Sócio da distribuidora Imovision e uma das figuras mais importantes do cinema de arte no Brasil, Jean Thomas Bernadini afirmou, durante o Show de Inverno de Campos do Jordão (SP) , que o cinema de arte no país está encolhendo.
“Temos cada vez menos espaço”, diz. “Tenho todos esses filmes de Cannes nas mãos e, apesar de ter motivos para comemorar, também fico preocupado. Já sei o que vou passar para lançar alguns deles. ‘Pina’ foi massacrado pelo circuito”, diz ele.
Os “filmes de Cannes” a que ele faz referência são obras de diretores como Michael Haneke, Abbas Kiarostami e Alain Resnais, selecionados para a mostra Um Certo Olhar do festival francês e cujos direitos ele comprou ainda na fase de roteiro.
O filme de Wim Wenders fez, até agora, 97 mil espectadores. O que tira Bernardini do sério é o fato de o documentário sobre a coreógrafa Pina Bausch (1940-2009) ter sido expulso do circuito enquanto ainda lotava sessões. Na corrida do mercado brasileiro por uma tela em 3D – o atual pote de ouro da indústria -, ficou evidente que não há lugar para um produto autoral. Mas o sinal de alerta que Bernardini faz soar não se restringe ao novo formato. Também no 2D a disputa por uma tela se mostra cada vez mais feroz.
Se, em 2008, as salas de arte representavam quase 10% do circuito nacional, elas agora não chegam a 7% do total (veja quadro nesta página). Estima-se que, até o fim de 2012, se limitem a 5% ou 6% das telas. Mais do que reflexo do desinteresse do público, essa diminuição do circuito de arte, também chamado de independente, parece ser fruto de uma radical transformação do mercado de cinema.
“O mercado de exibição no Brasil está vivendo uma competição inédita por espaço”, afirma Paulo Sergio Almeida, criador da Filme B, empresa especializada em análise e números do cinema. “Com a chegada do digital, o cinema terá de vestir calças compridas. O mercado de filmes independentes terá de se adaptar ao novo cenário, e cair na real.”
É que o Brasil atravessou a primeira década dos anos 2000 como um dos principais mercados do mundo para os filmes de arte. Apesar de concentrado em São Paulo e no Rio de Janeiro – as duas cidades reúnem mais de metade das 160 salas -, o circuito independente brasileiro era muito mais significativo do que o da vizinha Argentina ou mesmo que o de países europeus, como Espanha e Portugal.
Em São Paulo, a principal baixa nesse circuito deu-se no ano passado, com o fechamento das seis salas do Cine Belas Artes; Belo Horizonte e Brasília também perderam telas; e, no Rio, o Grupo Estação está em recuperação judicial – nova figura jurídica da concordata.
Para ler a íntegra da reportagem clique aqui.
*Com informações do jornal Valor Econômico