Desde que reagiu ao artigo de Juca Ferreira e Celso Frateschi, em abril deste ano, Cultura e Mercado viu as portas do Ministério da Cultura fechadas, por meio de sua assessoria de imprensa. Sem o acesso que sempre teve à fonte do seu principal objeto de análise, crítica e proposição, o blog viu-se obrigado a investir sobre as razões e intenções do MinC, gerando um abismo quase intransponível entre o observador e o organismo analisado. No último sábado, o editor de CeM reuniu-se com o secretário-executivo do MinC, Alfredo Manevy, e sairam de lá com um voto de respeito mútuo.

O papel de Cultura e Mercado é crítico-propositivo. Não temos a menor intenção de destruir o trabalho de profissionais e pessoas públicas, sobretudo se estas demonstram abertura, transparência, diálogo e respeito com os agentes da sociedade que desejam contribuir com o desenvolvimento das políticas para a cultura.

A responsabilidade de construir políticas culturais é de toda a sociedade. O governo a representa e deve estar atenta a seus movimentos, mas jamais deve sobrepor a ela, ignorar ou subjugar seus agentes. Cultura e Mercado, mesmo nos momentos mais instáveis e difíceis, busca fazer a sua parte. Utiliza sua articulação para pressionar por resultados concretos no campo da cultura para toda a sociedade.

Nossa função não é mediar a informação e sim revelar os vários pontos que compõem o tabuleiro das políticas e do mercado de cultura. Não é raro publicarmos abertamente críticas à nossa própria atuação. Consideramos as reações dos leitores o maior bem deste canal de informação e debate.

Temos que agir com transparência. Nos posicionaremos a partir de agora com a mesma pegada, de cobrança pública de resultados concretos para a cultura, como sempre fizemos. Mantemos o compromisso de sermos propositivos, sem banalizar a crítica e torná-la o fim em si, contribuindo com a construção de políticas efetivas no campo da cultura.

O Ministério, por sua vez, compromete-se a dialogar, informar e possibilitar o pleno controle público de seus atos administrativos, como reza a Constituição Federal. Nada mais.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

10Comentários

  • Rita Boccato, 28 de outubro de 2008 @ 9:24 Reply

    Pelo menos assim o Cultura e Mercado e etc podem acabar com a imagem, como sempre tiveram, de “chapa branca”.

  • Sérgio Martins, 28 de outubro de 2008 @ 9:59 Reply

    ohhh picuinha do caramba heim…

    tá parecendo revista de fofoca !!!

  • Sérgio Martins, 28 de outubro de 2008 @ 13:47 Reply

    Cultura e Mercado: “Cultura e Mercado, mesmo nos momentos mais instáveis e difíceis, busca fazer a sua parte. Utiliza sua articulação para pressionar por resultados concretos no campo da cultura para toda a sociedade.”

    Um civil qualquer: Como se dá essa articulação?

  • Os editores, 28 de outubro de 2008 @ 15:04 Reply

    Cultura e Mercado é oposição para quem é governo, situação para quem faz oposição, petista para quem é do PSDB, peessedebista para quem é do PT, é do mercado para quem faz trabalho sociocultural e do terceiro setor para quem é do show business, é acadêmico para quem é do mercado, oposição para quem está no governo, chapa-branca para quem está fora dele. E é assim mesmo, pq os blogueiros tem liberdade para escrever o que pensam. Não existe orientação ideológica, mas existem pautas, discussões articuladas entre os inúmeros colaboradores e leitores, que não precisam concordar ou discordar de nada, muito pelo contrário. Não temos mandato, somos apenas cidadãos compromissados com a cultura. Queremos apenas nos expressar, assim como vocês, que aliás, estão convidados a escrever aqui, sobre o que quiserem, quando quiserem. Estou acostumado, como editor, a publicar muito material contraditório e dissonante. E queremos ampliar esse caos, pois acreditamos nele! Abs, Leonardo

  • Carlos Herique Machado, 28 de outubro de 2008 @ 15:15 Reply

    Quando recebi um convite oficial para o “diálogo cultural”, estive lá na ingênua certeza de que tal formato “diálogo” teria sentido máximo onde, em primeiro plano, eu, que ando a criticar com bastante veemência, não só o MinC, mas esse quadro de buraco negro que tomou conta dos múltiplos comandos, uns na base do andaço erudito, e outros na oficiosa tutela dos departamentos de marketing que são hoje, sem dúvida, o mais alto marco da deformidade do pensamento responsável da cultura nacional e essas empresas satélites, que surfam pelas correntes do rio denominadas como fundações culturais, vi naquele momento a possibilidade de me apresentar com argumentos baseados na minha própria condição de artista e crítico a esse modelo.

