O que é afinal cultura digital? Uma filosofia, um partido político, uma religião? Um novo setor cultural, como o da música, cinema ou dança? Um modo de fazer arte e cultura, que abrange todas as áreas e expressões? Os sistemas e o desenvolvimento tecnológico que nos auxiliam a fazer cultura? Uma política de cultura, que perpassa ou sobrepõe todas as outras?

Em pleno processo de discussão e construção do Plano Nacional de Banda Larga, vale uma discussão profunda sobre os rumos dessa política, já que ele nos coloca o grande desafio de pensar nas oportunidades dessa nova realidade que se apresenta para o campo cultural.

O Plano não tem respostas para uma das suas perguntas fundamentais: onde estão os conteúdos capazes de alimentar a fantástica rede que se formará ligando municípios sem qualquer acesso e presença do Estado no campo cultural?

Quando penso em cultura digital, refiro-me, na maioria das vezes, às novas possibilidades e paradigmas de criação, produção e compartilhamento que as tecnologias de informação e comunicação nos permite. Ou seja, penso nas possibilidades de produção de conteúdo e não nas tecnologias em si.

Observo, no entanto, investimentos consideráveis do Estado serem canalizados todos para o desenvolvimento tecnológico e me pergunto qual seria o plano arquitetado pelo Estado brasileiro em relação à cultura digital? Suas metas e objetivos foram corretamente traçados? E foram minimamente alcançados?

Compra de equipamento, desenvolvimento de software livre, pesquisas, redes. Dinheiro público concedido a ONGs, universidades, centro de desenvolvimento tecnológicos com o objetivo de explorar as novas possibilidades de produção cultural no campo cibernético. O que de fato foi gerado com esse investimento? Que tipo de balanço e aprendizado podemos tirar?

O dilema que enfrentamos enquanto política pública de cultura é se o desenvolvimento tecnológico faz-se mais relevante do que a produção criativa que se faz a partir dele. Assim como não se faz cinema sem equipamentos e softwares, não se faz cultura digital sem plataformas de rede. Mas se o governo nunca se preocupou em financiar a indústria fornecedora do mercado de cinema, porque estaria preocupado em financiar a da “cultura digital”. Esse investimento é realmente público, ou foi canalizado para pessoas e empresas voltadas para projetos privados? E se os projetos são privados, o Estado poderia mapear seus ganhos com geração de empregos, recolhimentos de impostos?

Se a política para a cultura digital é uma interrogação, podemos dizer o mesmo do mercado? Onde ele está, como se comporta e se desenvolve a cadeia econômica?

Seria atribuição do Ministério da Cultura dar cobertura, financiamento e pesquisa ao software livre, por exemplo? Teríamos condições de patrocinar pesquisas universitárias sobre este assunto? Ou isso não seria atribuição dos ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação ou até mesmo das Comunicações? Estamos falando de instâncias muito mais abastadas do ponto de vista de estrutura, orçamento e institucionalidade.

Considerando o estado de abandono e a falta de investimento para setores como do teatro, dança, circo e outras formas menos “digitalizáveis” e menos aderentes ao novo e ao velho mercado, percebemos um claro problema de percepção de nossas prioridades, que precisam ser corrigidas.

Podemos ainda abordar cultura digital pelos modelos de negócios inovadores, gerando novas possibilidades de sustentabilidade aos artistas. Isso exigiria uma consciência sobre os rumos tomados pela indústria cultural dominante, com uma lógica cada vez mais digital, transmídia, convergente. Acredito que a discussão sobre direito autoral precisa realmente ser atualizada para compreender esse novo fenômeno, que fragiliza ainda mais os artistas.

Um outro tipo de sombreamento possível é o investimento em mídia (falo aqui das mídias livres, mas o mesmo princípio se aplica para a relação com as mídias impressas patrocinadas pelo MinC). Acredito que esse tipo de investimento seja atribuição da Secretaria da Comunicação (SECOM), ligado à Presidência da República e não ao Ministério da Cultura e muito sensível ao surgimento de novos meios de produção e mediação de conteúdos informativos. O tipo de controle social realizado naquela instância garante o espírito republicado e os princípios de impessoalidade e probidade que acompanham a relação entre mídia e governo.

