Jovens cientistas que lutam, sem sucesso, para angariar recursos através dos meios tradicionais, como subsídios de fundações, estão voltando-se para o financiamento coletivo, segundo matéria do jornal The New York Times.
Mary Rogalski, doutoranda em silvicultura e estudos ambientais na Universidade de Yale, espera financiar via crowdfunding algumas de suas pesquisas para sua tese sobre poluição de lagos. Ela faz parte do #SciFund Challenge, uma campanha de captação de recursos feita sob medida para os cientistas.
Inspirados pelo sucesso do Kickstarter, a maior plataforma do gênero, dois ecologistas da Universidade da Califórnia, Jai Ranganathan e Jarrett Byrnes, deram início à primeira rodada do # SciFund Challenge no ano passado. Byrnes afirma que ele e Ranganathan viram ali uma oportunidade de convencer os cientistas a ter um maior envolvimento com o público.
“Há pouco incentivo para que os cientistas façam qualquer coisa que não seja a investigação”, declara Byrnes, criticando a cultura do “publique ou pereça” do meio acadêmico, em que o sucesso dos profissionais é medido pela publicação em revistas e jornais do ramo.
Qualquer cientista com um projeto viável e uma meta de arrecadação pode participar do desafio. Um mês antes do início do #SciFund Challenge, cada participante recebe instruções de como fazer um vídeo sobre seu projeto para ser postado no site Rockethub.com, a plataforma de crowdfunding que hospeda o desafio.
Na primeira rodada, que aconteceu entre 1º de novembro e 15 de dezembro do ano passado, 49 cientistas participaram e arrecadaram juntos US$ 76.230. A segunda edição, concluída em junho, havia arrecadado pouco menos de US$ 84 mil nos primeiros 28 dias.
Mary Rogalski conseguiu angariar US$ 2.026 (da meta inicial de US$ 2 mil) e gostou da experiência. “Não é apenas uma maneira de ganhar dinheiro – é algo maior do que isso”, afirmou.
Os participantes do desafio são encorajados a manter seus doadores envolvidos com o progresso das pesquisas, promovendo um relacionamento de longo prazo com os colaboradores. “Chegar às pessoas e obter o retorno delas têm sido muito positivo”, contou Mary.
Cientistas mais experientes também estão entusiasmados com o potencial do crowdfunding. “Acho que nós vamos ver isso realmente decolar”, disse o orientador da cientista, David Skelly, reitor associado de pesquisa na área de Silvicultura e Estudos Ambientais de Yale.
“Primeiro porque as pessoas podem facilmente informar-se sobre os campos científicos que lhes interessam e escolher o que elas gostariam de ver financiado”, explicou. “Em segundo lugar, bolsas de pesquisa federais estão cada vez mais difíceis de encontrar. Existem mais pessoas pedindo mais dinheiro e uma disponibilidade restrita de recursos”. Segundo ele, o percentual de candidatos que receberam prêmios da National Science Foundation vem caindo.
Mas o crowdfunding também tem atraído críticas. Alguns argumentam que o modelo beneficia projetos “da moda” (as pessoas são mais propensas a apoiar a investigação sobre o urso polar do que a pesquisa sobre cianobactérias) e que os projetos em busca de fundos não têm sido revisados (na National Science Foundation, por exemplo, os cientistas analisam as propostas de outros cientistas para julgar o mérito de seus projetos de pesquisa).
Mas, na opinião de Skelly, os benefícios parecem superar os inconvenientes. “Pela primeira vez na minha carreira – e eu tenho o meu Ph.D. há 20 anos – há um diálogo em curso entre os cientistas que fazem pesquisa primária e o público “, disse ele.
Essa era a expectativa de Byrnes e Ranganathan. Byrnes afirma que sua paixão pela comunicação da ciência foi impulsionada em grande parte por suas principais áreas de estudo: mudanças climáticas e extinções de espécies causadas pelo homem. Ele argumenta que as pessoas deveriam ter acesso ao melhor conhecimento possível sobre o mundo em que vivem.
“Eu quero que a informação que as pessoas tenham quando tomam decisões sobre suas vidas, sobre política e sobre como eles defendem um ponto de vitsa, sejam fortalecidas por um ciência sólida e precisa”, defendeu.
Para ler a versão original da matéria, em inglês, clique aqui.
*Com informações do jornal The New York Times