O Ministério da Cultura em convênio com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ) vem desenvolvendo uma série de pesquisas na área de economia da cultura com o intuito de mensurar as atividades culturais através do uso de indicadores. Os indicadores podem ser considerados como um segundo momento na estruturação de dados, a partir da coleta e das estatísticas. O número ou dado coletado não tem qualquer utilidade caso não esteja adequado a um fim específico, vinculado na maior parte das vezes às política pública de cultura.
 A economia da cultura é uma área incipiente. Os estudos e pesquisas desenvolvidos apresentam metodologias diversas, tendo em ponto comum o uso de estatísticas. As pesquisas apresentam dados primários, secundários ou um misto dos dois. Muitas pesquisas de práticas culturais estão sendo elaboradas em diversos países, assim como pesquisas setoriais, pesquisas de impacto econômico, uso do tempo livre e estruturação de Conta- Satélite.

Diversos autores insistem veementemente sobre o caráter antropológico e simbólico da cultura. A posição  enfatiza as manifestações culturais , o patrimônio imaterial e as linguagens artísticas como elementos imensuráveis. De fato, não se pode definir um grau de utilidade, um valor econômico a tais objetos. A posição mais extremista transcende ainda mais a questão. Diversos autores, até mesmo grandes mestres e doutores terminam suas argumentações de modo suscinto: Cultura é Tudo !!!

Em verdade, cultura não é tudo.  Qualquer objeto de estudo, para que possa lograr eficiência e atitude pragmática com objetivos definidos precisa ser delimitado em seu escopo de atuação. Isto vale para todas as ciências, mesmo as mais humanistas. Ao enfatizarem esta frase metódica os autores pôem por “ água abaixo “ todo o estudo de metodologia científica, meio que propicia as inovações incrementais e radicais, resumindo, o progresso da ciência. A economia da cultura sem um campo teórico definido e com uma abordagem transdisciplinar  ( outro termo em moda para os grandes intelectuais da área ) acaba não tendo um conceito definido. O que seria esta ?

As estatísticas culturais, as pesquisas, os números, as mais diferentes abordagens entre cultura e economia, cultura e educação, cultura e meio ambiente ?

A base de sustentação para a economia da cultura deve e terá que ser a Economia. O nome é claro: Economia da cultura.

A teoria econômica aplicada nos permite obter diversas respostas sobre a escolha do consumidor, a psicologia do consumo cultural, as decisões da firma e dos mercados culturais. É possível ir muito além : decisões de investimentos públicos e privados; preços de bens culturais, objetos de arte e acervos; etc. As ferramentas econométricas, por mais criticadas que sejam ( principalmente por aqueles que não entendem absolutamente nada de estatística) nos permitem uma aproximação da realidade complexa tranversalizada nesta ordem e não em sentido inverso pelas demais disciplinas e questões. A criação de índices e indicadores tornam a cultura um veículo de maior credibilidade.

 É necessário que os idealistas entendam que o mundo é este, assim nos encontramos e assim alcançamos as metas definidas. Convém perguntar porque o uso de indicadores culturais se torna tão óbvio e indispensável por aqueles que trabalham diretamente na execução das políticas públicas de cultura e tão misterioso e sem nexo pelos demais. Convém perguntar também porque estes mesmos indicadores estão sendo cada vez mais demandados ao ministério que realizou estes estudos em parceria com o IBGE. Estão querendo cada vez mais números da cultura !!!  Parece até que são úteis, ou será um fenômeno do além…

Felipe de Oliveira Ribeiro – Economista do Ministério da Cultura


editor

3Comentários

  • João Pedro, 14 de outubro de 2008 @ 0:14 Reply

    Acho oportuno a utilização de indicadores para elaboração de planejamentos estratégicos voltados para uma área tão diversificada e fascinante como a cultura!

  • Pedro Dias, 14 de outubro de 2008 @ 1:43 Reply

    Interessante artigo. Tema pertinente e desenvolvido com clareza e objetividade. Como profissional da área de cinema, compartilho da opinião do autor no que diz respeito ao uso de indicadores culturais. Estes são importantes ferramentas de avaliação de tendências e possíveis cenários, o que permite, por exemplo, uma melhor aplicação de verbas destinadas à cultura. Claro, somente com o estudo detalhado sobre determinado assunto, torna-se possível a implementação de políticas mais justas e funcionais.

  • Julio Adiala, 14 de outubro de 2008 @ 8:45 Reply

    A questão dos indicadores culturais não se confunde com uma disciplina Economia da Cultura, embora essa última se valha daqueles primeiros. ANa verdade, visto o objeto que o autor propõe englobar, deveria chamar a disciplina de Economia do Mercado da Cultura e assim estabelecer uma definição de cultura restrita e orientada a um modelo econômico capitalista. Indo nessa direção será sem dúvida um instrumento valioso para definição de políticas econômicas, mas não necessariamente para a definição de políticas culturais. Seria necessário complementar tais indicadores estatísticos com estudos qualitativos para fundamentar as políticas culturais apartir de uma visão mais ampla do que aquela visão de mercado. Se com isso corremos o risco de incorrer no idealismo, sem isso e nos apegando apenas aos números (principalmente aqueles que entendem absolutamente tudo de estatística) estaremos confinados a uma visão positivista da realidade.

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