Este artigo não visa diminuir a importância da cultura digital. Muito pelo contrário. Estamos falando de uma questão vital para as políticas culturais atuais e para todos os cidadãos. Precisamos acumular reflexão, criar bases sólidas para o desenvolvimento de políticas e ampliar a visão deste assunto para além de uma visão setorial, restrita aos grupos interessados no assunto e que avançaram muito na questão.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

20Comentários

  • Daniela Lima, 15 de maio de 2011 @ 18:25 Reply

    Olá Leonardo Brant,
    Sou jornalista, pesquisadora de políticas sustentáveis e gestão cultural. Acredito que a arte é um meio de conscientização e reeducação em massa, oposto do que as TV’s convencionais fazem. Essas, todos sabem, são responsáveis pelo excesso de lixo no mundo. Acredito também que a cultura deva ser a coluna vertebral de qualquer Estado, isso é urgente no mundo, só o governo não enxerga isso. Fazer valer a arte auto-sustentável através da Lei do Direito Autoral é algo estratégico para o governo e as redes sociais digitais é um portal para isso. E que vença o melhor.

  • Malu Aires, 15 de maio de 2011 @ 23:54 Reply

    Gostei da abordagem do tema nesta matéria, principalmente por ter discutido sobre ela com amigos artistas/criadores, nos últimos dias.
    Também tenho questionado o rumo dos investimentos à cultura digital e sua atuação no setor das artes.
    A cultura digital não seria o resultado da proliferação ilimitada de conteúdo cultural e artístico na rede? Não seria então, a cultura digital a plataforma? E não um gênero artístico como, infelizmente, vem cogitando uma comunidade pouco avançada em economia, tecnologia e mercado de produtos artísticos.
    A intermidia não é novidade da era software, meus amigos. Já é conceito estabelecido, ainda no século passado. O compartilhamento e as conexões artísticas já se fazem enquanto se propõem. Não há limite para o fazer artístico. Há regras éticas que sempre se comprometerão com leis que instruirão mercados.
    Há mais de 2 anos venho solicitando uma discussão sobre mercado digital e não há interesse pela comunidade digital em abordá-lo. As teias cibernéticas que se cruzam nesse espaço infindável de conexões e comunicabilidade são a nova era midiática. À partir do conceito tecnológico da web já se criou a nova midia que reuniria um acervo de sons, imagens, informações, jornalismo, entretenimento e compartilhamento de midias pessoais e produtos artísticos. Na web encontramos livrarias, locadoras de automóveis à locadoras de discos usados, lojas de roupas íntimas à discos de artistas desconhecidos da tv, reunimos tv e rádio numa unica tela. Esta é a maior de todas as mídias, a intermidia da midia.
    A rede se torna um ambiente de negócios e não se enganem. Ela transitará pelas mesmas regras de mercado que sustentam TV’s, rádios, jornais e revistas. Ou seja, pelos mesmos critérios da velha midia analógica.
    Aos artistas, chega uma nova plataforma de negócios. Não é só mais uma vitrine. É um ambiente onde os direitos autorais devem ser respeitados sem questionamentos. Não há que impedir que os artistas possam usufruir também deste mercado. Imaginem se em 1920, após a invenção da TV, o direito autoral fosse questionado e ignorado?
    Mas se não sabemos precisar o que é cultura digital, saberemos responder, agora, hoje, o que é cultura?
    Mas o que questiono com maior preocupação é se o MinC realmente é responsável por essa conta de investimentos em tecnologia, suporte e operação. Se como bem educacional, o Ministério da Educação deveria investir em treinamento e conteúdo também. Se é tecnologia, o Ministérios da Ciência e Tecnologia deveria arcar com o investimento. Se é comunicação, o Ministério de Comunicação seria responsável conjunto. Enquanto propagador de expressões artísticas e culturais, o MinC deveria fornecer, tão somente conteúdo e aplicar regras no que tange o respeito nas leis vigentes do país para a proteção dos direitos autorais, para não ser acusado, daqui há alguns poucos anos, de cúmplice na criação da maior rede de pirataria consentida, alimentada e regulada pelo estado.
    Minha impressão deste novo tempo:
    Boa parte desse investimento dirigido à comunidade digital hoje, tem se transformado em muita panfletagem política, disseminação de conteúdo e informação incorretos (quando não tendenciosos), além de arma de revolução anárquica. Infelizmente, estamos pagando brinquedos caros para crianças mimadas que não aceitam “não” como resposta. E, notoriamente, todo o ataque direcionado aos autores, ao MinC, ao ECAD, ao copyright, começam pela comunidade digital, ou melhor, por quem tem se beneficiado com programas do MinC para se aparelhar sem qualquer comprometimento com mercado, ética, valores, serviço sócio-cultural, cultura e arte, ou com o Estado. Já se passaram 8 anos e não vimos ainda a importância ou o serviço à que presta a comunidade digital para a cultura do nosso país.
    Há então, que se formar o profissional que recebe o benefício para que a comunidade digital saiba como se comportar e se comprometer com as regras e leis vigentes em nosso país e não o contrário.
    A comunidade digital não pode continuar a se comportar como dona da verdade, sem ética jornalística, sem responsabilidade criminal, detentora de maior rateio das verbas do MinC e representada pelo menor número de artistas do país e, ainda assim, com maior poder de manipulação política de oposição. Seria um fenômeno irreversível de manipulação de massas, muito além de Cidadão Kane.
    O MinC deve repensar seu apoio e o resultado responsável esperado dele. E intervir, quando o propósito do incentivo passa a ser ferramenta política (de esquerda ou direita, não nos interessa o lado)e não cultural.

