Imagem: HenriqueCosta
Disfarçado como “Nova Lei Roaunet” chega em versão oficial o Procultura, projeto que revoga o maior instrumento de financiamento à cultura. Assinado pelo presidente, será entregue ao Congresso em breve. A surpresa que se confirmou, e sequer foi colocada em consulta pública, é a exclusão dos 100% para projetos de natureza cultural. A indústria e os projetos comerciais continuarão gozando do benefício, através do Ficart, o que contraria todo o discurso pela diversidade, utilizado em defesa da lei até agora.

O Projeto de Lei que substitui a Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991) entra na pauta do Congresso Nacional no retorno do recesso parlamentar, em fevereiro. Quarta-feira, 27 de janeiro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhou à Câmara dos Deputados o texto que, se aprovado, esvaziará o mecenato a projetos culturais.

O Ministério da Cultura distribuiu um release de imprensa “vendendo” a ideia de que a lei tornará a “cultura mais abrangente e dinâmica”. A peça de propaganda disfarçada de jornalismo diz ainda que os “objetivos centrais são ampliar os recursos da área e, ao mesmo tempo, diversificar os mecanismos de financiamento de forma a desenvolver uma verdadeira Economia da Cultura no Brasil.”

Talvez esteja se referindo ao fato de que o governo propõe cortar os 100% para projetos de cunho cultural, mantendo apenas para o Ficart – Fundo de Investimento em Cultura e Arte, que financiará projetos comerciais. Isso significa que, além do audiovisual, que já conta com uma lei que beneficia o investidor com 100% de desconto no Imposto de Renda, sem contar a possível participação nos lucros, os projetos culturais terão um novo concorrente, o show business.

O MinC apresenta a renovação do Fundo Nacional de Cultura (FNC) como grande novidade. O que o Procultura faz, no entanto, é dividir o que já existia em vários fundos setoriais. Entre outras coisas bizarras, cria o setor do “Acesso e Diversidade”. Ou seja, acesso será considerado setor econômico e não uma questão inerente à atividade cultural. O mesmo se aplica para o termo diversidade, que já foi utilizado para tudo no novo vocabulário do MinC.

Outro ponto alardeado pelo órgão é o “estabelecimento de critérios objetivos e transparentes para a avaliação das iniciativas que buscam recursos”. No entanto, o que o texto da lei traz é uma série de princípios, diretrizes e valores que qualquer projeto precisa ter. Os projetos serão avaliados por critérios como “expressão da diversidade cultural brasileira (vai saber o significado disso); contribuição à pesquisa e reflexão; e promoção da excelência e da qualidade”, entre outras pérolas.

A propaganda diz, ainda, que a nova lei transformará o Fundo Nacional de Cultura (FNC) “no mecanismo central de financiamento ao setor, criando formas mais modernas de fomento a projetos”. Como não há qualquer garantia de fontes de recurso para o Fundo, a tal centralidade só pode ser garantida com o esvaziamento do mecenato, já em pleno vapor.

“Garante-se, assim, que os recursos cheguem diretamente aos proponentes, sem intermediários e com maior participação da sociedade, por meio da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que dará origem a comissões setoriais”, promete o MinC. Mas quem garante?

O projeto obriga os estados a distribuir 50% dos recursos do Fundo aos municípios, mas desobriga a federação de distribuir qualquer percentual aos estados.

O que o release não conta é que o projeto, entre outras surpresas e pegadinhas que vamos revelando durante o processo de discussão do Procultura no Congresso, é que o Procultura institui, em seu artigo 66, o Programa Prêmio Teatro Brasileiro, para fomentar: I – núcleos artísticos teatrais com trabalho continuado; II – produção de espetáculos teatrais; e III – circulação de espetáculos ou atividades teatrais.

