O conjunto de certezas a que a modernidade já chegou não permitiria que coisas absurdas continuem acontecendo. E estas continuam acontecendo como se nada tivesse ocorrido nesses últimos três mil anos.
Quando será, enfim, o amanhã? Se hoje sempre o deixamos para depois? O ser humano, quando detentor de poderes públicos, principalmente, acontece de muitas vezes perder a razão e o real dimensionamento de sua importância no cotidiano. As palavras são nossas e ao mesmo tempo do outro também. A alteridade do conhecimento precisa ser praticada e anunciada.
Em sua maioria, os políticos empossados formam um time de seres decalcados da realidade, jogando o jogo absurdo do poder contra o poder, tendo os secretários como seus merecidos gandulas.
Tudo estaria bem, não fosse alguns ainda viverem na era ptolomaica. Isto é, estão um pouco mais do que muito antes da antiguidade, no que diz respeito a conceitos, percepções e direitos humanos.
Há essa espécie perdida no limbo da evolução da vida na terra. Não é essa passando agora mesmo no outro lado da rua. Já não estamos falando dos políticos, mas do nobre ornitorrinco, que passou à história como a prova viva e estacionária dos vários estágios que se seguiram para se chegar aonde hoje estamos todos, cada um no seu galho.
Acontece que o nobre ornitorrinco, que se fixou na transição entre répteis e mamíferos (ele é um mamífero ovíparo), pode também ser a metáfora de um certo tipo de comportamento que, insistentemente, resiste à evolução. E agora, sim, estamos novamente falando dos políticos, de forma geral.
Falamos do homem público, especialmente dos gestores, aliás, às vezes comumente chamados de antas. Ou mesmo de aproveitadores, dissimulados, também de desonestos e por aí, sendo quase que inúmeros e quase que sempre justos, os motivos de tais chamamentos e comparações.
Não pretendemos aqui elaborar um tratado escatológico do político e gestor público brasileiros. Seria pura perda de tempo. Afinal, eles parecem não ler jornais, quando apelados à reflexão; somente quando são cobrados por gente simples que, com artigos, por exemplo, em uma revista eletrônica, se torna porta-voz do povo decepcionado que os elegeu, momento em que se dizem injustamente perseguidos.
Mas seria interessante nos ater a uma classe de político considerada de transição e, qual o ornitorrinco, muitas vezes resistente à evolução em seus meios e modos, apresentando práticas nitidamente estagnadas. São os secretários, muitos deles apenas eternos seres servientes de não se sabe que idéias e ideais.
Sempre na ante-sala do poder e nos bastidores da ação, muitos na retaguarda da reflexão, os secretários lutam por um lugar ao sol, mas devem sempre estar à sombra de seus respectivos mandantes, ao qual secretariam.
Muitas vezes eles são obrigados a agir contrariando seus interesses, seja pela pressão vinda de baixo ou pela pressão vinda de cima. Mas isso não é nenhum incômodo, pois na maioria das vezes, do tipo de secretário de que falamos, a eles não importa o que querem, mas somente importa aonde estão.
Os dias se sucedem e a simples proximidade com os poderosos os satisfaz e parece lhes transmitir poder, ingênuos e obtusos que são. Procura-se uma osmose, que com o passar do tempo rareia cada vez mais e os definha no caráter.
Embora de hábitos noturnos, agindo na calada da noite, e símbolos do passado vivendo no presente, definitivamente, há coisas a que nem o ornitorrinco, o verdadeiro, aceitaria se submeter.
1Comentário