  • Felipe Cabral, 16 de maio de 2011 @ 0:39 Reply

    Para entender a Cultura Digital é necessário visitar um referencial que vem sendo construído desde de meados do ano 2000 por movimentos independentes e por atores de diversas pontas ligados ao tema.

    Vejamos algumas coisas interessantes que podem enriquecer o debate.

    Como primeiro referencial, cito este vídeo:

    Existe uma Cultura Digital Brasileira?
    sss://www.youtube.com/watch?v=2tLXZJ6SC28

    Transcrevo:

    Claudio Prado diz: Ah, eu acho que tem uma cultura digital brasileira. Eu acho que tem sim e é o seguinte: O Brasil é um país colaborativo, é um país de colagens, que foi feito na base do Remix. O Brasil é o Remix total, é onde isso se dá de uma forma cultural extremamente interessante.

    Eu descobri isso quando tentei explicar algumas vezes o que é um multirão pros gringos. Pega um europeu e tenta explicar o que é um multirão. O cara não entende o que é um multirão. Ele não entende a possibilidade de que um grupo de pessoas vai construir a casa do outro no domingo na favela em troca de uma caipirinha, de uma cerveja, ou de uma feijoada.

    Ele passa o dia enchendo a laje do outro, trabalhando com o outro e isso é uma curtição. Essa ideia de curtir… que o multirão seja um elemento de criação e de alegria dentro de uma situação de favela onde a escasses é a essência.

    Essa transformação alquímica da escassez em alegria é a internet prenunciada, é a cultura da colaboração prenunciada. Por isso que, quando bateu aqui no Brasil as pontas desta realidade, dessa nova realidade colaborativa que estava começando a acontecer no mundo, ela encontra um terreno extremamente fértil no Brasil e isso explica o fenômeno das lanhouses, explica a demanda que já existe hoje por uma política pública de banda larga.

    A internet é tropicalista por essência, ela junta coisas que não eram “juntáveis” antes, que não se juntavam de forma alguma. A cultura brasielira é a convergência das culturas do mundo e, portanto, é “interneteira”.

  • Felipe Cabral, 16 de maio de 2011 @ 0:51 Reply

    Um outro referencial importante para entender a Cultura Digital e que acabou de sair do forno é o livro “Laboratórios do Pós-Digital”, do pesquisador e metarecicleiro, meu chará, Felipe Fonseca.

    Laboratórios do pós-digital
    sss://efeefe.no-ip.org/livro/laboratorios-pos-digital
    sss://culturadigital.br/movimento/2011/05/16/laboratorios-do-pos-digital

    Esse livro traz reflexões únicas para o entendimento mais universalizado do poder de transformação da Cultura Digital. Vale cada minuto de leitura.

