Foto: Joana Joana
O meio musical brasileiro vive um momento importante em sua história. Se economicamente o segmento ainda sente os reflexos da crise econômica mundial, com a escassez e o cancelamento de shows internacionais, entidades de classe do setor tentam viabilizar uma série de mudanças para que todos os trabalhadores ligados à música no país possam desempenhar suas funções de forma legal e, acima de tudo, com dignidade.

Ainda que os artistas não vendam mais CDs como antes e que o valor de ingressos para espetáculos artísticos dificulte o acesso das classes mais pobres a esses shows, a música brasileira mantém importante papel na economia nacional. Dados não oficiais estimam que o segmento musical é responsável por 6% do PIB brasileiro.

Mas, incrivelmente, ainda não existe um mecanismo que possa medir de forma concreta esse valor. Com o intuito de traçar um mapa claro e objetivo desse mercado, associações têm debatido e buscado conseguir, junto às autoridades, mudanças que tornem possível regulamentar os profissionais da área.

Roadies, músicos de apoio, técnicos de som… São várias as profissões que ainda não contam com algum tipo de registro oficial, situação que merece uma grande reflexão por parte dos nossos legisladores. A geração de empregos é uma das bases para uma economia forte, e o meio musical, que já possibilita um imenso número de vagas, poderia oferecer muito mais.

Acontece que os empresários do setor acabam vítimas do próprio sistema. Precisam de mão de obra, mas se deparam com a falta da regulamentação para certas funções.

Por tudo isso, profissionais do ramo tem realizado uma série de ações como a Re-cultura (união de produtores e trabalhadores do segmento cultural que buscam reformas fiscal, tributária e trabalhista e a construção de um marco regulatório para a atividade produtiva na cultura brasileira); Pró-Conferência Nacional da Música; o Grupo de Apoio Parlamentar (GAP); a busca pela aprovação da PEC da música (que livra de impostos os fonogramas e seus suportes, sejam eles físicos ou digitais, de obras e/ou artistas nacionais); mudanças no Simples (Lei Complementar n 128, que aumentou a carga tributária das empresas abertas por profissionais ligados ao setor musical); além da sugestão da criação de um Agencia Nacional da Música, aos moldes da ANCINE (Agência Nacional de Cinema).

Assim, a Funarte e as principais entidades do meio decidiram organizar todas essas iniciativas num programa chamado Rede Música Brasil, que visa, à médio prazo, contemplar todas as ações da Funarte e do Ministério da Cultura relacionadas à música.

Num setor extremamente competitivo, mais do que nunca foi preciso unir forças, pois somente assim será possível transformar a música brasileira.

Alcançamos em primeira instância a aprovação da PEC. Foi a primeira de muitas vitórias. O clichê “antes tarde do que nunca” encaixa-se perfeitamente ao momento pelo qual passamos. Afinal, somos reconhecidos no mundo inteiro como um polo musical de qualidade. Nossa indústria fonográfica foi das poucas no mundo inteiro que ousou se comportar praticamente de forma independente à indústria americana. Conseguimos entrar na rota dos principais espetáculos internacionais.  E não podemos, de uma hora para a outra, deixar escapar todas essas conquistas pelas nossas mãos.  Somos os mestres do improviso, mas agora é preciso colocar essa criatividade em prática de forma objetiva e em prol de um mesmo pensamento.


Empresário artístico há 20 anos. Atualmente é presidente da Associação Brasileira dos Empresários Artísticos (Abeart) e consultor da área de entretenimento do Grupo Bandeirantes.

10Comentários

  • André HP, 22 de setembro de 2009 @ 17:43 Reply

    Senti, no texto, a falta de um teor mais voltado aos artistas independentes. De qualquer forma, concordo que é uma fase em que regulamentar é o primeiro de muitos, e extensos, passos.

    Abraço!

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 26 de setembro de 2009 @ 14:31 Reply

    Sigo no mesmo pesamento do André HP.

  • Renio Quintas, 27 de setembro de 2009 @ 20:43 Reply

    Cacá esteve conosco no porão do rock e só se equivoca quando inclui os músicos de apoio nas preciosas profissões que compõem o rico e diverso painel da cadeia produtiv da economia da Música, que não têm registro oficial. Nós Músicos temos sim e é a lei 3857/60 que criou a famigerada Ordem dos Músicos do Brasil que no entendimento que se torna mais unânime é uma entidade que deve ser saneada e oxigenada mas nunca extinta! Não existe mais esse conceito de músico independente, existem músicos auto-produtores esse deve ser o novo conceito, o novo paradigma para os Músicos Brasileiros, que, dentro dessa fantástica ferramenta institucional em parceria com a Funarte, representados pelo Fórum Nacional dos Músicos, se aliam a todos os setores para juntos buscarmos um novo modelo de negócio, sem esquecer o nosso, fazer ARTE assim, em Maíuscula! Abração. muita Arte, muito som!
    Renio Quintas

