Somos assaltados diariamente por imagens de todos os tipos. Invariavelmente essas imagens carregam mensagens, visões de mundo, interpretações sobre o que somos e o que devemos ser e fazer.

Dominado por um oligopólio composto por seis grandes conglomerados, que juntos reúnem os mais importantes estúdios de cinema, cadeias de TV aberta e à cabo, jornais, rádios, portais de Internet, redes sociais, empresas de videogame e licenciamento de marcas para brinquedos, roupas e os mais variados produtos, o mercado do imaginário é um dos mais potentes do mundo.

O momento atual, de convergência e participação através das redes e telas, é particularmente interessante. Uma trincheira que nos permite alterar de maneira definitiva os sistemas de controle do imaginário, ou nos aprisionar ainda mais dentro deles.

A Internet, a telefonia celular e os meios de comunicação digital – as chamadas novas mídias, possibilitam a ampliação da capacidade de participação do cidadão em sua vida cultural, seja na constituição do seu próprio imaginário, seja na definição dos rumos das políticas culturais do seu bairro, cidade ou país.

Por outro lado, observamos a ampliação dos domínios desses conglomerados, que adquirem e manejam os fluxos de informação no espaço cibernético, incorporando empreendimentos e marcas antes relacionados à conquista de autonomia de artistas e produtores de conteúdo.

Atrelado a esse fenômeno, observamos as novas legislações relacionadas ao compartilhamento de informação e propriedade intelectual na web, que favorecem o  domínio das grandes indústrias culturais e diminuem o espaço e a liberdade de troca e acesso ao conhecimento.

Diante disso, quais os espaços de resistência audiovisual e como ocupá-los? Que movimentos estratégicos artistas e ativistas audiovisuais podem adotar para reverter esse quadro e abrir espaços de participação? Como financiar e facilitar a produção e a troca de expressões audiovisuais nesse cenário?

* Publicado originalmente na RAIA.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

4Comentários

  • Dani Torres, 22 de maio de 2010 @ 2:12 Reply

    Hummm… Acho que infelizmente ainda estamos longe, longe, de alterar os sistemas de “controle do imaginário”. Nos acostumamos a pensar que estamos todos online, mas esta realidade ainda é a de um grupo pequeno. Que cresce diariamente, é verdade. E o Brasil é um dos países com maior acesso no mundo, super bacana. Mas o fato é que o turbilhão de imagens da TV aberta tem alcance muito maior. Ainda. Talvez por pouco tempo…

    Agora, especificamente em relação às suas perguntas (pancadas fortes), é difícil dizer. Talvez a resistência tenha que vir antes, no sentido de tentar frear as legislações que possam permitir novos domínios restritos. Mas se eles acontecerem, pode apostar, artistas darão um jeito. Isto é incrível de se pensar: a arte, em todas as suas formas de expressão, sempre rompe as barreiras e segue adiante. Se espalha na rua, corre de boca em boca, sobrevive em porões… Ela vai!

    Informação e conhecimento vão junto. Sempre crescendo, ampliando.

    Mas uma boa pedida é estarmos conectados, se não for possível em rede, que seja na velha máxima “a união faz a força”. Pode soar cafona, mas faz.

    Não sou estudiosa da área de audiovisual, mas acho que para esta área o melhor caminho em se falando de financiamento ainda são os fundos. Seria bom que o Estado brasileiro entendesse a importância da produção audiovisual para o país, mas… melhor não esperar. Incentivos fiscais também não são o caminho. Quem sabe, fundos com a participação ativa das pessoas físicas?

    O bacana é que as produções estão barateando muito, dentro deste novo cenário citado.

    Há muito o que se pensar a partir de suas perguntas…
    Abs,
    Dani Torres

  • leonardo, 22 de maio de 2010 @ 2:52 Reply

    Acho que os artistas estão sempre dependentes de algum intermediário que vai pagar suas contas, o problema acho que está ai. Por que os artistas não assumem a função de seus intermediários e administram todo o conteúdo produzido repartindo suas receitas publicitárias e de licenciamentos de maneira justa? Acredito que ser só artista já não basta, tem de ser empreendedor também.

  • gil lopes, 23 de maio de 2010 @ 8:56 Reply

    podemos tentar também, quem sabe, uma volta às origens, podemos voltar a plantar, colher, comer o que plantamos, andar a cavalo…podemos começar por “Eu quero uma casa no campo”. ..será?

  • Badah, 28 de maio de 2010 @ 0:44 Reply

    O poder é imposto mas também é concedido. Há uma relação de interdependência entre detentor e concedente, quase cumplicidade. Quem detem, concedeu um dia. Se nasceu no meio dos detentores, é porque seus ancestrais em algum momento concederam. E quem concede é porque quer deter depois. É um depósito, uma forma de transferir aquela energia que, vc concedente, acredita ser insuficiente agora e opta por transferir para um lugar onde ela crescerá, para servir posteriormente à propósitos maiores. Depois vc tem que ir lá recuperar – existem regras nesse jogo. Hoje em dia, até o detentor mais estúpido sabe que, com a digitalização dos meios de produção, sua hora de conceder chegará. Ou melhor, retornará, num reencontro com sua ancestralidade concededora…

    Portanto, ativista audiovisual, se vc não quer ser Holywood, minha sugestão de estratégia é bem simples: pegue tua camera digital, faça filme e distribua na internet. Ou incentive as pessoas a fazerem isso. Custa pouco e no final, a possibilidade de um detentor querer te conceder é grande – o que poderá te colocar no jogo. Daí vc escolhe se quer brincar ou não.

    Mas, se vc quer começar sendo Holywood, jogue o jogo do começo. Se vc não nasceu no meio dos detentores dos meios de produção e distribuição de conteúdo de massa, creio que o jogo começa com vc comprando muitos filmes-holywood-style, uma forma de conceder. Se vc é o Guy Ritchie, faz filmes bacanas e baratos mas reclama que ninguém viu, cate a Madona. E se vc é a Madona, já jogou.

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