Durante os próximos quatro meses – de 4 de agosto a 6 de dezembro -, a Fundação Getúlio Vargas promoverá, em São Paulo, o curso Economia Criativa e Cidades Criativas. Com coordenação da economista e urbanista Ana Carla Fonseca Reis e da administradora Inês Pereira, foi desenvolvido tendo em vista a gestão da criatividade para a geração de riquezas – econômicas, sociais, culturais -, e não a criação em si.

Serão 60 horas, divididas em 15 aulas por três módulos, que abordarão desde o entendimento da economia brasileira, das transformações econômicas mundiais e da contextualização do surgimento da economia criativa; passando por planejamento, sustentabilidade e empreendedorismo; até a gestão de diferentes espaços criativos.

Entre os professores – profissionais referenciais para cada aula – estão a própria Ana Carla (autoridade internacional em economia criativa e cidades criativas), Caio Luiz de Carvalho (ex-Ministro do Turismo, ex-Presidente da Embratur e Diretor Geral da Enter), Graça Cabral (co-criadora da São Paulo Fashion Week), Fernanda Feitosa (criadora da SP Arte), Emilano de Castro (Vice-Presidente da ABRAGAMES) e Antonio Carlos Sartini (Diretor do Museu da Língua Portuguesa e do Museu do Futebol).

As inscrições terminam no dia 23 de julho (clique aqui para saber como fazer a sua).

Em entrevista a Cultura e Mercado, Ana Carla Fonseca conta como surgiu o curso Economia Criativa e Cidades Criativas na FGV e qual a importância desse tipo de formação – mais prolongada – hoje em dia no Brasil.

Cultura e Mercado – Quando e como surgiu a ideia deste curso na Fundação Getúlio Vargas?
Ana Carla Fonseca –
Surgiu de uma convergência de fatores. Por um lado, de minha experiência acadêmica na própria FGV. Sou professora de um MBA na casa, que já está na quinta turma, no qual temos um módulo de 64 horas em economia da cultura e economia criativa, no qual também incluímos cidades criativas. O crescimento do interesse por esses temas tem sido crescente nos últimos anos. Por outro, de minha experiência com cursos introdutórios, oferecidos em instituições como o Cemec, em São Paulo, ou o Polo do Pensamento, no Rio. Estes têm sido excelentes portas de entrada e familizarização das pessoas com economia criativa e cidades criativas, de modo que cabia organizar um curso mais longo, que desse sequência aos debates gerados e ao aprofundamento do conceito. Por fim, surgiu também como uma resposta aos leitores dos meus livros ou participantes de minhas palestras, que me contatam muito frequentemente pedindo indicações de cursos mais extensos.

CeM – Da ideia à realização, quanto tempo demorou e como foi o processo de desenvolvimento do programa?
ACF – O primeiro esboço do desenho do curso veio à luz em 2010. De lá para cá, Inês Pereira (co-coordenadora do curso) e eu ajustamos a estrutura e o quadro de professores (imagine a complexidade de conciliar agendas de 12 profissionais referenciais!!).

CeM – O curso está estruturado em três módulos. Qual a importância de cada um deles para a formação de um profissional que trabalha ou quer trabalhar com economia criativa?
ACF – O primeiro deles, estruturante, é fundamental para que pessoas localizem as mudanças, o contexto e as tendências econômicas. Economia criativa é, como o próprio nome indica, um olhar econômico sobre a criatividade. Entender e aprofundar isso é fundamental para que aproveitemos todo o seu potencial.

O segundo, transversal, oferece um arsenal básico de ferramentas imprescindíveis para qualquer setor criativo, a exemplo de planejamento, sustentabilidade e empreendedorismo. São traços comuns a qualquer setor criativo.

O terceiro, setorial, mostrará as singularidades, o funcionamento e a vitalidade de alguns dos setores criativos mais pujantes e promissores do brasil, como moda, games, branding e arte contemporânea.

Cada aula, de qualquer dos módulos, é ministrada por um profissional profundamente envolvido, conhecedor e realizador em sua área. É um privilégio ter um time desse calibre dando base ao curso.

CeM – Muito se tem falado ultimamente sobre economia criativa e cidades criativas, vemos muitos debates e seminários a respeito do assunto. Qual a importância – tanto para o profissional quanto para o desenvolvimento desses temas no país – de buscar uma formação mais prolongada e específica sobre o tema?
ACF – Creio que vivemos um momento no qual, ao ganhar mais visibilidade, cresce a responsabilidade, tanto a de quem vem trabalhando com o tema há mais de uma década, quanto a de quem se envolve com ele agora. Ou de fato entendemos o que é economia criativa e qual é seu potencial para o desenvolvimento do país, ou esse termo será esvaziado antes de se consolidar. Quão mais os profissionais deste país estiverem interados acerca do que se trata, mais poderemos fazer com que ela seja de fato um eixo estratégico de desenvolvimento. Transformar criatividade em inovação e, portanto, em economia criativa, requer não apenas políticas públicas que a favoreçam, mas também que o setor empresarial perceba seu potencial em agregação de valor e que a sociedade civil participe. A economia será tão mais criativa quão mais criativas, capacitadas e empreendedoras as pessoas forem.

CeM – Esse tipo de formação já acontece com mais frequência – e retorno – fora do Brasil?
ACF – Sim, em especial na Austrália, no Reino Unido e, mais recentemente, na Argentina (Universidad Nacional de Córdoba) e na Espanha (Universidad Rey Juan Carlos).

CeM – O que você aponta como características diferencias desse curso?
ACF – Antes de mais nada, o fato de ser oferecido por uma faculdade de Administração. Não é um curso de criação, mas sim de gestão da criatividade para a geração de riquezas – econômicas, sociais, culturais. Além disso, ao ser oferecido pela Fundação Getúlio Vargas, cujo renome e cuja seriedade são reconhecidos internacionalmente, há um reconhecimento importante da seriedade do tema e do potencial de negócios que traz em seu bojo. Por fim, o quadro de professores é um microcosmo de como economia criativa é sólida, séria e possível. Reunimos 12 profissionais que são referências em suas áreas de atuação e que vêm fazendo economia criativa, na prática, há muitos anos.


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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