Foto: Chavai
É muito comum a confusão entre o mecenato e o financiamento da cultura no Brasil. Durante alguns anos orientei estágios de produção cultural, naturalmente com pessoas que estavam começando a ter sua primeira experiência profissional. Em geral a primeira demanda do estágio era saber como enquadrar  projetos, já que quando começaram a atuar, a Lei Rouanet já estava consolidada há muito tempo e também já tinha cumprido seu papel pós Collor.

Como produtor soube de inúmeras histórias de projetos encomendados por empresas para produtores. Os leitores também devem saber de outras  tantas. Acho que a confusão entre a Lei e o financiamento talvez tenha alguma razão aí, apesar de não ser justificada. Quando se dá um processo de encomenda de projetos, a Lei,  da forma como está hoje, implica na perda do que talvez seja pedra mais preciosa da gênese cultural: a imaginação. Ou, no fim das contas, da criatividade.

Penso que o primeiro problema a ser enfrentado, se quisermos pensar algumas décadas para frente é o papel da Universidade. A Universidade em que estudei, a USP, desenvolve pouquíssimas pesquisas sobre economia da cultura, mapeamentos de cadeias produtivas e novos  modelos de crédito cultural. O caso é pior no desenvolvimento de tecnologia. A não ser por iniciativas isoladas – só para dar um exemplo do fórum que estamos discutindo – as novas mídias são para Universidade uma abstração. Tenho também muita esperança que as Universidades privadas atuem no  fomento de atividades culturais, mas esse é um mundo que me parece mais distante.

Nesse contexto, não é possível esquecer de articular a escola pública, a cultura e o papel que a Universidade( e as demais instituições) tem no financiamento de pesquisas e no apoio aos professores, que nela atuam. Com um bom trabalho, nesse sentido, provavelmente teremos em alguns anos artistas e produtores, talvez até melhores que nós.
As empresas devem investir em cultura. Todos concordam com essa afirmação. Mas por que investem tão pouco?
Todos nós produtores devemos estimular as empresas que lançam Editais, participando como proponentes das iniciativas do gênero. Não tenho dúvida que para empresas o Edital é a melhor forma de financiar a cultura. A empresa terá , a cada Edital lançado, um numero grande de proponentes, o que já é uma forma de divulgação. Também, terá que realizar a análise de mérito e seleções através de bancas de análise transparentes. E as premiações dos contemplados ganharão um outro caráter, com muito mais representatividade e visibilidade.

Não podemos mais ver os Editais como um instrumento de financiamento. Nesse caso, o ovo e a galinha nascem juntos. O financiamento e a forma dele.

Na  minha perspectiva, o setor financeiro tem uma responsabilidade maior do que as empresas. Deve ser  o primeiro setor a dar patrocínio direto.  Também deve formular mecanismos de incentivo ao crédito e estimular as pequenas e novas empresas, já que normalmente cabe a elas  dar agilidade e inovação ao mercado cultural. Os Bancos não tem feito nada nesse sentido.

Da mesma forma,  como se pode ver em algumas iniciativas recentes, os Institutos dos Bancos têm o  papel de estimular o debate, a crítica e o jornalismo cultural.

Vou apenas citar, pela pressa, o Sistema S, as ONG´s, os Institutos , os mecenas, Meios de Comunicação e por aí vai.
Um outro setor fundamental, como existe em todas as áreas, a área  de cultura também tem sua tigrada. Essa área era representada por coronéis culturais mas agora passa por modificações.

No caso do poder público, nas esferas federal, estadual e municipal acho que o Estado deve sim regular  o mercado. Tenho receio,  no caso da cultura, de que nosso país seja transformado no país dos modelos híbridos entre mercado e Estado. Não há nenhum componente nacionalista nesse argumento. Como todos sabem, alguns dos problemas enfrentados pelo presidente americano são decorrentes desse tipo de processo.

Muitas das preocupações desse texto estão ligadas ao financiamento através da construção de um universo estético e simbólico. Tomara que daqui a algumas décadas, quando superarmos nossas terríveis desigualdades, não nos tornemos uma país como a Itália, que teve uma das tradições mais criativas e bonitas do ocidente pós guerra, e  que virou a Itália de hoje. Um país rico e vulgar. Evoé.
 
Fabio Maleronka Ferron
Tenta levar a vida com bom humor e já produziu dezenas de espetáculos.


1Comentário

  • Fique por dentro Cultura » Blog Archive » :: CULTURA E MERCADO :: Rede de Políticas Culturais » Blog Archive …, 28 de março de 2009 @ 8:41 Reply

    […] que estavam começando a ter sua primeira experiência profissional. … fique por dentro clique aqui. Fonte: […]

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