Imagino que seja uma espécie de Lei de Fomento ao Teatro, só que em âmbito nacional. Trata-se de uma bem sucedida experiência da cidade de São Paulo, replicada de forma estapafúrdia, sem contexto e regulamentação no Procultura, apenas para atender aos movimentos teatrais como contrapartida ao apoio concedido durante o período de consulta pública, exigindo o fim da Lei Rouanet.

Um bom gancho para todas as outras áreas que ficaram de fora do acordo brigarem por prêmios e concessões. É hora de fazer barulho!

Leia a íntegra do Projeto de Lei.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

13Comentários

  • Augusto Cesar dos Santos - Diretor do departamento de Cultura (Meruoca/Ceará), 29 de janeiro de 2010 @ 10:51 Reply

    Caro Leonardo, em primeiro lugar gostaria de dizer que acompanho diariamente suas matérias, bem como as demais do site. Este é um dos que acesso diariamente. Parabéns.
    Gostei muito desta matéria especificamente e resolvi (pela primeira vez) comentar.
    Fiquei realmente espantado com este artigo 66 citado na matéria. Gostaria muito de Saber que outras áreas da arte e cultura (todas, aliás) tem seu espaço garantido sem esta questão de descriminação, de favorecimento a uma área em detrimento da outra. Penso que o MinC jamais pode deixar que isto se concretize, pois outros setores não podem se sentir alheios aos impactos que estas mudanças irão acarretar. Com relação à pretensão do Ministério por meio do PROFIC, confesso que, como outros agentes e promotores culturais, dos setores público e privado do interior brasileiro, a proposta surge como uma centeia de esperança para a utilização do mecenato, uma vez que a atual lei realmente tem seu lado de exclusão (pode-se dizer que não é bem a lei que exclui, mas a própria distribuição heterogenia das empresas financiadoras da cultura), tornado quase impossível captar-se recurso via ROUANET para cidades como a minha, já que sabemos que não é só o incentivo fiscal que as empresas buscam, mas o retorno de mídia.
    Realmente espero que o Estado brasileiro não esteja equivocado e que possamos vislumbrar um novo tempo para a cultura brasileira. Tomara que deslizes como este do artigo 66 sejam logo revistos e corrigidos, para que nosso sonho não “morra na praia”.

  • Laercio, 29 de janeiro de 2010 @ 14:53 Reply

    Prezados,

    digamos que dei uma primeira lida na lei. Ia tecer meu comentário depois,mas já fica o saudável questionamento.

    Se a bandeira é a economia da cultura e etc,

    como pode o governo no artº14, IX, destacar as possibilidades de fomento para o setor audiovisual enquanto nas outras áreas uma citação abrangente.

    No que me parece, sem estudo, para o que devemos exigir de tal documento.

    Por exemplo, tivemos sancionada em 2008,a lei da educação musical(Lei 11.769/2008 ), o que esperamos, mecanismos que viablizem tal projeto.

    Mas no entanto, no mesmo artº14,III, notamos apenas uma citação abrangente de Fundo Setorial da Música.Ótimo? Não sabemos. Também terá fomento na exportação? Na formação da mão de obra?

    Enfim,
    Deveria ter essa especifiação em todas as áreas.

    Tenho a idéia que não entregaram o dever de casa completo.

    Fica aí apenas uma obs. inicial

  • Odilon Wagner, 29 de janeiro de 2010 @ 18:52 Reply

    Caro Leo
    Excelente artigo que peço permissão de replicar no site da APTI, porém creio ser necessário uma explicação mais clara sobre quais “movimentos teatrais serão benficiados, ou fizeram acordo com o Minc, como contrapartida para não brigarem mais pelo fim da Lei Rouanet”, conforme vc citou.
    Os produtores teatrais independentes são 100% a favor da Lei Rouanet e não fez acordo nenhum com o MInc. São 100% contra a nova lei proposta pelo Minc, porque irá burocratizar mais ainda o acesso aos benefícios e portanto excluindo os menos favorecidos, porque tem um caráter de dirigismo cultural monstruos, e porque nos recusamos a aceitar a REVOGAÇÃO da Lei Rouanet. Talvez muitos não saibam, mas se a Rouanet, que é uma lei de carater permanente, for revogada, a nova lei que a substituir terá que ser renovada a cada 5 anos, teremos que pedir a benção do poder público a cada 5 anos. Porque? Porque simplesmente não fazer uma reforma na Rouanet? Porque trocar o certo e permanente, pelo incerto e provisório?