    Para quem não conhece, há também o site e o livro “Cultura Digital br”. O site é atualmente uma plataforma que agrega muitas coisas: sss://culturadigital.br

    E o livro traz textos de riquissima qualidade, de diversos autores, sobre o tema Cultura Digital e suas interfaces.

    Pode ser baixado gratuitamente:
    sss://culturadigital.br/blog/2009/09/26/baixe-o-livro-culturadigital-br

    Vale lembrar que a Cultura Digital bebeu de muitas fontes, aguçou-se de muitas áreas do conhecimento e da experiência humana, e dentro destas estão a Cultura Livre e o Software Livre.

    Indico, portanto, o livro “Cultura Livre”, do Advogado e renomado professor Lawrence Lessig. Ele diz:

    “A divisão entre ‘o livre’ e ‘o controlado’ foi rompida. A Internet criou o cenário para tal rompimento. (…) A conseqüência é que cada vez mais substituímos uma cultura livre por uma cultura de permissão.”

    O Livro “Cultura Livre” pode ser baixado aqui:
    sss://wiki.nosdigitais.teia.org.br/images/b/b1/Culturalivre.pdf

    Um vídeo rápido que vale a pena ser visto é este:

    O que é Cultura Livre? – Leo Germani
    sss://www.youtube.com/watch?v=SYMEwv-Nvd8

    Transcrição:

    Vinheta de abertura do vídeo: Um homem tocando pandeiro, uma animação de um rolo de filme, um dançarino de hip-hop

    Início: imagens de pessoas tocando instrumentos, desenhando, etc…

    00:32 – Leo Germani:

    – Um circuito paralelo de produção e distribuição de cultura: de vídeo, de música, de texto de poesia, de artes gráficas.

    Você é músico? Será que você ainda precisa gravar um CD demo, ir para a capital, procurar uma gravadora, para tocar na rádio, para daí arrumar um contrato… Será que você precisa fazer tudo isso?

    Ou será que você consegue gravar com uma qualidade boa no fundo de quintal, na sua casa, em um computadorzinho, e gravar um CD e vender no show e publicar na internet para as pessoas conhecerem, te chamarem para tocar. Será que tem outros jeitos?

    Será que a Propriedade Intelectual, do jeito que está, faz sentido ainda?

    Ao mesmo temo quebrar o mito da máquina, mostrar que a máqwuina é só uma ferramenta que tem que ser usada e desmitificada…

    Apresentar o Software Livre, usar o software livre…

  • Felipe Cabral, 16 de maio de 2011 @ 1:01 Reply

    Recentemente, a revista ARede, mídia importante e de qualidade nas discussões sobre o Digital, lançou questões e obteve 17 respostas de diferentes gestores sobre as questões envolvendo Inclusão Digital e, de modo mais ampliado, uma Agenda Digital para o Brasil. Essa discussão também passa pela Cultura Digital.

    Três perguntas, 17 respostas:

    sss://culturadigital.br/movimento/2011/04/29/tres-perguntas-17-respostas

    sss://arede.inf.br/inclusao/component/content/article/178-debate/4117-tres-perguntas-17-respostas

  • Robson Santana, 16 de maio de 2011 @ 8:12 Reply

    Parabéns Brant, por mais este artigo. Ele confronta as bases da política de cultura digital do ex-ministro e mostra a necessidade de avançar para uma nova concepção, que aproxime a cultura digital dos artistas. E aponta, sem acusar ninguém, os desvios do financiamento à cultura no país, canalizando recursos para instâncias que deveriam apoiar a cultura e não ser sustentada por ela. Não podemos mais permitir que um grupo organizado de tecnocratas e nerds conduzam a política cultural do país em torno de uma agenda fabricada de e para eles próprios. Como diz Ana de Hollanda: “é hora de olhar para quem está criando”.

