O PCULT – Partido da Cultura surgiu meses antes das eleições de 2010. Não que nunca houvesse manifestações, movimentos e artistas na discussão da política cultural. Houve e muitos. O que o PCULT tentou arregimentar foi um movimento suprapartidário que envolvesse o setor cultural no intuito de pautar deputad@s, senador@s, governador@s e president@s seu compromisso com o amadurecimento das políticas culturais no Brasil. A gestão Gil-Juca abriu portas para que novos atores do fazer cultural pudessem tomar partido; não no sentido formal da constituição partidária que se dá a política, mas no sentido do reconhecimento da Cultura como a maior bandeira nodesenvolvimento de um país e mundo mais igualitário e horizontal . Por uma política 2.0. Por uma política cultural que veja a cultura como elemento básico, estratégico e essencial da relação entre as pessoas, povos e comunidades.

A partir da constituição deste movimento vemos surgir nos estados seus diretórios, organizando sabatinas, encontros, debates, reflexões, propostas com @s candidat@s numa sucessão volumosa de acontecimentos que trouxeram à tona a organização do setor cultural. Em 15 de julho, a CUFA-MT (Central Única das Favelas) é o primeiro movimento a iniciar as declarações de apoio. No dia 20 de julho, o PCULT-DF se reúne discutindo apoio a candidaturas e mapeamento de agentes culturais. Aos poucos vemos a mídia tradicional, jornais e revistas, entendendo a movimentação e importância do PCULT e dando o espaço que o movimento já vinha conquistando no youtube, no twitter e no seu blog.

Ponto importante de intersecção de ideias foi durante o Fórum dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, realizado em Rio Branco (AC), declarando apoio ao movimento e fortalecendo a relação com os gestores. Ao mesmo tempo, o movimento surge como um espaço vivo de organização política dos artistas em alguns Estados. Em 20 de julho, o PCULT-GO se reúne pra discutir o Centro Cultura Oscar Niemeyer, construção inacabada.

24 de julho, em São Paulo, o candidato a governador da oposição faz uma reunião aberta com o setor cultural, criando um plano de governo para o setor colaborativo. O PCULT-AM, no dia 30, começa a criar sua agenda com um texto de mobilização para o setor no Estado. Mais Estados se organizam: Amapá, Roraima, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará. Por mais que nos debates à presidência a Cultura nunca é posta, as bancadas começam a proliferar.

O Rio de Janeiro traça um interessante painel, sentando à mesa para discutir política cultural com partidos tão diversos como PSDB, PT e PSOL. A coerência do movimento suprapartidário é posta à prova. O PCULT não apoia nenhum candidato ao segundo turno; mesmo que movimentos participantes, em sua legitimidade, o façam, o Partido da Cultura é maior que partidos, nomes, correntes. É um movimento em busca da solidificação de uma Política de Estado.

E muito dessa movimentação se deu nas articulações virtuais que a lista de e-mails nacional do PCULT interligou. De manifestações lúdicas, poéticas a análises críticas. Os anos 60 encontraram os anos 2000 pra gozar de verdade e figuras como @laladeheinzelin, @PradoClaudio, @penas, @PabloCapile,  @rodrigosavazoni trouxeram luz & suor à causa.

Através desses diálogos nota-se a autonomia da movimentação da classe artística brasileira, que teve um salto quantitativo e qualitativo gritantes nos últimos anos, principalmente no fortalecimento da cultura digital desses últimos 10 anos: a comunicabilidade entre os artistas, produtores e a cadeia produtiva de uma maneira geral trouxe uma outra forma de se pensar a cultura e a economia. A autogestão, a economia solidária, a cultura digital, a rede como principal meio de atuação e troca são as tônicas que contribuiriam para a construção do PCULT.

Chegando a ter a força simbólica do manifesto-movimento muito agregador da classe que foi o intitulado ‘1% para a cultura’, organizado por artistas e intelectuais e movimentos sociais-culturais, que, guiado por prerrogativas da UNESCO, lutava pela aplicação de 1% do orçamento direto no Ministério da Cultura.

