A mesa que abriu o último dia do Rio Content Market contou com o vice-presidente de conteúdo local original da Netflix, Erik Barmack. E ele deu início à sua apresentação reafirmando o que a mídia tem informado nos últimos tempos: a América Latina é um mercado cada vez mais importante para a empresa. Não apenas no que diz respeito ao público, mas à busca por produções originais locais. “A energia no mercado latino-americano é incrível”, disse Barmack.

Foto: Televisione Streaming“Quando a Netflix começou, era uma empresa completamente norte-americana. Hoje, estamos em 190 países e temos 95 milhões de assinantes, sendo 40% deles fora dos EUA. Com o tempo, mais de 50% do publico deverá ser internacional. Isso faz com que você comece a pensar em programação para o mundo inteiro, e muda o jeito como pensa essa programação. Passamos a pensar em conteúdo local, e encontrar narradores em todo o mundo, e permitir que eles viagem por todo o mundo.”

Narcos é um dos principais exemplos: produzida por empresa francesa, gravada na Colômbia, com atores e diretores brasileiros, falada em inglês e espanhol. Atualmente já são outros sete projetos internacionais em andamento, no México, França, Itália, Alemanha e Brasil – “3%”, de Cesar Charlone, é a primeira série do Netflix 100% brasileira, uma ficção científica que traz como protagonistas os atores Bianca Comparato e João Miguel. “Pretendemos continuar sendo bem agressivos no investimento em produção local”, afirmou Barmack.

Questionado se o público americano estaria disposto a assistir programas falados em outros idiomas, ele disse que isso depende do programa. “Narcos desmistificou a ideia de que os americanos não leem legenda. Se o programa for trazido a eles de forma interessante, eles irão assistir. Mas ainda estamos começando a entender como os conteúdos conseguem viajar mundialmente. Acredito que muita gente vai assistir a esses programas e se envolver em uma conversa global.”

O fato de um programa estrear ao mesmo tempo em mais de 100 países, para Barmack, é muito poderoso. E muda a forma como as pessoas assistem e fazem TV. “Alguns anos atrás existia uma ideia de que, para fazer coproduções, você precisaria encontrar três ou quatro produtoras em diferentes países, com atores de diferentes países. Em teoria parece bom, mas no final você tem um programa que parece não fazer parte de uma cultura especifica”, alertou. Para ele, as boas séries encontram mais plateias no mundo todo quando são mais autênticas. “Qual é a verdadeira alma da história, e por que ela tem que ser contada? No Brasil, vamos procurar histórias em português, porque queremos uma história autêntica do mercado daquele escritor”, explicou.

Ele contou ainda que a Netlfix procura uma combinação de bons diretores e produtores, grandes atores e grandes roteiros. “Na maioria do tempo, o que procuramos é ter tudo isso junto, essa combinação de grandes talentos e histórias incomuns”, explicou. Questionado se as pesquisas de audiência norteiam a escolha dos programas a serem produzidos, ele afirmou que os dados são usados para apoiar as decisões. “Temos indicações, por exemplo, de que no Brasil os usuários adoram ficção cientifica. Isso apoiou a decisão em produzir 3%. No entanto, não teríamos feito qualquer programa de ficção. O principio que norteia a escolha das series continua sendo excelente narrativa.”

Segundo o executivo, os gêneros só levam até certo ponto sobre o que seria o interesse do público, por isso seu norte está em ter uma programação para gostos cada vez mais variados, permitindo a maior diversidade de escolhas. Nesse sentido, a empresa pretende continuar trabalhando tanto o catálogo (conteúdo licenciado) quanto produções originais. “A origem da iniciativa de ter conteúdo original foi que descobrimos que o público adorava produtos Premium de cabo, como Lost e Breaking Bad, mas não achávamos quantidade suficiente. Então isso surgiu da demanda dos consumidores, de buscarem séries de alta qualidade. Mas para que sejamos um grande serviço, precisamos acomodar as duas vertentes.”

Embora esteja investindo também na produção de filmes, o foco da Netflix para os próximos dois anos, pelo menos, será as séries. Segundo Barmack, existem mecanismos que facilitam conseguir investimento para filmes, mas as séries originais são uma oportunidade maior de programação para o ano seguinte.

E finalizou: “Somos viciados, loucos por conteúdo. Buscamos coisas singulares, diferentes, feitas por escritores de qualidade. Queremos aproveitar que somos uma plataforma on demand e que temos possibilidade de contar histórias de maneiras diferentes.”

MAIS DO RIO CONTENT MARKET:
– A hora e a vez da mulher no audiovisual
– Manoel Rangel responde a questões do setor audiovisual
– Cinema sob demanda


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *