Foto de Watz sobre instalação de Yayoi Kusama
Uma das principais características da indústria cultural é ser utilizada como instrumento promocional a serviço do consumo, sobretudo via meios de comunicação de massa e mercado de entretenimento. Questões que, segundo Jameson, são reveladas quando os investidores se limitam a observar o fator econômico da cultura, gerando uma demanda cada vez maior por produção cultural, além de tornar praticamente indistinguível a identificação entre os produtos provenientes dessa indústria e a cultura propriamente dita.

Determinar as necessidades, os desejos e os interesses do consumo cultural para fortalecer e a construir uma identidade globalizada, é a característica do novo modelo econômico que vemos atuando no atual mercado cultural nacional.

Nesse sentido, a questão central da problemática enfrentada pelos indicadores culturais acerca da economia da cultura é o novo quadro cultural globalizado. Esse cenário se configura por uma nítida posição de mercado cultural de bens de consumo, no qual, segundo George Yúdice a “cultura já não é nacional, mas particular, desse ou daquele grupo local, dessa ou daquela etnia, de mulheres etc”.

Essa nova postura econômica do mercado é identificada pela cultura do consumo como pertencente a um momento no qual as identidades culturais nacionais perderam espaço frente às constantes criações de símbolos e marcas de identificação global.

A questão que devemos levantar aqui é se o Brasil deve ou não incentivar uma indústria cultural própria, capaz de promover seus referenciais simbólicos e identitários ao nível da cultura de massa.

A crise econômica recente será uma  oportunidade para revermos nossos sistemas de trocas e valores éticos, ou apenas uma brecha que se abre na economia mundial para novos agentes como Brasil, com economia estável, setor financeiro fortalecido e uma democracia em fase de consolidação?

* trecho do livro O Poder da Cultura.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

21Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 1 de abril de 2010 @ 18:57 Reply

    Não teremos, com o nunca tivemos uma indústria nacional de cultura, Leonardo, teremos um grande varejo, maior que este que será vigoroso se um pacto federativo for o grande objeto das políticas do próximo governo, pois a saúde desse grande varejo não será capaz de gerar individualmente uma grande receita com um grande nome. A roda viva ao contrário se dará. Se não houver investimento, como não haverá, num grande nome, as localidades, os núcleos assim como a Lapa no Rio, é que serão os grandes catalizadores dessa nova forma de economia que já está na praça. A grande questão estará no novo papel dos gestores públicos nas cidades e estados para uma estratégia personalizada em cada lugar.

    Isso não tem jeito de mudar na marra. Na Lapa todos os sons são ouvidos, mas por exigência do público e pela própria tradição que habita aquela aura, 80% daquelas casas mantêm um grande público, ergueram-se e continuam com o choro e o samba.

    É esta sensibilidade menos “universalista” e mais realista dos desejos da sociedade é que tem que ser detectada pelos gestores e compreender pra onde caminha a massa.

    Brasília, por exemplo, na época da indústria pesada, era tida como a capital do rock, com a queda da indústria, os investimentos na imagem do rock desapareceram e, a partir do Clube do Choro de Brasilia, ela é considerada hoje em todo o Brasil como a capital cultural do choro e, ainda neste mês será inaugurado e com projeto de Niemeyer, o Espaço Cultural do Choro. Mas é bom lembrar que isso é resultado de um trabalho árduo e guerreiro de anos e anos de muitas pessoas lideradas pelo Reco do Bandolim.

  • Leonardo Brant, 3 de abril de 2010 @ 9:58 Reply

    Indústria cultural o Brasil já teve. E ainda tem. Nos anos 40 tínhamos cinema, de empresas produtoras a salas de exibição. Só para se ter uma ideia dessa potência, vale relembrar que das 10 maiores bilheterias da história, 6 são dessa época. A TV brasileira, a indústria musical, fonográfica e do show business são indústrias potentes que necessitam de um olhar de indústria, justamente para não causar este estranhamento em relação às políticas culturais, que misturam o joio com o trigo. Abs, LB

  • Márcio Menezes, 3 de abril de 2010 @ 11:01 Reply

    Prezado Leonardo Brant

    Hoje temos o mercado da cultura estatal.

