O Museu da Imagem e do Som (MIS-SP) será palco da Conferência Internacional “Moedas Criativas: Economia do Valor na Economia da Cultura“, de 29 de abril a 1º de maio de 2012. Voltamos ao assunto com o coordenador do evento Gilson Schwartz, que concedeu entrevista por e-mail ao Cultura e Mercado, buscando localizar o tema nas políticas de cultura e no mercado cultural.
Leonardo Brant – O projeto Moedas Criativas realizou, em 2011, uma primeira edição. O que mudou na edição de 2012?
Gilson Schwartz – O evento é uma oportunidade para discutir o projeto, a cada ano vem aumentando o número, a diversidade e a qualidade dos parceiros. Em 2012, o principal avanço é a parceria com grandes empresas, como UOL, que acreditam no potencial de expansão de um sistema de pagamentos voltado para educação e cultura. O BNDES permanece como patrocinador, mas agora temos também a parceria com a Pure Bros, uma das principais integradoras de serviços de valor adicionado no mercado de telefonia celular. Finalmente, neste ano a UNESCO inclui as moedas criativas como uma das 20 ideias que serão promovidas como inovações para o campo da sustentabilidade. Assim, na prática, vamos construindo a rede de parcerias que é a condição essencial para uma moeda nova ganhar legitimidade, eficácia e repercussão.
LB – O que são moedas criativas e qual sua relação com o mercado cultural?
GS – O projeto nasceu, em 2003, como inovação voltada a transformar telecentros em “bancos” locais, uma variedade de instituição comunitária na área que hoje se define como “economia criativa”. Ao longo desses dez anos, a prática e o debate em torno de moedas sociais ganharam fôlego, o Banco Central incorporou essa agenda em debates sobre microfinanças (em 2009 e 2010). Hoje há uma rede de bancos comunitários. A diferença com relação aos bancos comunitários é a proposta de usar “lastro” cultural, ou seja, fazer circular moedas que estimulam o desenvolvimento da economia criativa. É uma forma tecnologicamente avançada de “vale-cultura”.
LB – O projeto recebeu dois prêmios do Ministério da Cultura?Qual a relação atual dessa proposta com as agendas do MinC?
GS – O projeto “Moedas Criativas” recebeu dois prêmios do MinC: o “Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura” em 2009 e o “Cultura e Pensamento”, em 2010. Desde o início, já em 2003, a proposta foi pensada para criar uma alternativa de desenvolvimento local centrada em telecentros e, depois, pontos de cultura. Continuo acreditando que podemos criar uma plataforma tecnológica inovadora que aumente a sustentabilidade dos projetos culturais locais. É importante registrar que é uma temática nova, diferente da obsessão de outros tempos com software livre. Acho ocioso defender o software livre como um fim em si. Sem modelos de negócios, sem inovações na captação de recursos, um telecentro ou ponto de cultura pode ter 100% de softwares de código aberto instalados e fracassar como pólo de geração de emprego, renda e desenvolvimento local.
LB – Quais os objetivos do evento Moedas Criativas e os destaques da programação?
GS – O objetivo mais imediato é começar a formação da rede, ir além da pesquisa acadêmica, do debate teórico e político, mobilizando mais interessados em adesão a um novo modelo de captação e financiamento à produção e ao consumo de cultura e educação. Daí o destaque dado no evento à discussão de projetos e parcerias, com um “pitching” que vai contar com a presença de especialistas e pioneiros. Entre os convidados já confirmados, está o Marcelo Tas, por exemplo. A mobilização de várias áreas de tecnologia da USP e de empresas parceiras é também uma novidade neste ano. A proposta é ampliar o diálogo da academia tanto com as autoridades públicas quanto com empreendedores e investidores privados.
LB – O que o Brasil precisa fazer para avançar nessa área?
GS – O Brasil continua atrasado no investimento em infra-estrutura tecnológica e formação profissionalizante voltadas para a emancipação digital (ou seja, a inclusão digital que gera riqueza, identidade e conhecimento, não apenas oportunidade de consumo de máquinas ou serviços de massa). Os episódios se sucedem numa longuíssima novela em que ora se fala do FUST, ora da banda larga, outrora foi o GESAC, recentemente surgiu o UCA – para tudo se acabar na quarta-feira. Temos que superar a carnavalização da inclusão digital e crescer com políticas públicas e empreendedorismo digital. Convido todos os leitores a visitar o nosso blog e participar, inclusive pela internet, do ciclo que acontece entre 29 de abril e 1 de maio (www.iconomia.org/moedascriativas).