Na última década, a produção cinematográfica brasileira aumentou mais de três vezes em relação à anterior. O público que foi conferir seu próprio cinema também vem crescendo – em 2001, eram 6,9 milhões de pessoas; em 2010, 25,6 milhões, segundo pesquisa do Filme B, portal que monitora esses números. A fatia do mercado agora é de 19%, quando há dez anos era de 9,3%. Mas uma boa parte do que aqui se cria não encontra espectador. E para tentar mudar isso, a saída pode estar não na sala escura, mas na sala de casa.
É a aposta do Movie Box Brazil, canal de TV fechada que deve ser lançado em agosto. O sinal já existe, só falta terminar as negociações com as operadoras. É como o Canal Brasil, mas sem o olhar para o passado: o foco está ajustado na produção deste século. Foi o período em que surgiram as franquias Tropa de Elite, com seus mais de 13,5 milhões de espectadores, e Se Eu Fosse Você, com quase 10 milhões, além de mais de uma dúzia de blockbusters.
Por outro lado, foi também uma época em que a pirataria se intensificou. Isso sem falar na resistência que ainda existe na hora de escolher qual filme ver, na fila do cinema: arriscamos aquele brasileiro do qual não ouvimos falar ou ficamos com o americano que está anunciando em todo lugar?
“Ainda há uma parcela do público que acha que a qualidade do filme não é boa, que o som não é bom. Nosso canal nasce com o objetivo de reposicionar a percepção das pessoas quanto à nova fase do cinema brasileiro, e de ser uma alternativa para os filmes”, anuncia Cícero Aragon, produtor e empresário gaúcho à frente da empreitada. “São em média 90 lançamentos por ano, que não chegam às pessoas porque ficam pouco tempo nas salas. Eles não têm o poder de mídia de um lançamento americano, e só uns 30% alcançam as grandes salas.”
O simpático É Proibido Fumar (2008), de Anna Muylaert, saudado pela crítica e colecionador de prêmios, foi visto por cerca de 50 mil pessoas – mesmo tendo Glória Pires no papel central. Os Famosos e os Duendes da Morte, que venceu o Festival do Rio em 2009, atraiu só 10 mil, a despeito de seus méritos. São dois exemplos, como poderiam ser os filmes de Domingos Oliveira e de outros diretores de orçamento e bilheteria modestos.
“O mercado está polarizado entre os blockbusters e os filmes mais autorais. Para esses, o canal pode ser uma saída. O que acontece é que hoje tem muito filme, ninguém dá conta. O que falta mesmo é encontrar o público”, lembra o crítico Pedro Butcher, editor do Filme B.
O investimento inicial no canal é de R$ 10 milhões, mas deve chegar a R$ 40 milhões, diz Aragon. O canal visualiza o potencial desse cinema no exterior e quer mostrar filmes pequenos, médios e grandes para o restante da América, a Europa e parte da África. Daí o Brazil com z.
O Movie Box surge numa boa fase da TV por assinatura no Brasil – ainda que a cobertura inclua 262 de nossos 5.564 municípios e que o valor pago pelo assinante seja alto demais: o crescimento foi de 30% em 2010, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações. É um momento de discussão também, com o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 116, que cria novas regras para o setor de TV paga, tramitando no Senado (atualmente está em cinco comissões).
Entre os pontos polêmicos estão a criação de cotas para o conteúdo nacional em detrimento do que vem de fora – como se pratica na Europa – e a proibição a grupos produtores de conteúdo ou de radiodifusão de controlar ainda operadoras de TV por assinatura.
Os produtores independentes de TV brigam pela aprovação integral do PLC; já os programadores internacionais, assim como os conglomerados brasileiros, são contra. Alegam que quem tem o poder de decisão é o espectador, de controle remoto na mão.
*Com informações do Estadão.com