Secretário do fomento, que cuida da administração da Lei Rounaet, pede demissão em meio a confusão gerada pelo ministro Juca Ferreira ao fazer a entrega “simbólica” do Procultura. O projeto de lei ainda não foi apresentado para a sociedade, o que acirra as disputas e discordâncias dentro do Ministério.

Em seu lugar assume Henilton Menezes, a partir de fevereiro, depois que o ministro voltar de férias. Conheço bem o trabalho do Henilton, que admiro bastante, frente ao Banco do Nordeste. Com vivência empresarial, sensibilidade e proximidade com os gestores culturais do nordeste, Henilton parece compreender as potencialidades da Lei Rouanet.

Parece que é a pessoa certo no momento errado, infelizmente tarde demais para fazer diferença. Resta saber se a vaca já foi para o brejo, com se diz na minha terra. Conseguimos uma cópia pirata do Procultura, que traz os mesmos vícios e cacoetes de quem não compreende a dinâmica do setor cultural e tenta punir os culpados pela má utilização da Lei, quando o principal problema é o próprio MinC e sua gestão irresponsável do mecanismo.

Nascimento, que exerceu a função por dois anos e meio, alegou motivos pessoais. A Folha de S.Paulo informa que, embora ele já ensaiasse entregar o cargo, alterações no projeto e a forma atabalhoada com que foi conduzida a reforma da lei contribuíram para antecipar o gesto.

O Ministro Juca Ferreira entregou ao Congresso em dezembro uma versão do Projeto que não era a final -não tinha a chancela da Casa Civil. “Fui até onde dava para ir. [Com o projeto], o MinC tem a chance de dar um grande salto. O pior cenário seria se não mudasse nada”, disse Nascimento.

O MinC, que discute as mudanças há anos, pretendia aprová-lo logo. Mas em ano eleitoral, no qual matérias polêmicas tendem a ser adiadas no Congresso, isso é incerto. MinC informou que não vai se pronunciar sobre a mudança.

* com informações da Folha de S.Paulo e do Ministério da Cultura


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

4Comentários

  • fernando, 12 de janeiro de 2010 @ 1:37 Reply

    lembrete:

    Henilton Menezes disse:

    Pela primeira vez na história desse país, como bem vem apregoando o presidente Lula, as políticas culturais estão saindo do eixo “maravilhoso” rio-sampa para atingir os grotões do povo brasileiro, onde ainda se produz arte e cultura genuínas, mesmo que miscigenada com influências externas, o que não é ruim. Essa “desmigração” é consequência direta dos últimos anos de política cultural Gil-Juca. O programa ” pontos de cultura” foi a mais justa iniciativa de aplicação de recursos públicos para a cultura brasileira. Certo é que precisa de ajustes, como qualquer programa que vai de encontro a política concentradora sudestina que vivíamos em eras anteriores no Brasil. Os chás filantrópicos brasileiros aconteceram (e ainda acontecem) principalmente nos encontros palacianos da elites paulistana e carioca. As mesmas elite que usufruiram, durante décadas, das benesses dos incentivos fiscais historicamente concentrados numa única região que não deveria precisar dessas renúncias do estado. Em um evento recente, realizado em BH, ouvi comentários neoliberais como “um projeto de 10 mil reais não tem mercado”. Que mercado? Como explicar um projeto de projeção de filmes brasileiros realizado no litoral alagoano beneficiando mais de 2.000 pessoas, onde foram utilizadas as velas das jangadas para exibição dessas películas, a um custo de pouco mais de 15 mil reais? Por um mega produtor, esse mesmo projeto custaria R$300 ou R$400 mil, sob a alegação de “estrutura profissional”. O Programa Mais Cultura, do mesmo governo Gil-Juca, está apontando seu farol para a população que vive no semi-árido nordestino, beneficiando populações historicamente excluídas das políticas culturais brasileiras, anteriores ao Governo Lula. Serão centenas de pequenos municípios que serão beneficiados com ações concretas, promovendo a rara (para aquela região) possibilidade de protagonismo artístico. A arte está em todos os lugares, merece então investimentos em todos esses mesmos lugares. O MinC vem tentando diminuir esse fosso histórico, mas ainda há forçcas reacionárias que não enxergam além da zona sul carioca ou o do jardim paulista paulistano.

  • Leonardo Brant, 12 de janeiro de 2010 @ 9:12 Reply

    É verdade que a política cultural brasileira ultrapassou os muros de proteção do sul maravilha. É verdade também que existe uma produção cultural rica e viva desabrochando para o financiamento público e, fatalmente, para o mercado.

    Porém, estamos falando de coisas diferentes. Todo o dinheiro canalizado para o norte e o nordeste nos últimos tempos caiu nas mãos de oligarguias que mais parecem com máfias e crime organizado. Amparados por concessões públicas de TV e acordos operacionais com a Rede Globo, essa elite, da qual posso citar dois expoentes: Collor e Sarney, massacrou e continua massacrando o povo brasileiro, subtraindo sua subsistência, dignidade e cidadania.

    Não quero inocentar a elite financeira e industrial paulistana, muito pelo contrário. Só não podemos aceitar o desmanche de políticas e formas consolidades de acesso ao financiamento à cultura baseando-nos em visões míopes e oportunistas a respeito da formação cultural do Brasil, sobretudo na relação entre Estado e produção cultural.

  • Fabíola Zanetta, 12 de janeiro de 2010 @ 12:38 Reply

    É engraçado como quase não se fala sobre o problema das crianças da rede pública de ensino passarem de primeira série sem sequer saberem ler perfeitamente, como não se fala em reestruturar a didática de ensino em um mundo tão multimídia como o de hoje. Estamos a falar em democratização da cultura em um país de analfabetos funcionais!!!! Precisamos primeiro fazer com que saibam ler, depois que tenham interesse pela leitura e só assim depois se interessarem por teatro e cinema… como alguém que mal sabe ler pode se apaixonar por teatro? Talvez possa…nos contos românticos de William Shakespeare ou na ilusão de Samuel Becket… Mas na vida real… Estamos falando de difundir e democratizar a cultura, queremos educar o todo e não um ou dois mais curiosos que a média…

  • Helena Beatriz R. Pereira, 18 de janeiro de 2010 @ 13:43 Reply

    É. Eu sempre falo gentilmente, tanto quanto todos os da Reforma Procultura merecem. Os que tentam fazer a reforma é que não são gentís para com o povo da arte em geral e numca fazem a coisa certa, não sei por que pois, inteligentes deveriam ser para ocupar os cargos que ocupam, mas… Helena

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