Claudia Taddei atua na área cultural desde 1998. Formada em Relações Internacionais pela PUC-SP, é especializada em marketing cultural e gestão para terceiro setor.

Foto: ReproduçãoDentre suas principais atuações, integrou a equipe de projetos culturais de relevância internacional, como a Mostra do Redescobrimento Brasil + 500, como gerente de projetos educativos e sociais, tendo concebido e coordenado projetos como Cultura contra a Violência (com indicação a melhor Prêmio Social pela Uesco no ano de 2000) e Periferia SP.

Fundadora da ComTato – Agência Sociocriativa, ela fala em entrevista sobre os principais desafios dos produtores culturais hoje, a importância de ter propósito nas ações e como valorar os projetos.

Cultura e Mercado – Quais as principais dificuldades que o produtor e o gestor cultural encontram hoje para desenvolver projetos com qualidade hoje?
Claudia Taddei – Acredito que exista um grande desafio, por um lado, de efetivamente amplificar os efeitos e benefícios que os projetos podem oferecer aos seus públicos, seja do ponto de vista artístico, social ou mesmo econômico. Por outro lado, há o desafio de como apresentar de forma tangível os efeitos e resultados gerados, especialmente os qualitativos, demostrando toda a riqueza da ação gerada. Tudo isso passa, entre outros fatores, pelo desenvolvimento de habilidades do realizador quanto a escuta e observação acuradas de seus públicos.

CeM – Você fala muito na importância de se fazer projetos com sentido e propósito. O que isso significa na prática?
CT – Muita gente ingressa na área cultural por gosto, prazer ou vontade. Acredito que poucas pessoas trabalhem com isso sem essa conexão de satisfação pessoal. Atuar na área cultural exige um mergulho nas nossas habilidades, talentos e também uma reflexão de qual é o nosso caminho criativo. Todos nós somos atores sociais, agimos sobre o mundo, mas onde exatamente reside nosso DNA, aquilo que nos diferencia de qualquer outra pessoa? Isso está ligado a quem somos e também a como contribuímos para a sociedade a partir de nossos trabalhos.

CeM – Esse “modo de fazer” tem sido bem compreendido pelos profissionais da área cultural? A que podemos atribuir isso?
CT – Esse modo de pensar e fazer projetos tem tido muito aderência de profissionais das mais diversas áreas, mas especialmente da área criativa, pois essa compreensão dos sentidos e propósitos que movem cada ação diz muito sobre como podemos atuar de forma significativa para nós mesmos e para o mundo.

CeM – Hoje os produtores estão acostumados a ter um modelo fechado de projeto para lei de incentivo, ou de edital, que muitas vezes até atrapalham o desenvolvimento criativo dos projetos. Fica-se muito atrelado aos modelos pré-estabelecidos. É possível mudar essa linha de pensamento, ainda que seja para participar desses editais ou buscar aprovação em leis de incentivo?
CT – Sim, esse é um problema que tem afetado até a forma de criar e desenvolver projetos dos artistas, produtores e gestores. Mas há sim meio de fazer uso das leis de incentivo com certa flexibilidade. Vou dar um exemplo. Há mais de sete anos viemos nos debruçando sobre o desenvolvimento e realização de projetos de cocriação em diversas linguagens: artes cênicas, artes visuais, audiovisual e musical. Isso significa que quando apresentamos um projeto para esses mecanismos não temos alguns elementos concretos como: texto, argumento, ou até mesmo artistas definidos e o que sustenta e embasa suficiente e coerentemente o projeto é a sua metodologia ou a forma como iremos realizá-lo. Quando apresentamos isso com densidade, coerência e outros exemplos de casos comprovadamente realizados e bem sucedidos demonstramos consistência necessária para aprová-lo. Algumas vezes tivemos que ter trocas com coordenadores de área do MinC para aprofundar essa defesa, mas houve abertura e todas as vezes tivemos projetos aprovados.

CeM – É difícil as pessoas, em geral, pensarem no valor de um trabalho, mais do que em seu custo. Projetos culturais com propósito costumam ser mais caros financeiramente? Se sim, como convencer produtores e patrocinadores de qua ainda assim eles devem ser priorizados?
CT – Me parece haver uma relação muito clara entre o valor que damos e somos capazes de expor a terceiros quanto ao nosso trabalho e o valor (em vários sentidos) que terceiros dão ao nosso trabalho. Certamente tempo, trajetória, experiência e até mesmo um tanto de sorte colaboram no êxito de nossas empreitadas. Encontrar a forma mais clara e objetiva possível de apresentar e compartilhar trabalhos complexos e subjetivos sem dúvida não é tarefa fácil. Um trabalho que apresenta uma complexidade na sua realização exige sem dúvida mais tempo de dedicação da equipe, mas também pode ou deveria oferecer proporcionalmente mais efeito para seus públicos. Há ai uma tarefa de ajuste interno no que diz respeito ao tempo empreendido e a uma nova forma de gerir os projetos. E há também uma mensuração mais precisa e desafiadora de como apresentar os resultados qualitativos do projeto.


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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