    Quanto ao comentário acima, não se engane meu caro Augusto, pois o discurso do Minc é sempre eloquente e bonito, mas eles são absolutamente incompetentes na gestão. É só vc ver o que foi feito nos últimos 7 anos. Não há sequer um projeto, vitorioso, de alcance nacional. Eles estão dizendo que agora o Fundo Nacional vai resolver todos os nossos problemas, porque terá 800 milhões, mas no ano passado tiveram 500 milhões e nos ultimos 7 anos outros tantos milhões… para onde foi esse dinheiro? Teu estado o Ceará recebeu nesses ultimos 7 anos, 1% do Fundo Nacional da Cultura. O que nos garante que o Minc irá distribuir equilibradamente os recursos, com a nova lei? Na nova lei, a aprovação será feita pela cara do freguês, projeto a projeto, se formos bonzinhos seremos contemplados, se não… adivinha! Aos amigos do rei tudo aos inimigos a masmorra.

  • Fernando Caseiro, 31 de janeiro de 2010 @ 23:14 Reply

    Não sei se sou crítico demais, cético ou estou vendo até peixes dentro do Rio Tietê, mas, acho que politicas públicas não se faz com mentiras e estratégias sectárias e absolutas. O MinC desde o início de sua empreitada em acabar com incentivos fiscais a cultura não está discutindo com a sociedade com via de mão dupla, só existe eco nas palavras a favor do seu projeto equivocado. Mesmo as boas criticas que só podem ajudar no desenvolvimento da cultura brasileira são repelidas sem a minima análise.
    A forma com que o MinC vem colocado a sua “tese” me lembra a estratégia das mães e avós que colocavam uma gema de ovo no suco de laranja – pensando que enganavam por ser tudo amarelo -, se esquecendo que podiamos sentir o cheiro. Tudo isso que o MinC está fazendo cheira mal: cheira a estragia politica-eleitoral e cheira a ingodo na tentativa desesperada desse governo de não perder o poder. Infelizmente acho que o brasileiro vai ficar mais uma vez em silencio e o congresso vai colocar essa lei como mais uma simples barganha politica e o Brasil vai perder a chance de revolucionar a cultura brasileira. Até quando vamos ser manipulados?

  • Bel Fernandes, 1 de fevereiro de 2010 @ 10:59 Reply

    Está mais do que claro que o Projeto de Lei apresentado pelo MinC é um projeto pessoal.
    O Ministro não quer passar pelo Ministério e mostrar apenas as medidas de sua mediocridade.
    Mesmo que a produção cultural do país leve anos para se refazer do estrago que será causado pela nova lei, se aprovada, o Ministro deixará sua marca. Grosseira, fética, reacionária, stalinista mas criada à sua imagem.
    Cabe lembrar a este senhor, que muito antes dele se tornar vereador em Salvador e viver do erário público, produtores culturais bem intencionados brigavam por leis de incentivos, por um olhar mais generoso do poder central para esta profissão nobre.
    Nossos inimigos então eram os militares, os governos à direita, o Fernando Collor.
    Hoje, temos como detonador desta reforma dirigida, autoritária e fascista, nada mais que um Ministro de um governo democrático que se diz moderno e revolucionário.