Essa “autogestionabilidade”, unida ao aumento do poder de comunicação entre a classe artística/cultural potencializa essa autonomia, uma vez que o fazer cultural não está refém nem do poder público, nem da iniciativa privada. Dessa maneira consegue dialogar com candidatos e membros atuais do poder público de maneira organizada e sistêmica, esclarecendo o quanto a cultura gera para a economia através da indústria criativa, além de aumento do capital simbólico em relação à conscientização social e arte.

A movimentação da cadeia produtiva somada à agitação cultural gerou um considerável chamariz para entidades participativas, ao mesmo tempo em que gera a auto-sustentabilidade do processo cultural, o que garante a autonomia. Outra consequência desse levante é o aumento da conscientização e mobilização da classe artística como um todo, muitos conquistados por essa autonomia que virou a mesa e redefiniu o processo cultural no Brasil. Conscientização não apenas da sua função política mas de todo o processo como um todo. A cultura é para a sociedade doconhecimento o que foi o aço para a revolução industrial .

Por isso foi um marco simbólico para o movimento a realização da pesquisa ‘Investimento dos Governos Estaduais edo Distrito Federal na Atividade Cultural’ . Primeira de inúmeras pesquisas necessárias à compreensão do investimento feito no setor, o PCULT fez um estudo comparativo dos orçamentos do órgão em cada Estado, indicando, assim, a distorção de prerrogativas naturalizadas tais como o Sudeste investe mais no setor.

Comparativamente a seus orçamentos gerais, Estados como o Amazonas, o Pará, a Bahia, Pernambuco, Acre, Maranhão investem mais do que São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. Se lutamos para que todo o Brasil entre no Sistema Nacional de Cultura e que todo Estado invista 1,5% na Cultura, esta essencial pesquisa nos mostra que estamos ainda muito longe desta dotação.

Ao final das eleições vemos que o importante sentimento de potência de que a transformação pela cultura através da política é possível. A potência de um novo espaço-tempo de mudança geracional digital.

De poesias a cartas-propostas dos estados a vídeos de personalidades militantes do cenário cultural, buscou-se levantar a pauta da cultura como setor estratégico de um mundo e uma política na qual a cultura fosse vista transversalmente em todos seus aspectos do desenvolvimento humano.

(mais louco é quem me diz!!!!)

Um movimento que incindiu com a intenção de pautar as eleições, torna-se agora o fiscalizador, o proponente, o idealizador de uma nova política. A necessidade de institucionalização definitiva: políticas públicas!

Estamos tod@s junt@s escrevemos nosso manifesto Pau-Brasil da política.

Fazendo do viver trincheiras. Marcharemos Virtualmente

O Partido da Cultura agora inicia seus trabalhos.


contributor

Militante do Partido da Cultura, agente cultural, poeta, cineclubista. Integrante do coletivo Massa Coletiva do Circuito Fora do Eixo. Conselheiro de Cultura de São Carlos.

4Comentários

  • Felipe, 11 de novembro de 2010 @ 14:08 Reply

    Muito bom esse relato da experiência do Partido da Cultura. O Movimento só tende a crescer.
    Vida Longa

    Felipe Altenfelder

  • Otto Ramos, 12 de novembro de 2010 @ 16:17 Reply

    A construção realmente está sendo em todo o páis. Aqui no Amapá o Pcult avança, mostrando que a movimentação está organizada, caminhando mesmo no período de transição, pós eleições. Tem muito trabalho pela frente, e o Amapá está junto!

    Abs!

    Sigamos!

    @pcult_ap

  • angelo macedo, 17 de novembro de 2010 @ 14:48 Reply

    Quero ser atuante neste PCult.

    Vamos respirar e viver a cultura.

  • Leonardo, 18 de novembro de 2010 @ 16:35 Reply

    mande seu email que adiciono na lista Angelo!

    abs
    léo
    leobr@massacoletiva.foradoeixo.org.br

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