    Tudo que não gera grana, que não tem apoio da iniciativa privada, ou não nasce como investimento, como negocio, que tem por finalidade, gerar lucro, vai para esse esgoto dos recursos publicos.

    E para quê?

    Aonde esta circulando essa produção, que cresceu consideravelmente com essas politicas culturais de incentivo?

    Será que são produtos gerados, por produtores para serem usados como licença criative commons?

    Pela “cauda longa” do viés politico cultural?

    Ou para serem estocadas pelos artistas, em grandes guarda-roupas caseiros?

    O que acontece, é que esse modelo de negocios , gerado pela politica cultural do estado, está criando uma nova geração de clones: clones artisticos e em serie, para serem usados como bits, no uso das politicas culturais publicas.

    Estou errado?

    Me mostre outras novidades além mar!!!!!!

    Att

    Márcio Menezes
    Bumba Records

  • Leonardo Brant, 3 de abril de 2010 @ 19:08 Reply

    Marcio, o Estado é propulsor das indústrias culturais em qualquer lugar do mundo. Até o mesmo os países mais liberais, como Estados Unidos e Inglaterra, investiram pesadamente em suas indústrias nacionais. Isso é comum em mercados estratégicos, como o agronegócio no Brasil, por exemplo. Resta-nos saber se compreendemos esta indústria como estratégica. O texto traz esta indagação.

    A resposta não é simples. Depende muito do modelo de desenvolvimento que pretendemos adotar. Depende da macroeconomia, da política internacional. Depende do próprio entendimento que temos sobre a política cultural, sua dimensão social, mas também econômica.

    Abs, LB

  • Douglas dos Reis, 3 de abril de 2010 @ 21:50 Reply

    Leonardo,

    estou a pouco tempo no mercado cultural, tenho apenas 22, mas identifico que existe uma lacuna a ser preenchida neste campo. Muitos produtores, principalmente produtores regionais, não são gestores, não conseguem gerenciar suas produções de forma administrativa, para entender e impulsionar a indústria cultural. E mais, cobrar do Estado, para que Ele invista pesadamente em cultura. Não estou dizendo que devemos ter uma visão comercial da cultura, e nem puramente capitalista. Mas devemos ter estratégias de combate. Para podermos sobreviver ao onda Cirque du Soleil.

    Estou errado nesta minha visão?

    Abs,
    Douglas Reis

  • Marcio Menezes, 4 de abril de 2010 @ 6:30 Reply

    Prezado Brant

    Concordo claro, que o Estado tem prioridade de investimento em mercados estrategicos_como citado o agronegocio para ilustrar_, investindo em subsidios e colocando esse mercado em condições de crescer e competir com os mercados externos.

    Mas o mercado da música não seria a priori, um mercado estrategico aqui, como em varios paises?

    O mercado do entretenimento bem sabemos, movimenta grandes cifras pelo mundo.

    Porque nosso produto cultural, tido como referencia mundial, não gera essa demanda?

    Precisamos trata-lo também como negocio, não atraves de subsidios politicos e sim economicos.

    Vide revisão da lei autoral, ou exemplo do nosso ministro anterior da cultura a defender veemente a licença creative commons?

    E o autor, o direito autoral?

    Que mercado precisa ser refem de um estado provedor e utilitarista politicamente em seu proveito proprio, assim como fizeram as sociais democracias?

    Mas minha critica aqui, abrange não a função politica e economica, saudavel para o desenvolvimento social, com a adoção de subsidios e outros suportes necessarios de investimentos, mas sim, a utilização partidaria, e muito bem articulada, que nosso atual governo faz da politica cultural em proveito proprio.

    Pontos de cultura são exemplos maravilhosos de inclusão social e suporte a cultura aos menos favorecidos, o que a meu ver poderá criar uma nova economia cultural.

    Mas isso basta para se criar um mercado no futuro ou como disse anteriomente , é mais um jogo de permanencia no poder?