    Há críticas sim que podem ultrapassar o tom aconselhável, mas jamais podem ser confundidas com futricas, isso, mesmo numa investigação rasa, pode ser observado se o crítico fundamenta-se apenas em ranhetices ou pedidos de privilégios, ou se essas críticas ecoam como uma exausta luta pela dignidade do artista e da arte brasileira. Se há nas mesmas independência, ou se representam a tocaia política de um jagunço chacal. Com as devidas preocupações, o MinC tem que buscar a sensibilidade exigida por sua condição e construir um pensamento mais profundo e investigativo para que entenda de fato os motivos de tais reivindicações e, com certeza, concuir o alto preço que a arte brasileira está pagando por essa soma de equívocos que é hoje a imagem das políticas públicas de cultura que cedem muito mais à pressão do que à razão.

    Mas quando no primeiro plano, a soma quantitativa quer se impor sobre a conceitual para dar tônus político à gestão, ela acende a luz vermelha nos alertando que o vício da insensibilidade com o real, continua bastante energizada pela força que o autismo perigoso que o cargo pode conferir a alguns, ainda seja uma prática cotidiana.

    Repito aqui o que afirmei em um dos meus artigos. Há uma arte represada nos pátios do Brasil, presa no engarrafamento burocrático ou na irresponsabilidade de empresas patrocinadoras que estão a manter privilégios das estrelas do show busines pelas portas do Estado. Por outro lado, se a arte é atemporal, o artista, enquanto ser humano, é tão perecível quanto qualquer outro organismo vivo com data de validade. E este sofre hoje no Brasil, de uma inanição moribunda no desânimo de produzir pela paixão porque, não só vê todo o desprestígio da arte e do artista responsável com a cultura brasileira, mas diante do fortalecimento do carreirismo de batuta que anda agora a fazer dos nossos curumins, cangalhas que os conduzam ao confortável e privilegiado mundo dos bem-nascidos no infinito berço esplêndido, tirando-lhes os dentes, ainda de leite, e implantando neles uma porcelana francesa para que os mesmos meninos sorriam em francês, como mstrado que o maior aporte foi para as orquestras que andam agora a metralhar a alma livre de crianças, escravizando-as numa absurda disciplina doutrinária, ampliando ainda mais essa lambança oitocentista de dar caráter oficial à música européia e marginalizar a música do seu próprio povo. O MinC precisa abandonar os números. Não adianta nos apresentar milhares de chicletes para enganar a nossa fome de uma política que, mesmo pequena, tenha riqueza proteica e que faça com que o artista brasileiro ganhe de fato musculatura. Temos que investigar por que a maior patrocinadora brasileira garante o aporte às belíssimas imagens, sem dúvida, dos músicos de jazz americano de terras yankies, e nós, que temos um paralelo na música instrumental, como é o caso do choro, vivemos como peixes pilotos comendo as sobras de um tubarão branco chamado “mundo erudito brasileiro” que oficialmente tranca as portas das, ainda casas grandes, teatros municipais e academias de arte, no exercício de tentar afinar os nossos lábios caboclos para pronunciar corretamente, fazendo biquinho, Debussy.

    A crítica ao Minc feita por mim aqui, é de quem vem carregando bandeiras junto com o que é hoje governo, por conquistas, não de poder, mas de sonhos para que, através da cultura, pudéssemos ter a plena liberdade de sermos brasileiros dentro do Brasil e sentirmos a cada respirada, um cheiro aliviado de soberania, tanto como indivíduo quanto como cidadão. Imagino eu que as críticas sejam um start para a reflexão e não simplesmente para provocar crises de poder.

  • Marcos, 28 de outubro de 2008 @ 18:09 Reply

    Pluralidade em ação… ainda nos custa o exercício da diferença, mas estamos melhorando. O MinC têm expressado sua disposição ao diálogo e isso é bom, mesmo que a motivação possa mesmo ser a necessidade estratégica do Ministro de construir base de sustentação política para sua permanência no cargo (segundo CeM). Aliás, isso é próprio do exercício do poder e o único antídoto é que a pluralidade da sociedade continue funcionando e promova alternâncias periódicas. E o CeM pode ter a orientação político-cultural que quiser, desde que tenha ética em demonstrar suas posições e abra espaço para o contraditório, o que me parece que faz.
    Mas o mérito da questão é o julgamento da política cultural realizada pelo MinC. E embora haja méritos em relação ao passado (em terra de cego…) não dá prá aceitar o Ministro falando que “vai debater com a sociedade a proposta de reforma da Lei Rouanet”: isso é subestimar a nossa inteligência, caramba. Seis anos de debates…. prá quê? Cria Câmara Setorial, implode Câmara Setorial, agora chama os participantes prá transformar em Colegiados de não sei quê, lá se vão quase 4 anos de discussão do Plano Nacional de Cultura, já percebemos no discurso o aviso de que a verba da cultura não vai aumentar (agora a razão é a crise mundial, well, well, Tio Sam, você nos paga!!!) e… vamos seguir discutindo… e assim seguimos assistindo às mesmas práticas políticas de sempre (antes cafonamente coronelistas e agora com verniz pós esquerdista) e a resultados muito aquém do que se deseja e espera do serviço público num país que paga MUITO IMPOSTO. É questão de serviço PÚBLICO, senhores.