  • sonia ferraz, 16 de maio de 2011 @ 8:27 Reply

    O uso dos conteúdos no ambiente digital , a cultura digital terá que se adaptar e entender que qualquer reprodução necessita de autorização do criador.
    O suporte digital representa o novo, mas a cultura digital somente existe em função das criações, inclusive surgindo o novo fenômeno da meta autoria ( a máquina, criações e autoria ), o design digital.
    Outra questão como preservar a memória da cultura digital?
    O Direito de Autor e os licenciamentos no ambiente digital?
    Sonia Ferraz advogada propriedade intelectual soniamgferraz@hotmail.com

  • Skárnio, 16 de maio de 2011 @ 14:07 Reply

    O próprio Minc e a Comunidade da Cultura Digital Brasileira vem trabalhando com um conceito que me parece ter um mínimo de consenso entre todos: sss://culturadigital.br/o-programa/conceito-de-cultura-digital Acredito que nele estejam respondidos alguns questionamentos levantados no artigo do Brant. Além das leituras sugeridas anteriormente, sugiro também os seguintes conteúdos disponíveis na rede: sss://culturadigital.br/movimento/biblioteca/ sss://culturadigital.br/movimento/biblioteca/bibliografia-colaborativa-da-cultura-digital-brasileira/ sss://culturadigital.br/movimento/videos/ com o intuito de levar o debate um pouco mais adiante.

  • KIKA PEREIRA, 16 de maio de 2011 @ 18:46 Reply

    PARA TAMBÉM CITAR O SITE CULTURA DIGITAL:

    Conceito de Cultura Digital

    O conceito de cultura digital não está consolidado. Aproxima-se de outros como sociedade da informação, cibercultura, revolução digital, era digital. Cada um deles, utilizado por determinados autores, pensadores e ativistas, demarca esta época, quando as relações humanas são fortemente mediadas por tecnologias e comunicações digitais.

    A Wikipedia não registra a expressão nos idiomas inglês e espanhol. Em português, há um verbete que demarca o surgimento da cultura digital no pós-guerra, quando tem início o processo de digitalização, materializado no ambiente de processamento de dados que passa a ser dominado por grandes máquinas de computar.

    SINCERAMENTE ALGUMAS VEZES AS DEFINIÇÕES ME PARECEM DAR NUM MESMO LUGAR, DE QUE A CD, NÃO PASSA DE UMA PLATAFORMA. MAS CONSIDERO QUE É NO MÍNIMO INTERESSANTE A CRIAÇÃO DE REGRAS PARA USO DESTAS E DAI PRA FRENTE PENSAR NUMA FORMA MAIS CRIATIVA E INTEGRADA DO USO DOS MEIOS TECNOLÓGICOS, ONDE ARTISTAS E PRODUTORES POSSAM APROVEITÁ-LA DA MELHOR FORMA.

  • sebastian, 17 de maio de 2011 @ 11:28 Reply

    Leonardo:
    Gostaria de imprimir seu articulo e leva-o para um grupo de estudos que temos com 12 jovens indígenas. POSSO FAZER UM CTRL-V?

    Qual é a licença que tu USAS? O qual é a licença que esse articulo tem? posso imprimir? posso distribuir? Os alunos podem brincar de remixar o mesmo com os comentários deles e criar um texto novo para publicar no site da escola? tudo sem fins de lucro, tudo pela reflexao! tudo pela educação! Pode?
    Desde já agradecemos!

  • fabricio kc, 17 de maio de 2011 @ 20:15 Reply

    Bom, eu creio ter entendido a abordagem do Brant, mas só em parte.

    Não entendi, por exemplo:

    “Mas se o governo nunca se preocupou em financiar a indústria fornecedora do mercado de cinema, porque estaria preocupado em financiar a da “cultura digital”

    Está o Governo (atrevés do MinC?), afinal, “financiando a indústria da cultura digital?” ??

    O Brant pensa em Cultura Digital principalmente como “possibilidades de produção de conteúdo e não nas tecnologias em si”, embora, como ele aponta, o suporte tecnológico seja imprescindível.

    Porém, até onde sei, as políticas públicas culturais nos últimos anos – mesmo no âmbito da tecnologia – tem estimulado plataformas livres (não-proprietárias) e a formação de redes colaborativas. E paralelamente as políticas têm focado a difusão e sobretudo o acesso ao conteúdo produzido e difundido através de tecnologias digitais. Creio que é uma frente cultural importante, embora não deva ser resumida apenas nisso.