    Enquanto o dinheiro desce por esses ricos rincões, cheios de commodites culturais, mais votos e mais votos são colocados na balança politica.

    Márcio Menezes
    Bumba Records

  • Lilita, 4 de abril de 2010 @ 7:21 Reply

    Eu acho que cabe ao estado estimular e financiar a pesquisa e a experimentação, sempre. Sem visar lucros imediatos, sem atrelar a busca às demandas conjunturais do mercado. Seja no desenvolvimento de tecnologia própria, seja na produção cultural. Isso não significa fechar portas para o mercado externo, seria absurdo – como foi a lei de informática que nos atrasou por quase uma década. Projetos extremamente bem sucedidos como o da Tevê Cultura da Fundação Padre Anchieta infelizmente acabaram se adequando às Sagradas e Inevitáveis leis do mercado… É uma posição delicada, sob o risco de se confundir tudo até a inversão dos papéis, estado sustentando ou cobrindo buraco de atividades lucrativas. Quem gosta de protecionismo xenofóbico é milico e quem gosta de “livre empreendedorismo” é gringo – mas só enquanto estiverem enchendo os bolsos.
    Abç, Lilita

  • daniela labra, 4 de abril de 2010 @ 16:57 Reply

    Ao senhor Márcio: “esgoto do dinheiro público”?

    Tal tipo de afirmação só demonstra muita ignorância e preconceito.

    É estimulante o resultado alcançado com o subsídio estatal na circulação e difusão de produtos artísticos e culturais pelo Brasil, nos ultimos 7 anos. De fato, o problema da Lei Rouanet foi ter-se tornado um banco de negócios, e então quem não tem grandes nomes, especialmente de apelo popular, que se vire para conseguir algum recurso.

    No segmento das artes plásticas o incentivo estatal foi de grande importância no fomento de pequenas e médias exposições de arte, publicações, seminários e workshops pelo Brasil. O País é muito maior que a região Sul-Sudeste e é fascinante descobrir talentos e um público ávido por informaçao em capitais menos centrais.

  • alvaro santi, 5 de abril de 2010 @ 9:18 Reply

    “A questão que devemos levantar aqui é se o Brasil deve ou não incentivar uma indústria cultural própria, capaz de promover seus referenciais simbólicos e identitários ao nível da cultura de massa”. A resposta é SIM. A oportunidade está dada para o país se inserir como produtor neste mercado criativo, em que até agora se limitou basicamente a consumir/importar indiscriminadamente do luxo ao lixo.
    Por exemplo, o link abaixo, conta como a Suécia faz isso: sss://pitchfork.com/features/articles/7776-whats-the-matter-with-sweden
    Se é para o governo investir, da forma que for, que seja no produtor CULTURAL e nas indústrias CULTURAIS, e não distribuindo dinheiro para marketing de bancos, telefônicas e montadoras de automóveis. É o que costumam fazer os países civilizados.

  • alvaro santi, 5 de abril de 2010 @ 9:35 Reply

    Aliás, o assunto está mesmo em pauta no primeiro mundo.
    sss://www.eu2010.es/en/documentosynoticias/noticias/mar29_inauguracion_foro.html

  • luciano, 5 de abril de 2010 @ 23:06 Reply

    o q á arte? o q é cultura? o q é produto de consumo? o q é a mpb? chitãozinho e xororó? calipso? ivete sangalo? chico buarque? o q queremos exportar? música dos índios caigangues? tem lugar pra todo mundo?

  • luciano, 5 de abril de 2010 @ 23:17 Reply

    os estadunidenses exportam cinema, música, software, tecnologia. nós exportamos soja e boi. falta divulgação? ministério da cultura? temos tantas embaixadas. q custam uma fortuna. podiam ser postos da “cultura” brasileira. levar artistas, músicos, cineastas. mas temos material? ou essas leis acabaram c a “arte”? eu vejo o seguinte. o cara pega milhões pra fazer um filme, compra uma casa e faz um filme pra ninguém. já ta pago mesmo. não tem competição. precisa só achar um patrocinador. falta festival. de cinema, de música, de pintura… eu acho q as secretarias e o ministerio meio q pararam de trabalhar e agora so “analisam” editais. e tenho dito. e viva o Brasil. o país do futuro. já q o futuro nunca chega… paz e amor bicho.

