A Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM), que aconteceu entre os dias 5 e 8 de dezembro, trouxe um debate para a capital paulista sobre as novas formas e estruturas do mercado musical. Assuntos cada vez mais urgentes foram levantados. Entre eles, a capacitação de músicos, a circulação de verba, a exportação da música brasileira e a viabilização de shows internacionais, de festivais e networking.
Uma das mesas que mais recebeu destaque e atenção do público foi “Dinheiro Digital: Novos Modelos de Monetização”, que discutiu como usar as novas ferramentas de monetização disponíveis no Brasil. Como aproveitar da melhor forma sites de streaming, as lojas digitais, videoclipes para internet, etc. A mesa foi composta por Emmanuel Zunz (One RPM), Maurício Bussab (Tratore), Bruno Telloli (Vevo), Mathieu Le Roux (Deezer), James Lima (Believe), Federico Goldenberg (Google/Youtube), Fábio Silveira (Deck Disc), Juliette Bouquerel (Live365) e mediação de Fernanda Cardoso.
O Vevo é um conhecido site de clipes musicais, que dá acesso a vídeos “premium” e shows ao vivo. Muitos artistas no Brasil ainda acreditam que, para entrarem no catálogo do site, precisam estar em grandes gravadoras, mas Bruno Telloli, diretor de conteúdo da plataforma no Brasil, iniciou o debate afirmando o contrário: “Também fazemos parcerias com gravadoras independentes. Inclusive, fechamos recentemente com a Tratore e o clipe do Thiago Pethit, por exemplo, foi o mais assistido da Vevo no mundo inteiro no dia do lançamento. Além disso, mesmo sem gravadora, o artista independente pode fechar um contrato de lançamento de videoclipe. Nós temos bastante abertura para artistas novos”, relatou.
Plataforma de streaming de músicas, o Deezer já está presente em mais de 180 países e tem 30 milhões de música em seu catálogo. A maior dificuldade encontrada pelos criadores é a de não deixar o usuário perdido com tanto conteúdo. “Por isso, construimos um time de editores, com cerca de 50 pessoas no mundo todo que fazem um trabalho de curadoria. Então, todo usuário que entra no site tem uma homepage com feed personalizado para o seu gosto”, explicou Mathieu Le Roux, diretor do site na América Latina. Esses editores ajudam o Deezer a se conectar com as gravadoras e artistas para fazer operações especiais. “A gente quer criar uma ligação com o usuário, oferecer conteúdo e a surpresa que encontrávamos antigamente nas lojas de disco”.
Maurício Bussab, gerente de novas mídias da Tratore, uma das mais importantes gravadoras independentes do Brasil, afirmou que o maior erro dos artistas no Brasil é a falta de planejamento para lançamento e divulgação do disco, seja ele físico ou digital. “Muitas questões estratégicas devem ser analisadas: se o disco será distribuído de graça na internet, como isso se incorpora na sua estratégia, que parcerias você vai fechar, etc”. De acordo com Bussab, o ideal é que o artista comece a pensar no lançamento com antecedência, pelo menos dois meses antes.
James Lima, da gravadora Belive, concorda: “Eu trabalho com distribuidoras físicas há 20 anos. Esse problema de planejamento sempre existiu. É preciso usar inteligência junto com seu parceiro para o projeto ficar integralmente pronto”. Lima afirmou que a maioria das produções brasileiras gasta 90% da produção na parte artística do disco, mas não investe em divulgação e planejamento. “Vender disco digital é exatamente a mesma coisa de vender disco físico. Às vezes as pessoas acham que é só jogar na internet e pronto.”
Sem exceções, todos os palestrantes concordaram que não adianta nada fazer uma campanha de pré-venda digital se não houver uma forte campanha de divulgação associada. Para eles, as vendas só ocorrem quando há engajamento da banda com o produto digital. Emmanuel Zunz, da distribuidora digital OneRPM, acrescentou que é interessante disponibilizar junto com a pré-venda algumas músicas do álbum para download. “O fã que comprar a pré-venda se sentirá bem com esse bônus”, explica.
Fábio Silveira, da gravadora Deck Disc, lembrou que a pré-venda é uma ferramenta que serve para impulsionar o disco. “Dessa forma, você lembra o público o tempo todo que o disco chegará em determinada data e gera expectativa”.
Monetização – Mathieu Le Roux explicou que o Deezer repassa 70% do que ganha para os artistas e que não há como estipular um valor porque a receita varia muito a cada mês. A maioria das plataformas de streaming, segundo ele, trabalha de forma parecida.
O YouTube tem duas formas principais de gerar receita para os músicos ou artistas em geral. Federico Goldenberg é gerente de parcerias de músicas e criadores do YouTube desde 2011 e explicou que, para monetizar sua obra, o artista precisa ter os direitos autorais do vídeo e optar, com apenas um clique, pela monetização. Assim, ele permite que o YouTube coloque publicidade em cima do vídeo. “Para monetizar não depende da quantidade de views. Basta que ele esteja disponível na plataforma e que você tenha os direitos. Mas obviamente, quanto mais views, maior a receita. O reparto entre o parceiro e o Youtube é a mesma porcentagem e, dependendo da categoria, o anunciante pode pagar mais”, explica Goldenberg.
Há também outra forma de receber receita através da plataforma de vídeos. Além de cada artista poder criar sua própria “lojinha”, há a receita gerada pela content id, que é chamada de distribuição multimarca. “Nós temos um robô no YouTube que escaneia todos os vídeos e detecta quando sua música ou imagem foi utilizada por outros usuários. Quando ele encontra esse material, aplica o que o detentor dos direitos determinou”, conta o gerente de parcerias da marca. As opções são tirar o conteúdo do ar ou monetizá-lo. Os artistas que decidiram “jogar o jogo” recebem por esses vídeos que divulgam seu trabalho de graça. “O que antes a gente chamava de pirata, hoje a gente chama de promotor”, comemora Goldenberg.