    Além do mais, é importante ter em mente:

    A esfera corporativa/industrial/comercial privada explora, com agilidade, as possibilidades que são continuamente abertas pela dinâmica dos ambientes digitais, preenchendo, muitas vezes, lacunas de amplo interesse público que não são percebidas com a mesma agilidade pelas instâncias públicas.

    É importante sim uma política cultural (aliada a outras frentes) voltada para a tecnologia de redes como plataforma de dinamicas (especialmente produção e difusão de conteúdos). Afinal, na esfera digital, é difícil dissociar (diferentemente da indústria do cinema) a tecnologia em si dos modos de conhecimento. Muitas vezs o suporte do conehcimento difundido é virtual…

  • Leonardo Brant, 18 de maio de 2011 @ 9:40 Reply

    Cabe-nos perguntar se o montante investido em desenvolvimento tecnológico e em plataformas gerou o efeito público desejado. Parece-me que o Facebook, o YouTube e o Iphone conseguem dar respostas mais rápidas e fáceis às buscas daquele tipo de investimento. E conseguem gerar modelos de negócios eficazes para os desenvolvedores de sistema criativos. Sinto o software livre perdido, como política de Estado, mas isso é uma impressão. Não conheço mesmo os avanços nessa área…

    A minha experiência pessoal com o software livre é muito parecida com a de muito adeptos ao movimento. Acho lindo como filosofia, mas não não pratico, simplesmente pq não consigo usar, não sou programador. Prefiro o Mac, que amplia minhas possibilidades como criador (hehe).

    Existe um mercado potente para desenvolvedores de conteúdos e aplicativos, que deve crescer muito no Brasil. A classe C em breve vai utilizar tablets e smartphones. Precisamos começar a pensar que tipo de conteúdo vamos disponibilizar para os novos consumidores de cultura digital. Tenho a impressão que o modelo Software Livre + Telecentros está ultrapassado e não condiz com a realidade do Brasil atual. Não precisa ser abandonado, mas complementado com outras ações. No campo da cultura, insisto na necessidade de investir nas novas linguagens e possibiidades de conteúdo.

  • Patricia, 18 de maio de 2011 @ 11:34 Reply

    Acredito que seja interessante incluir a questão dos analfabetos digitais, pois estes são excluídos de toda uma produção cultural que está cada vez mais atrelada à esfera digital.

  • JC Lobo, 19 de maio de 2011 @ 21:10 Reply

    Uma boa inciativa esse tópico. Muito rico o material indicado pelos que comentaram acima. É uma discussão contemporânea que está só no começo. Penso que, grosso modo, o debate se dá a partir de duas perspectivas distintas. Uma, mais instrumental, aborda a questão como sendo um novo ambiente criado para a produção cultural, com novos recursos tecnológicos para a criação e difusão de bens culturais. A outra, que não exclui a primeira, vai mais fundo: vê a inovação tecnológica instituindo novas práticas sociais, criando contradições com as práticas institucionalizadas e exigindo novas soluções, novos arranjos. É nessa que particularmente vejo as possibilidades mais instigantes.