  • Marcos Moraes, 7 de abril de 2010 @ 11:24 Reply

    Há industrias culturais e há um canibalismo selvagem por parte da industria norte americana. A cultura ainda funciona nos modelos pós colonialista, neo colonialista, imperialista, etc. Trata-se de MUITO dinheiro. O Brasil, em sua novíssima fase “emergente”, parece querer repetir os modelos exploratórios dos quais foi vítima, mas com jeitinho tropical “paz e amor”; isso é uma miopia absoluta sobre os processos que estão ocorrendo no mundo.

    Por outro lado, num mundo em que todos foram reduzidos ao binômio consumidores/eleitores, em que sua existência se resume em “consuma, vote”, a cultura precisa ser capaz de refletir e expressar outras visões, que resgatem o valor humano para além dessa equação perversa e redutora.

    No caso da Dança, que não tem um mercado consistente estabelecido, é preciso quantificar o investimento dos próprios artistas, pois há essa idéia de que se vive de editais ou apoios governamentais, mas na verdade a dança vive de uma rede de empreendedorismos individuais e coletivos que se apoia em editais e recursos públicos, mas que ee financiada principalmente pela iniciativa dos prórpios artistas, que doam trabalho, serviços, recursos materiais e imateriais para sustentar suas atividades. Não se deve temer a discussão sobre o apoio público, que tem sido sempre parcial, insuficiente, descontínuo, instável, ineficiente, etc. tanto em âmbito federal quanto estadual e municipal.

  • Daniel Lopes, 7 de abril de 2010 @ 15:20 Reply

    Olá Leoardo e todos os participantes do debate.

    Me identifico muito com o comentário do Douglas. Primeiro, por também ter 22 anos e estar começando agora a minha vida nesse tal mercado cultural e em segundo por concordar com essa, mencionada, falta de gestão da produção cultural.

    Vamos pegar, como exemplo, o tão falado “sistema canibal de produção artística dos estados unidos”.

    Segundo o California Arts Council* (sim, o estado aonde os artistas de hollywood criam a tal hegemonia cultural), durante o ano de 2004, as organizações artísticas SEM FINS LUCRATVOS foram responsáveis por injetar 5,4 bilhões de dólares na economia local, 160mil empregos e geraram U$ 300 milhões em impostos.

    Para resumir, o estudo mostra a verdadeira importância das artes, mesmo que sem fins lucrativos, na economia local.

    Infelizmente, no Brasil, nós vemos artes com gigantesco potencial econômico (se bem geridas), como o Cinema e os Musicais, recebendo o “atestado de incapacitado” – ou porque não, “atestado de inutilidade” – chamado Artigo 18 (100% de dedução). Será mesmo que o musical da Claudia Raia não consegue gerar 1 realzinho? Precisa ter todo o seu custo 5 milhões e 500 mil incentivado?

    Somente a título de curiosidade, a maior parte do orçamento do California Arts Council é gerado através da venda de uma placa de carro diferenciada. Quando alguém vai emplacar um carro, a pessoa tem a opção de ter uma placa “normal” ou pagar alguns dólares a mais e comprar uma placa com um desenho especial, ou seja, ninguém é obrigado a financiar uma loucura artística qualquer pelo “bem da humanidade”.

    * sss://www.cac.ca.gov/artsinfo/Economic%20Impact%20[1PgFold]%20BLUE.pdf

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 7 de abril de 2010 @ 17:22 Reply

    Abaixo, link de uma entrevista do jornalista Luis Nassif sobre as este tema.
    sss://revistaraiz.uol.com.br/politicas/luis-nassif.html

  • Ricardo Zauza, 8 de abril de 2010 @ 20:48 Reply

    Pessimismo à parte, acho que muitas pessoas trouxeram boas contribuições sobre essa discussão, mas mesmo assim, eu sempre acreditei que a estimulação do gosto pela arte, e nesse ponto concordo com o Carlos Henrique Machado, não nasce “À força” como os políticos acham que deve ser.