  • Lucas, 2 de fevereiro de 2010 @ 15:29 Reply

    Fico assustado ao ver como as pessoas se equivocam ao defender a Rouanet. Bel Fernandes diz que haverá um estrago com o fim da Rouanet e que um dos inimigos da Cultura no passado foi Fernando Collor, exatamente o presidente que sancionou a tal lei.
    Tivemos quase 20 anos de cultura travestida de propaganda; mesmo que já estivesse “a pleno vapor”, esse modelo foi elaborado com a intenção de ser uma alavanca para futuros investimentos espontâneos das empresas que começariam a investir com dinheiro público, e não um modelo estrutural de política cultural. Como essas empresas parecem ter gostado e se acomodado na chance de se divulgar sem gastar o próprio dinheiro, é preciso uma sacudida do governo federal, que foi quem primeiro abriu as pernas (na época do Collor), no sentido de mostrar que já passou da hora da amostra gratis de marketing cultural acabar! Agora, com o sistema “consolidado” e várias atividades culturais já sedimentadas com o nome de inúmeras empresas, é muito provável que boa parte não queira largar o osso da vinculação cultural e continue bancando as mesmas atividades (principalmente as ditas concentradas no sudeste) tirando agora dinheiro do bolso.
    Acredito que este seja um momento crucial para os produtores culturais treinarem o poder de argumento de seus projetos com os “patrocinadores” dos últimos quase 20 anos. Todos ficaram muito mal acostumados (produtores e empresas), mas já deviam saber que em algum momento teriam que se mexer nesse sentido.

  • gil lopes, 2 de fevereiro de 2010 @ 17:45 Reply

    quais são as empresas privadas que estão se divulgando tanto sem gastar dinheiro? qual delas se locupletou com a rouanet a ponto de se identificar com a lei? há alguma? antes houvesse… os benefícios deveriam ser ampliados isso sim, as empresas deveriam ter mais incentivos para investir em Cultura, isso sim. quem ficou mal acostumado? até parece que há um mar, uma floresta, um ambiente cheio de cultura e investimento em cultura…o que há é um imenso vazio. quem manda aqui são os Metallicas da vida que chegam semanalmente no vôo cultural moderno, estamos em perdas e o ambiente cultural é sub desenvolvido, impera o anti cultural. Mais incentivos, muito mais…

  • Kluk Neto, 3 de fevereiro de 2010 @ 18:36 Reply

    Lucas, gostaria de debater alguns pontos com você.

