“O valor de uma obra de arte cota-se pelo seu coeficiente de temperamento, cor e vida. Os três valores que lhe travam a unidade promanentes, um do homem, outro do meio, outro do momento”. (Monteiro Lobato).
Nenhum cidadão neste país foi mais prejudicado do que o artista verdadeiramente brasileiro nesses longos anos das gestões Welfort, Gil e agora Juca, este último ainda se vangloria de ser papel carbono de Gil. Pasmem!
O Ministério da Cultura do Brasil, na figura de seus representantes máximos, andou nesses últimos anos a redescobrir a falácia francesa em terras caboclas como Welfort ou, no caso de Gil, a retocar com as cores de um psicodelismo de auto-promoção o ovo de Colombo com os seus diversos discursos cristalizando o óbvio de que a cultura está em todas as atividades sociais de um país, porém se esqueceram da principal lição de casa, a de que no Brasil isso já havia sido discutido mesmo antes da Semana de 22. Naquele movimento liderado pela ampla visão cultural de Mário de Andrade que sabia que só a arte e o artista poderiam dar conta da fusão dessas culturas refletidas em suas sínteses na dinâmica do artista com a sociedade, num diálogo natural entre ele e seu meio.
Estamos, há pelo menos seis anos a repetir, a reler o texto de introdução do Ministério da Cultura, os acordes de tensão típicos do prenúncio de uma grandiosa obra estão se repetindo como uma marca da atual gestão, a de adjetivar com neologismos um pensamento da década de 20. O termo antropofagia andou livremente pelos discursos dos oradores do Ministério. Mas e a arte produzida na era Gil? A arte, além de ser o ponto fundamental, pode trazer a fotografia real do Brasil contemporâneo, um Brasil que resistiu à febre Falabélica e ao modernizante artificializado pelas lógicas do mercado e seu sedutor tilintar de moedas.
A Semana de Arte Moderna de 22 discutiu e chegou à conclusão de que, pelos evidentes traços da arte produzida pelo sentimento do artista brasileiro, mais do que o pensamento ou a conduta artística, essa revelação antropofágica desembocou na arte e no artista que estiveram, com todo o seu esplendor, diante da contemplação da sua criação e da polêmica tão produtiva para o país. Então, pergunto: Onde está a nossa política de arte que, naquele período foi alvo de toda a discussão que imortalizou nomes que hoje consideramos clássicos da arte brasileira? Será mesmo que não produzimos mais nada?
Ficaremos no dito pelo não dito, na limitação de um pensamento infértil típico das nossas academias de arte que se nutrem de doutrinas de mestres europeus e tão somente deles para satisfazer os seus egos? Sim, pois como bem disse Monteiro Lobato, nesta dinastia de salão Luiz XV somos uma mentira com o rabo de fora.
O Ministério da Cultura ficou a chocar os ovos do pleonasmo classista travestido de avanço com estímulo ao pensamento exclusivamente técnico. O que será apresentado à sociedade ao término desses oito anos? Uma fotografia real da arte contemporânea brasileira ou um calhamaço de infrutíferas atas de simpósios e reuniões estéreis? Este pensamento nada original sequer teve o cuidado de plagiar as ações daquele manifesto em que o objetivo alcançado era a elevação do homem brasileiro através da sua arte, a síntese do manancial de cultura em nossas terras naquele momento.
“Faz-se necessário urgentemente que a arte retome as suas fontes legítimas. Faz-se imprescindível que adquiramos uma perfeita consciência, direi mais, um perfeito comportamento artístico diante da vida, uma atitude estética disciplinada, livre, mas legítima, severa apesar de insubmissa, disciplinada de todo o ser, para que alcancemos realmente a arte. Só então o indivíduo retornará ao humano. Porque na arte verdadeira o humano é a fatalidade”. (Mário de Andrade).
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