    Na minha visão o poder político, que como o próprio Brant diz é justamente quem teria a capacidade de alavancar a criação artística nacional, recorre a explicações mercadológicas numa tentativa de subir os índices de cultura para mostrar eficiência. Essa maneira, superficial e simples, porém, é equivocada, porque não influência de forma determinante num aumento gradativo dos números a longo prazo e também porque não induz o sujeito a apreciar a arte por si só, que é o pior de tudo.

    Para mim, portanto, a visão do que é arte nas diversas formas de expressão deveria ser discutida, primeiramente, na educação básica, sem unilateralidade, ao contrário do que eu considero que acontece nos pontos de cultura que praticamente são editados pelo governo brasileiro. A aprendizagem da visão crítica é uma das grandes chaves para um desenvolvimento geral da nação, não só porque faz com que o indivíduo crie entendimento para compreender a arte brasileira, mas também porque a visão crítica não é estanque e acaba sendo aplicada na política, na econômia, na socialização, e a tudo o que esta ao nosso redor.

    Arte não é só impulsão da ecnomia, não é só geração de emprego. As pessoas não entendem isso porque a arte por si só é um conceito subjetivo (na verdade nem é tanto assim). Mas a arte crítica também é progresso. Um exemplo disso foi o que a Bélgica fez para que a população começasse a usar bicicletas ao invés de carros. Usou uma propaganda de ídolos do povo usando bicicletas. Uma Pop Art. Hoje as bicicletas são usadas até mesmo sob nevasca ou chuva. A arte gera visão crítica que muda a cultura de um povo. E mudar não é algo ruim.

    As pessoas acham que a cultura brasileira é injustiçada porque ninguém quer ver. Gente, acordem! As pessoas tem motivo pra isso. Afirmo isso por vários motivos, no cinema porque vemos historias pessimas serem aprovadas em editais e daí em diante pode-se pensar em qualquer coisa, desde mal gosto dos “profissionais” até politicagem. Na música, já ouvi da boca de grandes produtores a necessidade de pagar “jabá” para o Faustão permitir a apresentação de determinados grupos e criar um falso apelo de fama para alguns “artistas”.

    As pessoas podem não ter conciência. Mas elas percebem que alguém canta mal independente da fama. O próprio video da Vanuza no youtube fez com que muitos comentários surgissem afirmando que ela nao cantava nada, independente do seu erro com a letra do hino nacional e independente de sua fama de outrora. E grande parte da cultura brasileira é isso: uma falsa cultura!

    Do contrario também é verdade, Renato Borghetti mal é conhecido no Brasil e é admirado no mundo todo como um dos melhores sanfoneiros do mundo. Ou seja, existem artistas brasileiros reconhecidos lá fora sim! Dançarinos, Estilistas, Gamers, Designers, Arquitetos, Esportistas, isso tudo é cultura e em tudo isso temos representantes no exterior. Mas vemos alguma verba do governo para descobrir novos talentos da moda? NADA! O prórpio mercado de jogos, que no mundo todo ja movimenta mais que o cinema, no Brasil, mal é evidenciado e mal incentivam pesquisadores a descobrir esse mercado. Ou seja, não é porque a música gaúcha fala de tradições que os gaúchos são obrigados a gostar dela. Muito pelo contrário, as letras machistas e grossas exige mudança! E essas mudanças sao protestadas pelo próprio “consumidor de arte”.