    1)As pessoas que defendem a Lei Rouanet, nem sempre são motivadas pelos supostos “privilégios”, e frequentemente não concordam com a visão reducionista que muitos tem (e a pregação do Ministro reforçou) de que tudo o que é patrocinado pela Lei Rouanet é propaganda travestida de Cultura. Isso é uma opinião e não um fato.
    2)O texto atual da Lei Rouanet já permite que com boa administração, os mecanismos previstos de aprovação corrijam grande parte das distorções que são apontadas. Algumas delas como a concentração regional não irão mudar com uma canetada da Lei. Tanto é verdade que ao ser questionado por funcionários do Ministério Público quanto à alta concentração do Fundo Nacional da Cultura no Sudeste (cercade 40% dos recursos), o ministério respondeu que o fato se devia à carência de demanda ou projetos em outras regiões.Mesmo sendo menos concentrado do que o Mecenato o FNC também é concentrado.
    Creio que esvaziar o Mecenato não irá mudar instantâneamente a cara do Brasil pois essa concentração tem raízes em outras esferas mais complexas do que a “gana burguesa do sudeste” ou o marketing sem critérios apregoado pelo Ministro. O duro é que por algum tempo esse dircurso colou em grande parte da opinião pública.
    Que houve mau uso da Lei Rouanet houve. Mas houve mal uso por que houve má gestão e não por que a Lei Rouanet atual é tão ruim que precise ser mutilada em seus fundamentos como está querendo o atual Ministro.
    Pergunta ? Por que o Ministro não ousa mexer no audiovisual ? Por que Lula não aproveita pra tirar os 100% da Lei do Esporte de uma vez ? Por que marketing no esporte pode e na cultura é sacrilégio ?
    3)Outro grande equivoco da “tese” do Ministério é acreditar que ao tirar os 100% de abatimento estará estimulando as empresas a colocar mais dinheiro do próprio bolso. Primeiramente existe um grande investimento em cultura que não é feito com dinheiro público, mas o Minc não tem esses dados. Só apresenta à sociedade os dados do Mecenato. Reduzindo a análise à esse universo sai a afirmar que dos 100% investido em cultura no país 90% é feito com dinheiro público. Isso não é uma verdade já que o MinC só enxerga o próprio orçamento federal e não apresenta dados consistentes que englobem toda a economia da cultura.
    Também é equivocado acreditar que retirar os 100% de grande parte dos projetos e concentrar os recursos no FNC vai significar uma “oportunidade” de fazer com que os produtores treinem o seu poder de argumentaçaõ com os patrocinadores.
    Eles não precisam disso pois na medida em que o acesso aos 100% hoje é amplo e irrestrito, o fator preço é igual para todos e então o que os produtores mais aprenderam nesses quase 20 anos de Lei Rouanet é argumentar e vender projetos aos patrocinadores. O 100% era comoditie então o diferencial sempre foi outro.
    A competição continuará no mesmo nível, só que agora esses produtores além de competirem pela verba do Mecenato vão se adptar e entrar na disputa pelas verbas federais do FNC. E muitos irão tentar se adaptar à ideia de produto cultural merecedor dos 100% conforme a opinião dos pareceristas que estarão sentados com suas canetas nos escaninhos do poder central. Vão portanto concorrer com os produtores despreparados que o MinC não capacitou enquanto fazia campanha sem parar para esconder a sua falta de ação.
    4)Outra questão é que, fora meia dúzia de empresas que tem um grande poder financeiro e que provavelmente poderão manter o seu nível de investimento, uma faixa mediana enorme irá reduzir ou concentrar seus esforços de marketing no Audiovisual, Esporte Funcad e afins.
    Ao se retirar o 100% de renuncia para os projetos, o critério do marketing e do retorno de imagem será ainda mais reforçado e a vida para os produtores e artístas ficará ainda mais dura. O efeito será o contrário do que o Ministério poderia fazer que é facilitar a vida de produtores e artistas e não dificultá-la. Mas esse não é o Ministério da Cultura. É o Ministério do Cinema, o sub ministéiro dos Esportes o Ministério do Juca. Decidindo tudo sozinho com consulta pública fajuta, com um arcabouço ideológico rígido e inflexível.
    Logo ali em seguida vem o reverso da moeda e a produção cultural vai pagar um preço caro quando os efeitos colaterais começarem a surgir. O que hoje é chamado de privilégio dos que se articularam e aprenderam a trabalhar e produzir com o Mecenato vai se transmutar em privilégio dos que aprenderem os caminhos para trabalhar com o FNC.
    Vamos estar aqui para discutir tudo isso de novo daqui a um, dois, tres anos e então nosso aprendizado será maior. Quem sabe bebendo do amargo que acredito se prenucia, o setor cultural aprenda a ser mais unido como tantos outros setores econômicos bem articulados e deixe o atraso de querer viver do pior dinheiro público possível que é aquele que sai das mãos de uns poucos burocratas decisores, que querendo se contrapor aos milhares de decisores hoje nas empresas nos departamentos de marketing e de responsabilidade social corporativa se aventam como os novos, legítimos e únicos doutores da lei capazes de julgar o que é cultura e o que não, resolvendo com os seus critérios para onde vai o dinheiro.
    Dinheiro este aliás que ao contrario do que apregoam os estatistas, é um dinheiro que foi gerado originalmente no setor privado que se transforma depois em impostos a pagar e que até então sob um regime democratizante compartilhava com milhares de decisores o destino desses recursos. Mas o Juca tá querendo passar o rodo. Veremos para onde tudo isso vai.

