Se tivesse que escrever uma carta sem muita consciência de parecer ingênuo para não ferir sentimentos, diria com bastante clareza que FHC não foi um presidente, mas um gestor que operou, durante oito anos, um sistema de degradação moral, cultural, científica e econômica no Brasil.
Basta a lembrança de suas classificações resolutamente boçais com inesperada e assombrosa pobreza psicológica quando se referiu ao homem brasileiro, sobretudo, quando estava fora do país: se trabalhador, caipira! Se aposentado, vagabundo! Tudo em prol da “teoria nova” que generosamente entregou, de mãos beijadas e com uma profunda má fé, todo o patrimônio público a grandes banqueiros internacionais com todo o vigor da imoralidade.
Já é tempo de alguém com bastante traquejo e sensibilidade dar um sermão em FHC, e desabafar: tire essa máscara medíocre de espírito francês! Apresente um argumento, mínimo que seja, ou um ato da sua irônica estupidez que não tenha um límpido discurso imoral ou hipócrita!
Tenho um organizado temperamento que felizmente desenvolvi para lidar com o progresso dos estúpidos. Acho que as manifestações mais complexas são as divertidas e engraçadas que reservamos para um papo em coletividade, mas… Mesmo crendo que a galhofa nos ergueu diante da pureza lamacenta dos puristas, prefiro me fazer de embriagado e, assim, xingar a estupidez civilista.
Estou bastante farto de tudo o que beira o cinismo ao redor desse buraco. Esses espaços representam setores de um mesmo sistema perverso à sociedade.
Faz-se urgente a necessidade de ler os atos que ferem os fatos editados, enriquecidos de mentiras brutalizadas e reproduzidas pela vitrola de corda da grande mídia. Institutos como o Millenium, que andam com as manguinhas de fora e com seus mandamentos, tentam criar uma iconografia de época, e pratica com facilidade e qualidade de som, o canto da ave de rapina, englobando a costumeira prática de toalete para formar os núcleos golpistas.
A Febre dos Institutos/Fundações de FHC X O Fim da Era Vargas
Na necessidade de celebrar o desmanche do Estado, juntamente com a construção de um modelo de doutrina neoliberal oficial, o discurso “renovador” de FHC, com seu palavrório retórico, reduziu a pó o sentido simbólico de nação. O monarca privado, FHC, que se considera quitado diante da sociedade brasileira, cupinizou e deixou em frangalhos o corpo institucional do país com uma dívida que vai muito além de quaisquer números ou reflexões que se possa fazer de seu “Estado Diminuto”.
As privatizações e terceirizações feitas como um rito macabro e cheias de mistérios que singularizam a gestão do príncipe de cera, são fortalecidas pelos novos medalhões da meritocracia, os Institutos e Fundações que têm em seus maiores expoentes doutrinários a delicada preocupação de minar as instituições públicas e, consequentemente, desestabilizar a democracia brasileira.
A casa tucana é hospedeira dessa praga de Institutos-Fundações. E é nesta onda também que se revela uma forte característica da gestão FHC. Erguidos pelos conglomerados, os institutos, agora na oposição, evocam debates acadêmicos em encontros promovidos para fabricar catarses e fortalecer a idéia de franquia política que marca as grandes corporações.
Quando, em solene discurso, FHC ergue seu cajado contra A Era Vargas, anunciou que o Estado brasileiro seria apenas um apelido, pois as ações a partir daquele golpe liderado por ele contra, sobretudo o trabalhador brasileiro, promoveu a introdução de um grande espetáculo de sucateamento do Estado brasileiro em nome das regras do mercado.
Trocando em miúdos: o que se pretende como condição primeira nesse jogo de espelhos dos meritocratas, como os do Instituto Millenium, é criar uma linha demarcatória com fumaça intelectual ostensiva, aonde a sociedade é emocional, social e culturalmente uma massa inferior na esfera das decisões políticas do país, ficando confinada a um cárcere como agentes passivos, ao passo que, institutos e fundações privadas com protagonismo automático, inventam formas de agir dentro da própria subjetividade do progresso científico-cultural e assim interferir, de forma incisiva, nas principais decisões políticas da vida nacional.
Afinal de contas, por quem os sinos dobram?
Se hoje a imagem patriarcal do sociólogo FHC é apenas uma estátua empalhada que tenta periodicamente assombrar a democracia brasileira, o insuportável silêncio crítico de nossa arte é, sem dúvida, a exibição de uma das cartas seqüenciais do Royal-street-flash que a arquitetura de poder reserva em suas mangas.
Talvez, ao se verem na possibilidade de promover seus trabalhos nas galerias de belicosidade mata-piolho, algumas pessoas ligadas à cultura aceitam de bom grado a alocação de suas liberdades criticas nos frigoríficos privados das fundações-institutos.
A caricatura pública de pensador independente, de opinião temporal e semelhança estupenda com o pensamento dos bastidores do poder financeiro é uma criação de estilo muito próprio dos revolucionários de boticário. Um patuá abre-caminho de roteiro pra lá de manjado.
Quando se joga com essa espécie de cartel estético, as instituições privadas estabelecem um limite cênico aos atores do pensamento artístico. Sem opinião autêntica, a metafísica é a receita oferecida para substituir a paixão e a realidade brasileira é editada com exercícios físicos para exibir o medíocre pensamento muscular sem conteúdo crítico algum.
O fato é que a identidade cultural postulada por institutos e fundações é uma identidade de conceito meramente estatutário, de depósito, de guarda-livros doutrinários. Assim, de posse dessa massa de modelar, a primeira Companhia da Infantaria Corporatocrata encaixota, formula e rotula a nova doutrina cultural brasileira em seus confortáveis institutos culturais.
Se os grisalhos cabelos do príncipe nos ofereceram a rasteira intelectual após a exaltação de suas posses científicas, o canibalismo voraz anda a solta como uma coceira golpista que só aumenta nos corredores das grandes corporações e da grande mídia. É nessa hora que o alerta vermelho acende para nos alertar que é hora de entendermos melhor o quanto tudo isso pode custar à vida democrática brasileira.
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