia. É o que mostra reportagem do jornal Correio Braziliense da última sexta-feira (21/1), sobre a seleção de 15 projetos individuais para a Campus Party 2011, maior feira de internet do Brasil, que terminou neste domingo (23). “A ‘Campuseiros Inventam’ é uma atração voltada para pessoas que têm ideias bacanas, mas não pensam em abrir uma empresa. Elas estão lá para vender o projeto, tentar registrar a patente e buscar parceiros”, explicou Mário Teza, diretor-geral da Campus Party.

O prêmio neste ano foi de R$ 100 mil, a serem investidos no produto no período de um ano. O valor é bem maior do que os 3 mil euros destinados ao vencedor da edição europeia ano passado, do empresário brasiliense Marcos Roberto Oliveira. Seu projeto foi o iTV Project, software que desenvolve aplicativos interativos para a TV digital através de qualquer navegador.

Neste ano, Oliveira esteve na organização da feira e ajudou a escolher os 15 finalistas. “Esse é o maior encontro de tecnologia do mundo. O Al Gore (ex-vice-presidente dos Estados Unidos) esteve aqui, o Steve Wozniak (parceiro de Steve Jobs na fundação da Apple) estará. Isso abriu muitas portas para o nosso trabalho. Quando a gente conta que levou o prêmio de 2010, as pessoas nos encaram de um jeito diferente”, disse Oliveira. Ele acredita que o Brasil começa a entrar em uma onda de desenvolvimento semelhante à que aconteceu nos Estados Unidos nos últimos anos. “Nós somos o povo que fica mais tempo na internet, temos milhares de internautas e o mundo está de olho nisso. Vai saber se o próximo Mark Zuckerberg não sai daqui.”

O campuseiro Brynner Ferreira criou o Wup (um dos cinco finalistas do concurso, segundo blog da Campus Party anunciava na sexta-feira), um site que organiza conteúdos dos endereços favoritos do internauta e facilita o compartilhamento de informações. “Ele mostra resultados hierarquizados por meio de uma avaliação comportamental do perfil do usuário dentro da rede. A ideia é que ele encontre o que precisa de maneira fácil e rápida”, explicou Brynner à reportagem do Correio.

O morador de Goiânia Jhonatham Fernandes criou dois projetos. Um deles é uma espécie de autoatendimento em três dimensões. “O programa permite que o cliente de um shopping, por exemplo, visualize a loja que quer visitar na entrada do edifício. Além disso, o software tem espaço para publicidade e programação de cinema, por exemplo”, detalhou o jovem de 24 anos. O outro projeto é um sistema de vendas para restaurantes via celular. “O dono do estabelecimento pode ter a fotografia do cliente, dos pratos, com detalhes sobre os pedidos de forma muito mais sistemática.”

Os campuseiros já se consideram privilegiados, mesmo não ganhando o prêmio máximo. “A Campus é uma oportunidade gigantesca, mesmo sem ganhar o prêmio, teremos um feedback muito grande de futuros possíveis parceiros”, disse Daniel Barbosa, que criou um projeto de comunicação alternativa digital para portadores de necessidades especiais. “As chamadas pranchas multitouch já existem nos Estados Unidos, mas custam US$ 4 mil, US$ 5 mil. Queremos viabilizar um produto nacional, em língua portuguesa, de tecnologia assistiva. É um sonho”, definiu.

O diretor-geral da Campus Party afirmou que o envolvimento dos participantes mostra o amadurecimento da feira. “No primeiro ano, o campuseiro vinha assistir a uma palestra; no segundo, acampava; no terceiro, dava um curso; agora, no quarto ano, já vem com uma ideia. E as empresas estão percebendo esse potencial, já sabem que precisam inovar e aqui é o lugar para isso.”

Além disso, as empresas já buscam o evento para selecionar profissionais, o que desperta cada vez mais o interesse dos jovens. Neste ano, foram 6,8 mil jovens acampados no Centro de Exposições Imigrantes.

Para o professor Ricardo Queiroz, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília, a premiação incentiva milhares de jovens com boas ideias. No entanto, falta ainda o estímulo ao desenvolvimento estruturado do setor no país. “Dar dinheiro para um projeto que já existe não é algo complicado. O raro é incentivar financeiramente a criação de novos projetos”, disse ele.

Nos Estados Unidos, por exemplo, “os investidores te dão US$ 1 milhão para pensar em soluções, algumas funcionam, outras não. Aqui, isso tudo fica na mão das universidades, onde os professores precisam se desdobrar para dar aulas e os alunos de pós, para fazer suas teses ou dissertações”, observou.

*Com informações do Correio Braziliense


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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