  • Fernando Caseiro, 3 de fevereiro de 2010 @ 20:55 Reply

    Kluk Neto. Parabéns pela sua explanação. E um outro parabéns pela sua diplomacia em responder com elegancia a questionamentos com visões arcaicas que pararam quando o Trotski morreu.
    Minha principal conclusão é que o Ministro faltou a todas as aulas de matemática por não conseguir fazer contas tão simpeles como a que vocÊ expos.
    E agora quer tranformar a Lei Rouanet na nova versão do bolsa familia para o bolsa cultura e ampliar o assistencialismo sem próposito tranformador que impera nesse e em outros governos passados. Além de querer mudar a Lei Rouanet para a “Lei Juca” para se perpeturar politicamente e ser o primeiro caudilho da cultura.

  • Fernando Caseiro, 3 de fevereiro de 2010 @ 20:57 Reply

    Kluk Neto. Parabéns pela sua explanação. E um outro parabéns pela sua diplomacia em responder com elegancia a questionamentos com visões arcaicas que pararam quando o Trotski morreu.
    Minha principal conclusão é que o Ministro faltou a todas as aulas de matemática por não conseguir fazer contas tão simpeles como a que vocÊ expos.
    E agora quer tranformar a Lei Rouanet na nova versão do bolsa familia para o bolsa cultura e ampliar o assistencialismo sem próposito que impera nesse e em outros governos passados. Além de querer mudar a Lei Rouanet para a “Lei Juca” para se perpeturar politicamente e ser o primeiro caudilho da cultura.

  • Lucas, 23 de fevereiro de 2010 @ 14:20 Reply

    Kluk, vim escrever uma ideia muito simples, mas acabei pensando em outras coisas menos relevantes, então deixo o raciocínio principal aqui no começo para quem não quiser ler tudo: você diz que a lei não precisaria de mudanças se fosse melhor administrada, mas ela está praticamente completando 19 anos de existência sem que um suposto gestor magnífico conseguisse tocá-la. Se ela passou pelas mãos de 5 mandatos diferentes de governo (mesmo que na prática tenham sido 3) que não conseguiram solucionar suas distorções com sua administração, seria realmente justo da parte de um governo preocupado com esse assunto, levando em conta a configuração de cultura que o país se propõe a ter baseada na Constituição de 88, deixar que as próximas gestões se arrisquem a tentar a tal gestão mágica? As perspectivas para as próximas eleições são de pouca ou nenhuma mudança em relação à configuração que o poder federal teve nos últimos 15 anos (mesmo que os dois partidos dominantes tenham suas diferenças), então você propõe que o governo atual deixe nas mãos da sorte (ou da inércia) mais uma vez o futuro da política cultural brasileira? As gestões do MinC nos últimos 7 anos se mostraram preocupadas com uma diminuição da “política de balcão” e permissão de uma maior democratização da cultura, e lutar contra brechas que permitam a ação deliberada de empresas privadas com $$ público é uma contribuição fundamental para o futuro do país nessa área, independente de muitas empresas terem ou não se beneficiado com o “mecenato” (nome cuja aplicação pelo MinC nos últimos anos já pode gerar controvérsias). Muitas se beneficiaram sim, e delas fazem parte inclusive pelo menos uma parceira deste site, mas mesmo que nenhuma tivesse se beneficiado, o simples fato desse benefício ser permitido é uma ameaça permanente à democracia de um país.

    Você é oriundo do setor privado, exatamente da parte de responsabilidade social corporativa, correto? Isso explicaria sua visão de que, “ao contrário do que apregoam os estatistas”, os impostos teriam origem no setor privado e isso supostamente daria ao 2º setor legitimidade para trabalhar esse dinheiro. Esse argumento me lembra aquele texto que Luciano Huck, quando assaltado há poucos anos, publicou na Folha de SP, sugerindo que como paga seus impostos, exige que o governo não permita que seu Rolex seja roubado por marginais.

