Um dos fatos marcantes na atividade audiovisual latino-americana em 2013 é o excelente desempenho do cinema brasileiro. Ao findar o ano terão sido lançados 115 filmes nacionais no mercado cinematográfico interno (duas mil e 800 salas), com público ao redor de 25 milhões de espectadores e renda superior a 108 milhões de dólares. A produção nacional ocupará uns 18% do mercado de exibição. Com exceção dos grandes produtores de filmes (Índia, Nigéria, EUA, Japão) e de algumas exceções assentadas em leis protecionistas, como a Coreia do Sul, nenhum país alcança esse market share, nenhum ocupa quase um quinto do seu mercado com seus próprios filmes.
Na década 1980 o Brasil produzia uma centena de filmes, lastreados pela produtora/distribuidora estatal Embrafilme. Em 1990 o sinistro governo Collor fechou a Embrafilme e acabou com a cota de tela (exibição obrigatória de um número mínimo de filmes nacionais nas salas). A produção desceu a quase zero. A reação veio através da Lei do Audiovisual de 1993 e do movimento conhecido como Retomada, a partir de 1996, que pouco a pouco foi recriando caminhos e meios para a produção. Em 2002 o market share do cinema brasileiro era de apenas 6%.
A Retomada só encontrou chão firme com o advento do governo Lula em 2003, que investiu forte na atividade, criou o Fundo Setorial do Audiovisual, organizou a Ancine-Agência Nacional de Cinema, potencializou a Secretaria do Audiovisual. O market share de 2003 foi de 22%, um recorde histórico, como se os brasileiros estivessem celebrando a volta de seus filmes às telonas. Entre 2004 e 2012 a média da ocupação foi de 13%. Este ano, com ocupação de 18% e segundo as projeções da Ancine, um novo ciclo está começando, um novo patamar da presença do filme brasileiro nos cinemas do país será estabelecido com novas linhas de fomento e crédito para distribuição e exibição e aumento do parque exibidor para três mil e 500 salas até 2015.
É um cenário promissor mas onde não faltam controvérsia e polêmicas, a mais evidente delas o fato de que um grande percentual dos espectadores de filmes brasileiros está concentrado nas comédias ditas televisivas, nas produções da Globo Filmes, empresa ligada à TV Globo e ao seu poder de divulgação e propaganda. Essa predominância mercadológica das comédias é real, mas não é a única responsável pelo crescimento do interesse dos brasileiros pelo seu cinema. Outros fatores devem ser levados em conta, como as fartas bilheterias dos filmes de baixo orçamento realizados em distintas regiões do país, a exemplo do fenômeno de popularidade de Cine Rolliúdy, do Ceará. E a qualidade artística de filmes como O som ao redor (foto), vindo de Pernambuco. Não esquecer: cinema é indústria, filme é arte.
*Publicado originalmente no site Refletor