Wong Kar Wai, Martin Scorsese e Woody Allen estão, dia após dia, tornando-se mais populares no Morro do Adeus, em Bonsucesso (RJ), graças a um canal de TV a cabo pirata – a chamada “GatoNet” – cuja programação já incluiu até documentários de circulação inimaginável pelo circuito exibidor da Zona Norte, como “O homem urso” (2005), de Werner Herzog. Lá o cineasta germânico anda em alta: “Vício frenético” (2009), em que Herzog transforma Nicolas Cage em um policial alucinado, é o hit da hora.

“Vicky Cristina Barcelona” (2008) e a versão redux de “Cinzas do tempo”, filmado por Kar Wai em 1994, foram apresentados à comunidade por uma emissora sem nome, de número 18, cujos filmes são exibidos quase sempre dublados, tirados de DVDs.

Transmissões televisivas dessa natureza são ilegais. Mas para os moradores do Complexo do Alemão – em especial os do bairro, sem salas de exibição há, no mínimo, 30 anos -, o canal 18 virou mais do que a maior diversão. Virou um ponto de encontro com o cinema autoral, tal qual num bom cineclube.

– Tenho colegas que passam a noite de sábado vendo dois filmes do canal de DVDs – diz o comerciante João Ferreira, de 38 anos, que descobriu a filmografia do canadense David Cronenberg assistindo a “Spider – Desafie sua mente” (2002) na “GatoNet” do Adeus. – Para quem não sabe avaliar se tal filme é desse ou daquele diretor, o que fica é a sensação de estarmos vendo filmes diferentes. Antes, no canal de DVDs era só filme de sacanagem ou show de pagode. Outro dia, eu liguei a TV e vi “Bastardos Inglórios”. De graça. E, depois que as pessoas passaram a cobrar mais filmes brasileiros, puseram o Canal Brasil na Gato. Já vi até filme daquele Arnaldo Jabor, do “Jornal da Globo”.

Ferreira resolveu correr atrás de outros filmes de Scorsese depois de ver “A ilha do medo” (2010) na “GatoNet”. Comprou um DVD de “O touro indomável” (1980), estimulado a conhecer melhor a obra do cineasta. Ele não sabe quem programa as “sessões” do canal 18. Sabe apenas que, se pagar R$ 30 por mês, terá um pacote de 24 canais, entre eles, o 18.

Os documentários que circulavam no canal de DVDs da Cidade de Deus tinham o mesmo papel dos cinejornais exibidos quando o cinema surgiu: eles informavam a população – afirma Felha.

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*Fonte: O Globo (Rodrigo Fonseca)


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Atriz, pós-graduada em gestão da cultura.

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