  • gil lopes, 20 de maio de 2011 @ 11:36 Reply

    A nova cultura, termo para cunhar a circulação de produtos culturais nos novos meios via computadores, incidiu diretamente sobre a música brasileira em nosso contexto. Mais que qualquer outra manifestação a música brasileira foi afetada pela Nova Cultura. Sua reprodução, circulação e produção de riqueza foi alterada violentamente determinando perda de valor, presença, relevância e sobretudo desmobilizando as forcas produtivas relacionadas a seu conteúdo. Esse é um fato cultural de importância crucial na afirmação nacional, o mais importante da década, que entretanto não mereceu ainda, e já fazem 10 anos, nenhuma atenção especial. Com certeza a expressão cultural mais importante do país, a música brasileira conseguiu uma vitória interna e externa incomparável. Nosso modo de ser e sentir especial e diferenciado foi apreciado no mundo inteiro e se não teve comercialmente o valor competitivo à altura da música anglo americana isso se deveu exclusivamente a pujança econômica daquela música. Emocionalmente vencemos, aqui e no território alheio. Pois estamos sendo derrotados, estamos regredindo, estamos sem proposta de produção e circulação diante do avanço tecnológico. Escolhemos internamente o pior caminho, o da glamourização da baixaria pirata, recebemos piratas internacionais e festejamos, imaginamos que poderíamos inventar uma nova pólvora que redimiria todas as perdas, perdemos muito tempo. Demonizamos as grandes gravadoras e torcemos por sua debacle ao invés de aprofundar a aliança, que foi vantajosa para a música brasileira, e tentarmos buscar um caminho que garantisse o desenvolvimento e a geração de riquezas. Preferimos abrir mão do mercado que dominávamos com nosso conteúdo, o mercado interno nacional, entregando-o completamente vencidos simplesmente por não fazermos uma leitura pragmática do que se passa.
    Enfim, a indústria da música foi pioneira no âmbito cultural e abraçou a nova tecnologia no seu negócio pelo mundo. Hoje circula no mundo a sua música. A nossa música, a que fala a nossa língua está pelos cantos. É aí que temos que pensar, e é aí que temos que agir, e já é muito tarde…quais serão as repercussões desses anos de ausência de circulação do nosso conteúdo na música, qual é o legado que isso acarretará. Temos que avaliar isso, o tamanho da derrota.

  • jair Alves, 23 de maio de 2011 @ 11:25 Reply

    Gil Lopes e Leonardo Brant,

    Sem meias palavras:

    começando por Gil – considero seu comentário merecedor de um tópico. Discordo apenas com a importante maior dada a música no contexto da produção artística nacional. Se verdadeiro a afirmação que a música tem grande importancia comercial (nem sei se quis dizer exatamente isso) na produção brasileira, também verdadeiro que a literatura e a dramaturgia também tem valor potencial para tal. Tudo o que vivemos está muito longe do que é discutido, porisso mesmo tanto o texto de Leo, quanto o seu comentário podem ser considerados como o diferencial dos últimos tempos neste CM.

    Leonardo – seu tópico é mais fundamental para discussão do que a entrevista com Ana de Hollanda, para a qual depositou tanta expectativa. Seu tratamento assim meio cavalheiresco camufla a pirataria que está dominando as páginas dos fakes e dos “ativistas”. Vc está certo, afinal você tem que manter a linha – eu nem tanto.

    CONSIDERO a picaretagem maior essa invasão dos nerdes no campo da cultura. Esse legado a dupla Moreira & Ferreira vai ter que carregar pelo até o final dos tempos.

    Um dos gurus da campanha pirata há cerca de 17 anos se infiltrou na campanha eleitoral do hoje ex-deputado José Dirceu, como coordenador de programa de Política de Segurança para a candidatura. Não colou pois o candidato não decolou, Mario Covas foi eleito no primeiro Turno, se não estou enganado. Não adianta o mancebo tentar esconder essa pois documentos da plataforma eleitoral do Zé foi publicado e ele não pode negar. SE negar a coisa fica muito pior. Tudo isso, entre outras coisas, prova que o que está em jogo para essa rapaziada não é cultura e sim instrumento de Poder. Hoje sem dúvida, nenhuma pessoa com o mínimo de informação nega isso, o mundo virtual substituiu a força da tevê e de longe os jornais impressos. O seu poder de interferir, tumultuar, mobilizar por causas nobres ou não é imbatível. Portanto é hora sim Gil e Leonardo de promover discussões mais profundas, detalhadas como se vê no tópico acima e no comentário citado.