    As pessoas não gostam de muitas coisas da cultura brasileira porque elas não se identificam mais com isso. Daqui a pouco o Brasil não será mais o país do futebol, e daqui a algum tempo provavelmente nem o país do sexo. A cultura muda, e quando muda é um bom sinal. A nova geração já pensa assim. Eu mesmo vejo que na minha geração muitas pessoas já deixaram de ser religiosas, então mesmo que a umbanda seja a essência dos negros no Brasil, mesmo que o samba seja o ritmo criado no Brasil, mesmo que a capoeira fosse uma bricadeira dos escravos do Brasil, isso não obriga as pessoas a gostarem porque elas já conhecem outras coisas com o que se identificam. Elas não tiram mais proveitos desses ensinamentos. As pessoas tem sim o dever de conhecer a história, mas não são obrigadas a gostar. Até mesmo porque nota-se que grande parte da arte brasileira refere-se a coisas muito primitivas, muitas vezes já banalizadas, ninguém quer perder tempo revendo o que já foi visto. O mundo quer evoluir. É por isso que as pesquisas das tendências funcionam tão bem quando aplicados a novos produtos de massa. E é pelo mesmo motivo que os produtores brasileiros não tem visão do que criar, porque acham que o brasileiro é ainda o mesmo, mas não é.

    O vale cultura vai resolver tudo isso e fazer que o brasileiro procure mais a cultura brasileira. Vai nada. Seria uma evolução incrível, estonteante. Mas de que adianta um vale cultura se as pessoas irão gastar em artistas internacionais? Mais uma vez gente, a chave para um entendimento da cultura brasileira está na educação e não na obrigação. Eu mesmo vez ou outra assisto a um Mazzaropi, e olha que eu odiava (digo sempre de forma generalizada) cultura brasileira, e depois de estudar isso comecei a entender e apreciar muito mais.

    O que melhor que o empirismo para provar o que digo?
    Quem vai dizer que com os futuros cidadãos brasileiros sera diferente?

  • Douglas Reis, 9 de abril de 2010 @ 20:05 Reply

    Estou de pleno acordo com a opinião do Ricardo Zauza.

    Ao que me parece com este ponto de vista, estamos falando da qualidade dos produtos culturais que temos. Pagar “Jaba” para ir ao Faustão? Vale cultura complementará o ingresso para Beyoucé (não que não seja bom). Engraçado como acabamos voltando a discução para uma coisa primordial ao Brasil, e que talves resolva 100% dos problemas que existem EDUCAÇÃO DE BASE de qualidade. E é neste ponto que o governo tem que dar o seu primeiro passo e ir formando uma conciência cultural.

    É claro que não podemos esquecer quem já passou pela educação de base. Vou dar um exemplo pessoal. Quando estudava não tive nenhum interesse por literatura, pois era imposto, obrigado a ler para responder questões vazias numa prova. Educação artística era cópia de obras famosas das quais não me lembro os nomes. Resumindo, métodos errados para passar conhecimento. Que adolescente vai gostar de Macunaíma, quando ele representa uma prova, obrigação. É muito mais legal assistir ao Homem-aranha…

    Aprender a gostar de cultura desde cedo. Arrancar as crianças da cultura do Ben 10, Naruto e outros. E a classe de produtores inspirar-se no bom passado cultural que temos e criarmos novos ícones brasileiros como Visconde de Sabugosa, Emília, Tia Anastácia. Sempre repensando modos de fazer.

    Será que tudo o que temos é realmente cultura? Particularmente, não considero o funk que expõe sexualmente os jovens como cultura.

    A TV Cultura (uma salvação, e resistente, em todo o mercado televiso) produz programas ótimos, por exemplo, Tudo que é Sólido pode Derreter, um seriado jovem, desenvolvido na linguagem shakespeariana, em que a cada capítulo uma obra da literatura portuguesa é destrinchada através das aventuras da personagem. É claro que não é propriamente cultura brasileira, raiz. Mas exerce grande influência na literatura brasileira.

    Enfim, concluo que historicamente não formamos pessoas para pensar, e sim consumir o que dizem que é bom… Isso pode mudar, e com isso impulsionar o mercado cultural brasileiro?

    Espero que sim!!!