  • Hilton Assunção, 27 de setembro de 2009 @ 22:44 Reply

    Discordo em vários pontos do artigo. Primeiro, a grande maioria do músico no Brasil, onde me incluo, tem extrema dificuldade de se colocar no mercado interno. Para nós o mercado externo está tão distante como Marte! A perda acima citada se aplica a meia dúzia de privilegiados. Segundo, quem ganha financeiramente com venda de discos são as gravadoras. Ao artista sobra uma pequena porcentagem e aos músicos acompanhantes um “pacote” aviltante inventado por produtores gananciosos e aceito pela maioria por falta de opções. Terceiro, que divulguem quanto faturam as editoras ligadas às gravadoras! A profissão de músico está muito bem regulamentada precisando de uma atuação melhor por parte da Ordem dos Músicos do Brasil coibindo os abusos de poder exercido pelos empregadores. Quarto, aos empresários do setor que tenham vergonha na cara de continuar colocando os músicos à frente de suas necessidades, usando-nos como desculpa para criar legislação que os beneficiem (empresários) em primeiro lugar, e os músicos que ou entrem no jogo ou se danem.
    Hilton Assunção
    Bacharel em Regência, compositor e instrumentista.

  • Ana Paula Pereira, 29 de setembro de 2009 @ 10:57 Reply

    Concordo com Hilton
    Em gênero número e grau!

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 29 de setembro de 2009 @ 14:23 Reply

    “Para nós o mercado externo está tão distante como Marte!”
    (Hilton Assunção)

    Hilton, esta sua iluminada frase, tinha que ser impressa em adesivo, e dos grandes! E colocada em cada condução que leva os artistas brasileiros no vai-e-vem do nosso cotidiano.
    Essa globalização cultutal é uma das maiores, senão a maior falácia que construiram em torno da cultura. Ainda pretendo escrever sobre isso.

  • jorge egbert weytingh, 1 de outubro de 2009 @ 8:12 Reply

    279989179696, de 26/9/2009. Este é o número do meu protocolo, recebido de vcs, quanto ao projeto que remetemos para apreciação e parecer, em nome da Associação Capixaba de Músicos Profissionais, projeto “Música para Todos”, até hoje sem nenhuma resposta! Papagaio. Que abandono em? Nem que seja não mas…….não merecemos uma resposta? O prazo de execução dado pelo MinC(min.da Cultura) está no fim e nada de resposta? Obrigado. Jorge. 27-9955-5860 – direto

  • @minerio, 5 de outubro de 2009 @ 11:20 Reply

    6% do pib? Eu truco! rs

  • Ana Terra, 25 de março de 2011 @ 13:10 Reply

    O que quer dizer exatamente “músico de apoio”? Que eu saiba, os únicos profissionais fundamentais para um espetáculo musical ou gravação são os autores e os músicos (ver sss://www.viapolitica.com.br/noticia_view.php?id_noticia=251 )

    A política pública para a música nos últimos anos tem disponibilizado o dinheiro público para financiar majoritariamente os profissionais, estes sim de apoio, como produtores de festivais e feiras. Os músicos são os menos remunerados, quando são!

  • gil lopes, 25 de março de 2011 @ 16:27 Reply

    O que quer dizer “conseguimos entrar no circuito internacional”? Volta e meia ouvimos isso ao longo do tempo, refere-se a exploração do nosso mercado de shows pelos artistas estrangeiros? Hoje isso conta com apoio no câmbio, na midia e na lei de incentivo. O chamado mainstream, o mercado central nas principais capitais nacionais é diretamente dominado pelo conteúdo estrangeiro, isso sabemos. Nossa música lá fora, nossa presença no ambiente musical internacional continua atingindo o público exótico e de excelente bom gosto, nos mercados não temos nenhuma expressão econômica.
    A questão da música no ambiente contemporâneo está diretamente relacionada com a questão da sua circulação pela Internet. A comercialização só tem esse caminho, nenhum outro pode competir com o novo meio. Portanto enquanto não olharmos definitivamente para a produção de riqueza no meio da Nova Cultura, estamos perdendo tempo. Na verdade estamos à reboque, o que se estabelecer por lá, virá pra cá, já perdemos 10 anos e o Itunes, vamos ver quando chegaremos. Há esperanças.
    Por outro lado, ninguém é obrigado a ser explorado por gravadoras ou pela indústria da música, só faz parceria quem quer. A que vigorou no tempo do disco e do Cd-DVD foi vantajosa para a música brasileira que dominou o mercado interno e se expandiu para o exterior. Quem vendeu discos, e muita gente vendeu, ganhou muito e ficou muito rico. Uma cadeia nacional imensa de mão de obra se desenvolveu e produziu. Dominamos inteiramente o mercado de shows, a execução nas rádios, na tv, na venda de lojas, enfim, o conteúdo nacional se afirmou como em nenhum outro segmento cultural, em qualquer tempo no Brasil. Como nunca na história deste País.
    Mas agora a música circula pelos computadores…como vamos produzir riquezas com essa nova invenção? Qualidade nossa música não perdeu, ao contrário, temos jeito pra coisa. O que nos falta?

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