  • Os editores, 28 de outubro de 2008 @ 18:25 Reply

    Marcos, você tocou no ponto-chave. A gestão da coisa-pública é mesmo difícil, entendemos. Sabemos que um ministro precisa se sustentar no poder, para isso precisa dialogar. Está certo, mas terá de ser transparente. Se for este o caso, ganhará crédito não só nosso, mas de toda a sociedade, pois estará jogando limpo. O primeiro passo é abrir as contas do FNC e do Mais Cultura. Não vejo motivo algum para não confiar no Ministério, desde que abra suas contas. Em breve prestarei conta deste processo. Aguardem! Abs, Leonardo

  • Carlos Henrique Machado, 28 de outubro de 2008 @ 19:57 Reply

    É mesmo Marcos, este é um caso típico em que ficamos entre a cruz e a caldeirinha. Se de um lado, rediscutir a Lei Rouanet como um casal de classe média vive discutindo a sua relação, é um atraso. Do outro, ficamos abestalhados com a declaração assim desprovida de qualquer sentido ético, num caprichoso cinismo do, ainda menino, produtor dizer no programa do Jô, que convidou Glória Menezes para a sua peça como isca para conseguir grandes patrocínios, tendo total êxito em sua confessada estratégia. Isso diante dos festejados sorrisos de Jô, que andou a fazer motins com suas meninas em nome da ética e dos bons costumes republicanos.

    O que não podemos é deixar que a hipocrisia tome conta do encaminhamento técnico de algo que pode produzir efeitos definitivos numa sociedade. Se bons, ótimo para todos, se ruins, péssimo para muitos e maravilhoso para pouquíssimos. A Lei Rouanet que andou a discutir a cultura sob a ótica do patrocínio entre o céu e a terra, que macula uns e desqualifica outros, nos fazendo crer que só o santo da nossa casa faz milagres históricos, abre demais leques que se distanciam efetivamente da estratégia de país. O que não podemos perder é o sentido da arte, o que não podemos fazer é que ela pareça diante dos olhos da sociedade como um adorno, um amuleto que constrói conceitos de griff no ideário de uma classe burguesa. A arte é de fato alguma coisa bem mais humana. Tem horas que a tecnicalidade toma ares excessivos nessa discussão , e um homem brasileiro passa a ter significado simplesmente de “o homem”, numa representação excessivamente distante do objeto concreto que transforma a arte num elemento de primeira necessidade no campo estratégico de um país.

    O caminho para a otimização de um conceito que traga à luz todo o sentido de uma arte, tem que ser respeitado, e é isso que agora o MinC deve ter como objetivo, botar a fila pra andar, se fazer presente, ter uma postura severa, fiscalizadora, não intervencionista e nem patrulhadora, mas molarizadora, para que a sociedade possa se expressar livremente de forma equânime. O que não se pode mais admitir é que, na busca por um agrado ao patrão, o marketeiro rasgue qualquer conceito ético e encontre o imediatismo do estrelato como produto de fácil deslumbramento para o patrão, mas de pouca eficácia como imagem institucional, porque continua a ter de fato a crença de que a sociedade é composta por uma legião de tolos, ou melhor, no mais puro conceito Gabeirista, uma sociedade de suburbanos que não tem o mesmo entendimento que seus aliados artistas, segundo ele, gente esclarecida, a fina flor do pensamento crítico que circula pelos mirantes da zona sul. Gabeira errou em subestimar a capacidade crítica da grande parcela de cariocas, por isso perdeu.

  • Piatã, 28 de outubro de 2008 @ 23:52 Reply

    Só quero dizer que adorei o comentário número 4: o paradoxo, a liberdade.
    Abs

  • Laercio, 29 de outubro de 2008 @ 0:00 Reply

    Continuem com o trabalho de voçês, é criterioso e sensato !!

    Inclusive , é mais um desabafo, li no sei em qual articulo, desses congressos que o Minc , organiza, que não se discute coisa alguma, não chega a lugar nenhum e fica na mesma.
    Pois bem, nessa segunda fui no seminario de direitos autorais, percebi na fraca mesa ( todos no achismo), em que os palestrantes , inclusive o ex ministro Gil, naquela superficialidade incrivel, ficam falando, falando, e não apresentam soluções práticas para a questão do direito autoral.
    Uma senhora reclamando da lei rouanet na cara do Gil , e ele fingindo que nem era com ele, enfim, um jogo de cena incrível , e mais uma vez perde-se tempo e dinheiro.
    E a conclusão minha do Minc é essa , como se desperdiça tempo , e solução que é bom nada!! E o que realmente construimos nesse ministério??
    Salve cultura e mercado !

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