Ministro aponta “quebra de confiança” em sua relação com Frateschi, acusa o ex-presidente da Funarte de “paranóico” e diz que não há semelhança deste caso com a demissão de Antonio Grassi: “o conflito do Grassi era com o Gil, porque ele queria o lugar do Gil”. Para evitar futuras rivalidades com um possível próximo ocupante da cadeira, Juca decidiu dividir o poder na Funarte criando um colegiado.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, quer mudar a forma de gestão da Funarte (Fundação Nacional de Arte). “Não vai ser mais presidencialista, mas um colegiado”, afirmou. Haverá uma direção-executiva, mas as decisões serão tomadas pelo órgão interno, formado pelos diversos departamentos (dança, teatro, música, circo). Inicialmente, Ferreira formará um grupo de transição, encarregando um dos seus assessores para presidente interino nos próximos 20 dias. “Será alguém de perfil administrativo, experiente”, afirmou ao jornal Correio Braziliense.

Com a informação, o ministro buscou dar um ponto final na bolsa de apostas que já se formava com os prováveis escolhidos para a direção do órgão. Circulavam nomes como Orlando Senna (ex-secretário do Audiovisual e TV Brasil) e Sérgio Sá Leitão (ex-BNDES). O ministro contestou a notícia de que a saída de Celso Frateschi da presidência da Funarte, nesta semana, abriu a primeira crise de sua gestão no MinC. “Na verdade, foi o fim de uma crise que começou lá atrás. Era uma situação incontornável, ele não conseguiu se relacionar positivamente com os funcionários e ficou encurralado.”

Frateschi acusou Ferreira de não tê-lo apoiado, o que caracterizou quebra da relação de confiança. “Todos eram inimigos dele. Ele contra o mundo. Tinham me dito que o Frateschi era meio paranóico, mas eu não tinha noção”, reagiu o ministro. Ferreira também rebateu a acusação de que a demissão seria fruto de uma rivalidade política que ele teria tanto com Celso Frateschi quanto com Antonio Grassi, ex-presidente da instituição. “O conflito do Grassi era com o Gil, porque ele queria o lugar do Gil. Quanto ao Frateschi, não havia conflito comigo. Sou o ministro, se quisesse demiti-lo eu o teria demitido. Mas ele se adiantou e pediu para sair, tentando criar uma pecha de vítima. Nós nos vimos livres de um problema, essa é a verdade”.

Celso Frateschi indagou se os mecanismos que ele criou para garantir transparência em editais não teriam incomodado os servidores que se articularam por sua demissão. “O que podemos afirmar é que tais instrumentos são mais transparentes, com regras de barreiras e clara definição de critérios de seleção, contratação e acompanhamento. Será que estas características incomodam?”, sugeriu.

“Desde a minha posse, venho falando em revitalizar a Funarte. A instituição foi uma das mais importantes do Brasil. Na época da redemocratização, era a mais vital, a mais criativa, sinalizava um projeto contemporâneo de política culural. Depois do Collor, houve uma perda de densidade e de energia, e nós, que estamos fazendo a administração de revitalização de todo o sistema cultural, não tivemos até hoje a capacidade de recuperar a Funarte como ela precisa, não a instituição como as políticas de arte. Então, vou desenvolver um processo de diálogo com os artistas para saber quais são as reivindicações e inquietações deles”, diz o ministro na entrega da Ordem do Mérito Cultural semana passada no Rio de Janeiro.

Para o presidente interino da entidade, Zulu Araújo, a revitalização da Funarte é fundamental para dar continuidade aos trabalhos que o ministério vem realizando no sentido de democratizar a relação com a sociedade e de promover o diálogo com os segmentos do setor cultural.

“Eu acredito que a Funarte precisa, evidentemente, se reestruturar, se requalificar, mas, sobretudo, voltar a ter a importância e a função que teve no processo de incentivo e desenvolvimento da cultura ao longo da história brasileira. Ou seja, de ser um elemento criador, ousado e que funcione como uma espécie de estímulo para que as diversas linguagens artísticas se desenvolvam a contento do Brasil.”

*Com informações da Agência Brasil, jornais O Globo e Correio Braziliense.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

3Comentários

  • Lorena Campos, 14 de outubro de 2008 @ 10:11 Reply

    Mais uma prova de que o Ministro Vinagre já entrou em pânico. E não foi por causa da bolsa de valores. Juca sabe que seus dias no MinC estão acabando. Será o Ministro mais efêmero da história da cultura. A bolsa de apostas agora é saber quando sua saída acontecerá. Provavelmente será após o segundo turno das eleições, quando ficará mais claro ainda o caráter oposicionista de direita do partido de Juca, o PV, que já mandou avisar que volta para a oposição aberta de mãos dadas com o tucanato. Medíocre e inexpressivo, Juca não terá como se sustentar no governo sem o apoio do pequeno PV. Mas como Lula costuma demorar um pouco mais a fazer as reformas ministeriais, isso pode se arrastar até as eleições na Câmara e no Senado, em fevereiro de 2008. De qualquer forma, Lula já pensa em alguns nomes: Marta Suplicy, Marcos Vilaça e Paulo Betti, entre outros. Tanto o PMDB quanto o PT querem o Ministério. Ambos os partidos cresceram e almejam mais espaço no governo. Enquanto isso, Juca brinca de Ministro, fazendo politicagem e nomeando interinos e mais essa agora, um colegiado. Quer maior prova do medo e do clientelismo de Juca? Que vinagre!

  • rafael, 17 de outubro de 2008 @ 10:08 Reply

    Alguém sabe qual vai ser a política em relação aos editais lançados pela presidência anterior?

  • solange, 19 de outubro de 2008 @ 22:06 Reply

    É muito despeito e má fé o que se diz em relação ao Ministro Juca Ferreira.
    Fala-se mal, mas ninguém foi capaz de criar uma política pública de cultura como a que foi criada por Gilberto Gil e por ele. Alguns comentários maldosos, como os que jogam o PV contra o Governo Lula, tem origem bem determinada e conhecida, e quem conhece o PV sabe que, como o PT, o PMDB, e outros tantos partidos, tem correntes, e o sociólogo Juca Ferreira, que está além dessa disputa na qual querem inserí-lo na marra, lidera a mais progressista, à esquerda. Além disso, sua lealdade com o Governo Lula é maior do que a de muitos oportunistas pseudo-esquerdistas, que andam por aí, os “puxa-sacos” de última hora, sempre esperando uma “boquinha”.
    Infelizmente a felicidade de alguns é a torcida pelo fracasso de outros.
    A isso se chama “schadenfreude”, ou seja, alegria, prazer, satisfação com a desgraça alheia. Isso também é doença de frustrado, que não tem competencia para fazer e torce para que quem faz se estrepe.
    Dificil este País, hein! E pior são os imbecis seca-pimenteira que não tem coisa melhor para fazer.

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