    É legítimo cada um defender o seu lado, porém seria mais legítimo todos os brasileiros, paralelo ou não a isso, defenderem o lado de todos os cidadãos, e o único setor capaz de representar-nos como um todo é o setor público. Não dá para enxergarmos as mudanças propostas pelo MinC a esta altura do campeonato como tentativas de Juca Ferreira de impor sua opinião e de seus pares sobre a opinião supostamente mais democrática de milhares de decisores nas empresas (que se fundamentam em que? Lucro ou benefício à sociedade? Ora, por favor!). Não queria entrar no mérito ideológico/pessoal, pois sequer lhe conheço, e só sei a seu respeito o que posso achar na internet, mas como você e parte dos outros comentaristas deste site optam por desmoralizar o atual ministro e, consequentemente, os últimos 7 anos de governo, que tanto fizeram para melhorar a democratização do setor cultural do país em nível estrutural, e não apenas gerencial, eu me sinto ofendido como parte da população a favor de maior igualdade de direitos, e não consigo deixar de apontar a ideologia na qual suas argumentações parecem estar profundamente embebidas. Não parece ser possível separar suas opiniões do fato de você ser funcionário da Abril, que há anos tem como carro-chefe uma revista (Veja) ligada a interesses elitistas (mesmo que até boa parte da elite pensante – inclusive alguns jornalistas da própria Veja que conheço pessoalmente – classifique tal veículo como um ultraje à inteligência humana) e contrária a atividades permissoras de uma maior participação da população historicamente excluída na sociedade. O que um país calcado em séculos de desigualdade precisa é dar maior oportunidade aos excluídos até agora, e não continuar glorificando aqueles e os filhos daqueles que nos útimos anos apregoaram que “esse Lula só tira dinheiro de nós, classe média, pra dar pros pobres!” (boa parte coincidentemente – oh! – leitores de Veja!).
    O governo tem que olhar para os produtores culturais de hoje sim, mas na eminência da mudança de gestão ele tem, principalmente, que zelar pela estrutura cultural como um todo, em projetos de longo prazo. E o que foi feito até agora por essa equipe do MinC (comparando com o que havia sido feito ao longo dos anos 90, por ex) mostra que ela está sim no caminho da democracia cultural.

  • Leonardo Brant, 24 de fevereiro de 2010 @ 8:00 Reply

    O problema Lucas é que, embora esteja realmente bem intencionado, o fato é que o atual governo até agora não compreendeu a dinâmica da Lei Rouanet e as grandes possibilidades que ela representa para a cultura brasileira.

    Trabalha a partir de seus defeitos e não de suas potencialidades. Isso não é burrice ou falta de compromisso público. Mas é inegável, no entanto, que eles estão tentando regular algo que não conhecem, não sabem operar. Nisso o Kluk tem razão.

    Lembro dos tempos que o Banco Central era dirigido por gente que não conhecia o mercado financeiro. Era engolido pelos banqueiros e a economia toda desandava. O próprio Lula percebeu isso de cara, seguindo os passos do FHC.

    Só que para gerir a Lei Rouanet é necessário alguém do mercado, não alguém contaminado com os supostos meandros obscuros do mercado cultural, mas alguém que saiba manipular o instrumento e extrair dele o melhor, o mais saudável para a economia da cultural e para o povo brasileiro.

    Não é tão difícil assim. Conheço muita gente com capacidade para fazer isso. O problema é que a boa gestão da Lei dá menos voto do que a campanha encampada pelo MinC.

  • gil lopes, 24 de fevereiro de 2010 @ 10:27 Reply

    Vamos por ai: em que medida a boa gestão da Lei dá menos votos pata a campanha que o MINC encampa?
    O que seria essa boa gestão que tira votos? Vc pode aprofundar isso Leo?

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