Em épocas de outrora, o Festival de Jazz de Montreux, na linda cidadezinha à beira do Lago Lemán, guardava a sete chaves o cartaz do ano seguinte. Esse só era desvendado na coletiva de imprensa, onde a programação do Festival era anunciada, sempre no início de abril.
O Tempo passou, a equipe de organização foi mudando de cara e também de comportamento. Fora o próprio diretor Claude Nobs e o seu braço direito e não menos influente a alemã Michaela Maier, o Festival vai mudando de caras aos poucos.
Em 2008, a crise financeira atingiu o Banco UBS, principal patrocinador do evento. No ano seguinte, pela primeira vez em sua longa história, Montreux teve que economizar, restringir gastos e o fez da maneira mais equivocada
possível: cancelou as duas noites brasileiras do Festival nas salas principais.
Ao invés do Creme de la Creme da MPB, a organização pagou barato fazendo, no ano de 2009, da “Brazilian Night” um carnaval de rua com bandas de frevo de pernambuco e de artistas residentes na própria Suiça.
A perda por esse cancelamento errôneo é quase incomensurável, mas nós, jornalistas e amantes da música esperávamos que aquele 2009 fosse constatado pelos Makers como equívoco, um escorregão musical-cultural ingênuo e que não deixaria maiores sequelas na história do Festival e nas nossas memórias musicais.
Em 2010, na coletiva de imprensa realizada no fim da semana passada, veio a bomba que cientistas culturais chamariam de Worst Case: Montreux baniu completamente a programação de música brasileira. Nem no Auditório Stravinsky nem na sala Miles Davis Hall, essa inaugurada em 1993, entre outros pelos nossos “Paralamas do Sucesso“.
No contexto da coletiva e no resumo da mesma, postado online, nenhuma declaração sobre esse fato sem qualquer precedência em qualquer outro festival do mundo.
Montreux, que levou artistas brasileiros ao Olimpo (citar alguns dos seus nomes abranjeria todo o espaço desse Portal), nesse ano esquisito de 2010, quebra de vez com a história musical dos que estiveram nos palcos e dos que estiveram na platéia, isso no contexto musical-emocional.
No contexto de mercado, Marketing e prestígio, só pra citar algumas perdas. A questão do prestígio no currículo da carreira de artistas brasileiros, o dificultar de uma turnê pela Europa “pegando carona” em Montreux, a considerável redução de venda de discos, dos quais os mercados já estão mesmo sufocados e principalmente para a nova geração de músicos fecha-se uma porta essencial para fincar o pé em um mercado tão concorrido.
Essa geração de sedentos marqueteiros recém-saídos da Faculdade e temendo uma possível falta de legitimação, exageram no querer mostrar trabalho.
Montreux se tornou um mega-evento, onde a música foi degradada ao papel de coadjuvante. O ano passado já mostrou nitidamente que o valor dos ingressos é uma vertente indiscutível, que constata o elitizar extremo do Festival, engrossando o público de alvo de classe alta e Vip’s. Ver e ser visto é cada vez mais o Slogan não publicado nos caderninhos contendo a programação.
Claro que ainda existem workshops grátis com esse ou aquele expoente e/ou dinossauro da música, mas o equilíbrio entre um evento para quem tem pra pagar valores salgados pelo ingresso e o público que vem de todas as partes da Europa para curtir capoeira nas ruas e fazer parte de uma grande festa está longe de ser dotado de um saudável equilíbrio. A filosofia do Festival se perdeu num único adjetivo: exclusividade.
Até bem pouco tempo o sítio do Festival estava totalmente desatualizado. Sem cara e sem qualquer informação de contéudo fora umas dicas de DVD.
Os dois primeiros artistas a serem divulgados no início do ano foram o guitarrista Mark Knopfler, ex-Dire Straits e a cantora Sophia Hunger, que eu tive que goolgar para descobrir de quem se tratava. Mr. Knopfler estará em breve visitando a capital alemã, uma das razões o que faz desnecessária a custosa viagem até o país do chocolate.
Jeff Beck no auge da sua carreira, não aparece na lista dos artistas em Montreux. Também, Mr. Beck estará em Berlim em novembro próximo. Nem o maior dos coringas, Mr.B.B. King, estará presente nesse ano.
Vale a receita: The same procedure as every year: Herbie Hancock, o chorão Gary Moore e, talvez a mais elitizada das noites, antes da abertura do Festival, Mr. Phil Collins, amigo do peito de Claude Nobs. Para chegar à Montreux, Collins só precisa dar a volta no Lago Lemán. Que prático.
Esse ano é, com certeza, de luto para amantes de música brasileira espalhados pelo velho continente, mas é acima de tudo um dia que constata de vez a ignorância dos produtores daquele que foi o maior e melhor Festival de Música no continente europeu. Montreux.
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