Ao longo dos últimos anos, nota-se a realização de diversas manifestações artísticas no mercado cultural de São Paulo. Após o nascimento das leis de incentivos culturais − nacionais, estaduais e municipais − uma vasta quantidade de projetos vem sendo realizada com qualidades artísticas e de pesquisa.
Em parceria com a esfera política, as grandes empresas, ligadas a algumas leis, desenvolvem propostas para auxiliar e promover benefícios tanto ao próprio artista como para a sociedade. Nunca estiveram, em tamanha ascensão, as necessidades de se consolidarem novos teatros, espaços culturais, escolas técnicas ou cursos específicos, cinemas, bibliotecas e outros bens culturais. É através destas leis de incentivo que os profissionais da arte trabalham e consolidam sua carreira, produzindo incessantemente novos projetos culturais para si e para o meio a sua volta. O governo e o mercado, portanto, abriram novas portas para a cultura e os artistas brasileiros caminham rumo a este novo paradigma.
Mas há um fato a questionar: se o mercado se torna agregador das artes, até que ponto estas ações políticas e públicas não são ações fragmentadas, locais e calcadas nos interesses particulares de determinados cidadãos ou instituições, sendo apenas o mínimo necessário para a satisfação de alguns grupos minoritários? O que deveria ser um ato de emancipação da arte em relação aos antigos paradigmas não está se tornando um ato de competitividade dentre grupos e ações particulares para ver “quem fica com a fatia do queijo”?
Infelizmente, com a pouca verba destinada pelos órgãos públicos ou privados aos programas culturais, não há como se manter com segurança no emprego de ator, bailarino, diretor, autor, cenógrafo, figurinista e outras tantas áreas do fazer artístico, pois tudo depende de quem ganha, o quanto se ganha e até quando se ganha. Ser contemplado com qualquer ação governamental ou particular se torna uma conquista ilusória, uma conquista momentânea e sem continuidade. Desta forma, uma ação contrária surge: a da adaptação das pesquisas artísticas às leis e premiações vigentes.
É interessante observar que a partir destas adaptações uma competitividade acirrada surge transformando uma classe, tida como unida, fortificada e valorizada, a mera ficção. Enquanto a macroestrutura estatal não se abrir para compreender as necessidades de cada grupo artístico, com suas próprias especificidades, as disputas continuarão e a competitividade distanciará cada vez mais o artista da arte e os profissionais de sua própria “comunidade”, individualizando e segregando movimentos.
Para que uma mudança estrutural seja realizada com eficácia, é necessário antes de tudo que a esfera política crie diálogos constantes para ouvir e analisar as propostas e questionamentos dos cidadãos e grupos particulares (e não basta realizar um ou dois debates e esquecer os assuntos posteriormente). Apenas com esta esfera preparada e apta a captar novas ideias, é que novos consensos não antes pensados poderão ser analisados e postos em questão. Ainda assim, para que estes diálogos surjam com equidade e qualidade necessárias, uma transcendência das opiniões partidárias políticas deverá acontecer, para assim tornar real o debate e o diálogo entre as microestruturas societárias e particulares e a macroestrutura político-social independente do partido em exercício.
É a partir deste transitar comunicativo, que todo e qualquer grupo de cidadãos, tratados como iguais, poderão ter a garantia da possibilidade de questionar, argumentar e propor novas ações para a transformação de seu ambiente social, sem cair no comodismo e na competição inerente ao capitalismo vivido na atualidade. Estão contidas nestes processos de argumentação e de discussão as possibilidades de nascerem novos trabalhos artísticos estruturados pela qualidade, harmonia e respeito dentre os fazedores, contempladores e patrocinadores do mesmo.
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