São Paulo recebe nesta semana a 6ª edição do Proxxima – Seminário Internacional de Comunicação e Marketing Digital realizado pelo Grupo Meio & Mensagem. O evento traz especialistas dos mercados nacional e internacional de comunicação e marketing para dois dias de palestras e debates. E um dos destaques deste ano foi a apresentação de Piers Jones, executivo da área digital do jornal britânico The Guardian, que mostrou à plateia que abrir as portas para os leitores pode ser o segredo do sucesso para os veículos.

Apesar de sua tradição de mais um centenário de existência, o jornal é um exemplo concreto de que não se deve temer a inovação. Os leitores são tratados praticamente como colaboradores diretos dos jornalistas do The Guardian. Com enquetes, sugestão de noticias, discussão de assuntos, compartilhamento de informações, participação em eventos promovidos pelo jornal e outros canais de contato, eles são constantemente estimulados a participar e a colaborar com o conteúdo do grupo de mídia.

No final do ano passado, a diretora de Estratégias para Mídias Sociais (Digital Engagement) no grupo Guardian News & Media, Meg Pickard, tinha contado um pouco dessa experiência durante o Media On – Seminário Internacional de Jornalismo Online promovido por Itaú Cultural e Terra. Ela falou sobre a importância de inspirar as pessoas a reagir e compartilhar o conteúdo que o jornal produz, de promover uma conexão pessoal com a história que se está contando e de envolver a comunidade na produção da informação, por meio de uma “crowd comission” e de reuniões de pauta públicas.

Aqui no Brasil, alguns projetos de jornalismo colaborativo têm encontrado formas de serem viabilizados nos sites de crowdfunding.

Um exemplo de lançamento recente é a revista Efêmero Concreto. Para que fosse possível imprimir e distribuir gratuitamente cinco mil exemplares da primeira edição da revista, os organizadores lançaram uma campanha no Catarse. Quem ajudou ganhou espaço para expressar suas ideias ligadas ao tema central da revista: a arte na cidade, a cidade na arte.

“A ideia surgiu quando íamos em reuniões com grandes empresas e elas exigiam uma edição pronta para poder se envolver comercialmente com a revista. Resolvemos investir no conteúdo e colocar o valor de impressão e distribuição para financiamento coletivo”, conta Deco Benedykt, um dos idealizadores da proposta.

O projeto foi aprovado no início de fevereiro e a revista já está impressa e sendo distribuída (mais informações no site www.efemeroconcreto.com.br). Para Deco, o que faz as pessoas participarem de iniciativas desse tipo é a identificação com a ideia, com os produtores e o gosto por ideias transformadoras.

Essa é uma tendência que deve fazer o jornalismo crescer? “Acreditamos que sim. As empresas são muito receosas em apostar suas fichas em novos meios de informação, desconfiam da qualidade do conteúdo e etc. Existem muito projetos e iniciativas interessantes no meio jornalismo independente. No caso, quando é impresso, o custo é alto para produtores, por isso o crowdfunding é uma forma interessante de viabilizar”, afirma Deco.

Multidão – Outro exemplo bastante conhecido é o projeto Ajude um Repórter. Para criação do logo foi feito crowdsourcing pelo site argentino Choosa. Para a criação da plataforma foi feito crowdfunding pelo Catarse. E o trabalho cotidiano é feito com a multidão. “O site nasceu depois de observar iniciativas americanas de crowdsourcing. Logo que retornei ao Brasil, pensei em experimentar o que eu havia observado e comecei o Ajude um Repórter com uma conta no Twitter. Achei sensacional poder usar crowdsourcing para unir repórteres e fontes. A ideia se provou tão util que mais e mais pessoas começaram a participar”, conta Gustavo Carneiro, criador do site.

Ele diz que o resultado é “formidável” do ponto de vista do usuário. “Agora que estamos rodando tudo dentro de uma plataforma, é possível ver o feedback gerado para cada pauta publicada. Os resultados da comunicação são muito mais mensuráveis e dá pra dizer que a coisa realmente funciona”, explica. Já do ponto de vista do negócio, ainda é preciso encontrar as fontes de renda que manterão a estrutura ao longo do tempo. “Esse é um ponto em comum com a maior parte das iniciativas brasileiras”, diz.

Para Carneiro, não é fácil determinar as motivações para participação nesse tipo de ação, já que elas são muito variadas. “Dentro da plataforma temos uma grande participação de assessorias de imprensa, que entendo terem motivação comercial. Existem ONGs que participam para expor suas causas, pessoas comuns em busca de seus 15 minutos de fama, outros jornalistas que entendem a dura busca por fontes e compartilham contatos e outros que parecem estar ali simplesmente pelo desejo de ajudar.”

Ele acredita que o trabalho “da multidão” está crescendo na medida em que a tecnologia facilita a coordenação desse grande número de pessoas a um custo que nunca foi possível antes. “Com certeza é uma tendência, não só para o jornalismo como para diversas outras áreas”, afirma. “No caso do jornalismo já existem diversas iniciativas aparecendo, mas ainda estamos só começando a entender as possibilidades disso tudo. Qualquer pessoa que saiba ler e escrever tem potencial para trabalhar informações em rede, e essas pessoas podem participar ativamente da construção de novas plataformas. Exatamente como vimos acontecer com o Wikipedia. Por isso acredito que é só uma questão de tempo para que muitas coisas novas apareçam nesse cenário. Nós chegaremos a um ponto em que esses, hoje, novos processos serão muito naturais para todo mundo. Quando atingirmos essa fase uma nova revolução deverá acontecer”, profetiza.

Curso – De 18 a 27 de junho, o Cemec promove, em São Paulo, o curso Crowdfunding – Financiamento de Projetos em Redes Colaborativas. Com coordenação de Vanessa de Oliveira, do Movere, e aulas dela e de Diego Reeberg, do Catarse, o curso compreende todo o processo do financiamento coletivo de projetos, através dos módulos: Mercado, Projeto, Recompensa e Campanha.

Uma oportunidade para quem quiser adequar e potencializar seu projeto para qualquer plataforma de financiamento em redes colaborativas.

Clique aqui para ver o programa completo e se inscrever.

*Com informações do M&M Online


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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