  • gil lopes, 11 de abril de 2010 @ 13:52 Reply

    quando a gente vê O Grito do pintor nórdico, qual é a sensação? Aquela expressão de horror, horrorizada, ou terror…angústia…não dá pra dizer: ih…gostei, meu deu prazer, que lindo…essas coisas…vc fica estatelado diante daquilo…e observa. O que está ali? Vc vê e imediatamente diz, sente, isso é Arte. Vc vê um céu, a luz de um céu que vc nunca viu, se vc não é nórdico. Vc vê uma expressão de pavor que vc intui…sua mente experimenta o pavor por alguns milésimos de segundos, vc é companheiro daquela figura, ela transfere a vc uma condição humana que vc apreende no ato. Vc vê, e vc viu a Arte, aquilo é Arte. Gostar ou não gostar vem depois, é outra sensação, está conectada com outras coisas. Vc vê e vc é nórdico naquele momento. E não precisa ser educado pra perceber isso tudo, a coisa está ali na sua frente e pronto.
    E assim é com várias manifestações artísticas. O filme obra prima Anticristo que recentemente andou por aqui, foi visto por muito pouca gente. Tinham 2 na sessão que eu fui. Li hoje que Babenco foi vê-lo 3 vezes, regozijei-me…ehehe. Porque Lars Von Tries deve filmar? Babenco diz que não consegue ser atendido na Petrobrás, lhe mandam entrar no edital…tem alguma coisa fora da Ordem nisso. É preciso mais dirigismo mesmo, mais dirigismo na cultura brasileira.

  • gil lopes, 11 de abril de 2010 @ 14:23 Reply

    Imagine a experiência então diante do Quadrado Negro de Malevitch…um quadro todo negro…e mais nada… O que ele quis dizer com aquilo? Dá pra sair gostando? Talvez seja o momento da pororoca nas Artes Visuais, o quadro mais importante, o rompimento de uma maneira de tudo…uma revolução… Qual é a sensação? Ou por outra, ao invés de procurar retirar alguma coisa dali pra si, como se relacionar com a Obra?
    Em resumo, que valor deve ter uma Obra pra fazer vc gostar dela?

  • Mauro, 10 de novembro de 2010 @ 19:23 Reply

    Bem, será que não estamos esquecendo dos conceitos de indústria cultural?
    Cultura e mercado podem caminhar lado a lado, desde que haja uma ação do Estado no sentido de estabelecer os parâmetros cabíveis.
    Pô, ese papo de liberqalismo econômico está esgotado(vamos acordar). Chega de discurso de miltonfriedman)
    Em se tratando de Brasil: onde fica o repente, a literatura de cordel?
    Cara, e sala de aula, utilizamos duiversos recursos. Acho que a galera está seguindo odemias os passos da mídia gorda e fanfarrona(sem compromisso com as camadas populares).
    Funk não é cultura? Por quê? Os fanzines do hip hop paulista são o quê? Sem xenofobia, mas holiúde também tem um monte de porcarias.

  • Rita Borges, 4 de julho de 2011 @ 19:49 Reply

    Acho que não devemos misturar as coisas.
    Uma coisa é Arte. Outra coisa é mercado de Arte
    Economia Criativa e Indústria Cultural são “mercados de arte”, onde um produto é gerido por um empreendedor, tem que dar lucro e ser auto- sustentável, e fazer seu criador sobreviver dele como qualquer produto economico e de consumo.
    Isso é mais facil de ser ensinado, ser aprendido e ser desenvolvido programas de treinamento do que fazer arte e cultura.
    Arte e Cultura não são negócio. São registros da história de uma civilização e uma sociedade. É a expressão subjetiva de um sentimento individual ou grupal registrado sobre um suporte concreto visual ou sonoro, de um momento que um ser ou a sociedade sofreu fortes mudanças geradas por varios tipos de correntes,tanto políticas,como economicas,sociais,místicas,e agora também,tecnológicas,ambientais,científicas e intuítivas.
    Isso é impossível ser concreto,ser objeto de consumo,ser negócio.Isso é o espelho do ser Humano,e da sua essência.
    Acho sim que devemos desenvolver um mercado de arte. Os artístas precisam sobreviver de seu trabalho.Eles precisam aprender a vender seu produto e nós gestores institucionais públicos precisamos encontrar um método de ensinar isso para eles.
    Mas eles precisam apreender também a diferença do que é arte e terapia ocupacional. De desenvolver arte paralelamente a um mercado de arte.

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