  • gil lopes, 23 de maio de 2011 @ 15:36 Reply

    Somos percebidos de forma original através da nossa música, mas mais que isso somos apreciados pela qualidade da música que produzimos. A beleza melódica e rítmica de nossa música se projetam de forma única nos sentidos humanos por toda parte. Não é um conseguimento fácil, sobretudo se considerarmos as capacidades de veiculação dessa música. Mas mesmo assim, chegamos. Esse conseguimento se deve sobretudo a pujança da nossa música internamente, no imenso mercado de música desenvolvido internamente. Apuramos a qualidade e avançamos. Nenhuma outra expressão de arte no Brasil tem a dimensão adquirida pela nossa música brasileira. Antes de mais nada, somos musicais poderíamos dizer assim, conseguimos uma síntese agregando poesia em língua portuguesa que agrada, mesmo quem não entende a língua.
    A reflexão agora é no sentido de que estamos diante de um momento crucial e que incide sobre exatamente o que somos, para nós e para o mundo. Precisamos de um Gabinete de Crise para tratar disso: da capacidade da produção, reprodução e circulação da nossa música. O avanço tecnológico produziu um ambiente que subverte nossa capacidade, mudou a maneira como as pessoas do mundo inteiro tem acesso a música com repercussões definitivas na maneira como as pessoas vivem com a música e mais, como vivem de música.
    Se a música brasileira é de fato a expressão cultural mais desenvolvida no Brasil, então é preciso um Gabinete de Crise para atuar nesse momento, uma Secretaria Especial constituída de poderes para analisar e responder ao que está se passando. Nosso Ministro Artista e Músico Gilberto Gil e seu sucessor não foram capazes de fazer perceber nem sensibilizar o país para a extrema perda cultural que estamos submetidos face ao momento, temos portanto que dar início a políticas culturais que redimam e retomem o caminho de geração de riquezas e desenvolvimento nesse contexto da Música Brasileira. Estamos desse jeito, é só olhar à volta e esse assunto ainda é Tabu entre nós.

  • gil lopes, 23 de maio de 2011 @ 16:03 Reply

    Jair, sem meias palavras, com sinceridade, potencial nem se discute, o Gigante tem o destino de se afirmar, é muita gente, muito espaço, muita geografia…são muitas emoções. Mas estamos longe na Literatura infelizmente e mais ainda na dramaturgia, precisamos descobrir a Língua para avançarmos por aí. Com a música é diferente, foi diferente e é exatamente através dela que alcançaremos tanto a Literatura quanto a dramaturgia…mas ainda estamos discutindo a norma, vidrados em Broadway e na TV regredimos sob a imposição da audiência, não há mais autor que resista, os roteiros dependem de mais que o talento de quem os cria. Mas potência é inegável.
    Na música somos mais que potentes, somos realidade, realização. Conquistamos e estamos agora entregando tudo…a riqueza está se esvaindo, precisamos de um Gabinete de Crise.

  • jair Alves, 23 de maio de 2011 @ 16:54 Reply

    Essa é uma conversa para mais de metro, acredite. Me envolvi na fusas e semifusas mesmo antes de saber como se escrevia c + a + s + a = a casa. Só muito tempo depois fui conhecer os segredos da dramaturgia, mas isso nem importa tanto aqui. O que nos vale é que tem gente que nem sabe que existem sustenidos e bemóis cantando de galo. Quando ao gabinete de crise – Que venha (ou que se vá). Algúem escreveu por ai que deveríamos ter uma secretaria de Musica e tanto gente gritou. Até que tem, mas sem poder.

    segue o andor parceiro, segue o andor.

  • gil lopes, 24 de maio de 2011 @ 11:59 Reply

    Este andor tem que parar! Parem o andor! Pára Tudo! Parece que a norma é “segue o andor”, “vamo que vamo”, “a gente temo que aproveitá”, ninguém discute é hora de seguir o andor…e a coisa tá indo…mas para onde? Temos que parar e perguntar, para onde isto está indo. No caso da Cultura por exemplo, o que se passa na Música Brasileira nos últimos 10 anos é altamente subversivo, totalmente contra os interesses nacionais, um atentado à Arte Brasileira…e nem um pio, é um assunto tabu, simplesmente ninguém diz nada…agora aparece essa onda toda sobre Direitos Autorais, mas que direitos? Nossa fábrica de produção de direitos está falida. Não circulamos mais, não tem direito algum. Basta observar a arrecadação por exemplo, mudou de mão, perdemos a hegemonia, a presença em casa, no nosso mercado. Estamos discutindo o que? CC…francamente…é muita mistificação. Por todo Brasil a malha de empregos relacionados a indústria da música brasileira se extinguiu, simplesmente acabou. E aí? Pára o bonde! Vamos estudar isso direito, quais as hipóteses objetivas? Como podemos enfrentar isso, como nos adaptarmos e rapidamente nos recolocarmos…é muito Paul pra pouco Tom e Vinicius. Escândalo!

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