Em cartaz no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, o filme A Corrida da Arte (La Ruée vers l’Art) foi inspirado no livro “Grandes e pequenos segredos do mundo da arte”, das jornalistas Danièle Granet e Catherine Lamour, e mostra com olhos de leigo curioso o funcionamento do mercado da arte contemporânea no mundo.

Acompanhando as escritoras, a diretora francesa Marianne Lamour passeou pelas principais feiras de arte do mundo, leilões e ateliês, conversando com galeristas, colecionadores e artistas, em situações muitas vezes desconcertantes, mas reveladoras do modo como os agentes desse mercado atuam.

O filme ainda tem exibição no Rio de Janeiro neste sábado (12/4) no Instituto Moreira Salles, e domingo (13) no Oi Futuro Ipanema; e em São Paulo no domingo, no Centro Cultural Banco do Brasil (clique aqui para ver os horários).

Cultura e Mercado conversou por e-mail com Marianne Lamour. Confira abaixo:

Cultura e Mercado – O filme mostra como o mercado de arte é fechado. Além do dinheiro, o que é preciso para conseguir entrar nele?
Marianne Lamour – Tempo, dinheiro e um bom livro de endereços para entrar em contato com as pessoas que estão controlando o mercado. Se você não faz parte das “pessoas bonitas”, que viajam todos os anos ao redor do mundo para visitar as feiras de arte, as Bienais, os estúdios dos artistas, as “mega galerias” (Pace, Gagosian, White Cube, Hauser e Wirth), você tem menos oportunidades de saber quais os nomes que vão chegar ao topo dos artistas mais vendidos. Comprar barato e vender na alta é o privilégio dos bem informados, que estão organizando a especulação no mundo da arte.

CeM – Vimos no filme que o valor de uma obra de arte passa por diversos fatores, entre eles a influência do galerista e a vaidade do comprador, e que a inspiração em si do artista acaba muitas vezes ficando em segundo plano. Você acredita que a arte tem ganhado ou perdido nesse processo?
ML – É um fardo para os artistas. Se alguns deles estão se aproveitando do sistema, outros não conseguem acompanhar o ritmo devido a um número crescente de demandas em cima deles. Eles não só devem criar o seu trabalho, mas também contribuir para a marketing, a promoção, imprensa, estar em reuniões e coquetéis com os colecionadores. Alguns preferem parar, como o grande artista italiano Maurizio Cattelan, que declarou que se sentia como “o trabalhador de uma fábrica sem nome, da qual sou um escravo”.

CeM – Você não esteve nas feiras de arte do Brasil ou da América Latina, mas elas são citadas por alguns entrevistados. Conseguiu ter uma ideia de como o mercado daqui está sendo visto por essas pessoas? 
ML – Nossa gravação foi organizada para mostrar que a arte foi se tornando importante para alguns países para desafiar o “soft power” americano (arte, cinema, música, literatura usados como instrumento de influência e poder diplomático). China e os Emirados Árabes têm demonstrado seu desejo de desafiar a posição americana na arte. Eles gastam grandes montantes de dinheiro para alcançar essa meta. O Catar, por exemplo, decidiu gastar um bilhão de dólares para adquirir obras de arte de primeira linha. Apesar dos colecionadores sul-americanos e russos estarem se tornando muito importantes no mercado de arte, não há vontade dos Estados para impulsionar o mercado. É por isso que nós não fomos para esses países, e também porque não podíamos visitar o mundo inteiro.

CeM – De todos os momentos que acompanhou – conversas com galeristas e artistas, leilões -, qual mais a impressionou (positiva ou negativamente)?
ML – Fiquei muito impressionada com o artista chinês Zhang Huan [autor da obra retratada na imagem que ilustra esta entrevista], que, antes de tudo, teve uma vida incrível, que o ajudou a amadurecer um grande talento. Ele trabalha com duas centenas de assistentes em uma antiga fábrica, agora transformada em um enorme estúdio (do tamanho de uma pequena vila). Eu acho que a cena que filmamos com ele é um dos momentos muito surpreendentes do nosso filme.

Veja o trailer original (sem legendas em português):


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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