Foto: Sra.Mozart

Vale apresentar uma série de apontamentos para o Estado reforçar sua agenda em relação à cultura, buscando um novo paradigma para as políticas culturais que seja mais abrangente, comparado ao modelo econômico atual. Para inserir a cultura como prioridade na agenda econômica e social dos governos é preciso haver um aumento da interlocução entre esta pasta e as outras instâncias governamentais. A tomada de decisões deve levar em conta os fatores culturais de uma sociedade

Uma união mais significativa, talvez até uma fusão entre os ministérios da cultura e da comunicação, a exemplo do que acontece na França, torna-se urgente, uma vez que as decisões no campo da comunicação social têm inequívoco efeito cultural, sobretudo com o advento da Internet, das redes socias e da cultura digital como um todo.

As distorções são enormes nessa área e tornam todos os outros esforços praticamente sem efeito, diante da força da comunicação e difusora da cultura nacional concentrada nos meios de comunicação de massa.

Esses apontamentos levam em conta:

– Implementação de um sistema público e autônomo de financiamento às artes, diminuindo a dependência dos artistas em relação aos programas de incentivos fiscais e de verbas governamentais.

–Investimento pesado em infra-estrutura, com equipamentos e programação adequados para a difusão cultural em todo o país.

– Aprimoramento e institucionalização do programa Cultura Viva, universalizando-o.

– Ampliação e transparência do orçamento.

– Gestão republicana, com editais transparentes e desatrelados do poder público.

– Reformulação do Sistema Nacional de Cultura para definir com clareza os papéis da federação, dos estados e municípios.

– Revisão dos processos de concessão pública de TV para eliminar o atrelamento a oligarquias políticas e econômicas.

– Criação de mecanismos de regulação, que contemplem TV aberta, TV digital, cabo, satélite e telecomunicações,
com transparência e participação da sociedade civil.

– Valorização da TV pública como forma de garantir o acesso à população de uma programação educativa e de  qualidade.

– Desenvolvimento de um projeto de banda larga público, que facilite o acesso de toda a população à internet.

– Apoio e incentivo às ações privadas de mecenato que demonstrem maior capacidade de compartilhar os desafios
públicos com o Estado.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

3Comentários

  • Fique por dentro Cultura » Blog Archive » :: CULTURA E MERCADO :: o blog das políticas culturais. » Blog …, 22 de outubro de 2009 @ 11:03 Reply

    […] culturais que seja mais abrangente, comparado ao modelo econômico atual. … fique por dentro clique aqui. Fonte: […]

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 29 de outubro de 2009 @ 23:39 Reply

    Leonardo
    Gostaria de propor uma reflexão sobre um ponto que se desmembra em múltiplas questões.
    Nas minhas andanças, sobretudo nas minhas palestras, observo que vivemos uma ditadura de técnicas. Isto é um fato. A transferências de valores na música tem produzido uma demanda de conceituações, esquemas, tabelas, nomenclaturas que refletem uma montanha de artifícios contraproducente para a própria música.
    É perceptível que trata-se de um capricho que chega na prática artística por osmose, de um nascedouro que se esconde num ambiente mecânico.
    Fica claro que há um descompasso entre a sociedade e o mundo artístico. Enquanto a sociedade busca o autoconhecimento, suas relações de memória afetiva com a arte, o embrião técinico, por outro lado, agora hipertrofiado, propõe uma acentuada inclinação para o esfriamento nessas relações, sociedade e mundo cultural.
    Os novos atores que representam o universo cultural estão certos de que acumulam conhecimento prático dentro da formalidade e das novas técnicas. A sociedade sente na alma que esse mundo cada vez menos o representa.
    A redundância em forma de releitura, agora bem mais técnica, não traz nenhum tipo de postura que alavanque a criação, a independência, a quebra da ordem vigente, ao contrário, a seletividade técnica neutralizou esse imprescindível sentido artístico. Estamos mesmo vivendo a máxima de “quanto mais eu rezo, mais a assombração me aparece”. O que parece é que ninguém quer colocar a mão nessa cumbuca, mesmo vendo a escassez das relações afeitvas se ampliarem na arte. Esse deserto é sim fruto de uma combinação que tem produzido uma paralisia na criação contemporânea. Envelhecemos o Brasil pela técnica. Aleijamos a alma criativa de jovens que estão chegando agora. É fácil observar isso pelas perguntas que me fazem em palestras. En quanto, na minha fala, estimulo a criação, extrair deles um sentimento natural, eles, nitidamente já catequizados, vivem a ilusão faminta de adquirirem novas técnicas e reproduzirem o mesmo tema, os mesmos sons com novos componentes técnicos. A sociedade claramente, por uma questão de instinto, reprova toda essa dinâmica que se revela uma retumbante ditadura técnica.

    Por isso lembro que o que não pode faltar em uma agenda mínima cultural é o sentimento
    Grande abraço.

  • Aldo Valentim, 1 de novembro de 2009 @ 13:05 Reply

    Olá, boa proposta Leonardo.
    entretanto considero que precisamos incluir mais alguns pontos:
    a) investimento na formação de pessoal específico para gestão cultural e concepção de politicas publicas para o setor cultural; a cada governo temos uma oscilação integral dos corpos tecnicos e administrativos, impedindo que politicas e programas continuem, e os que chegam querem inventar nova roda.
    b)investimento pesado em descentralização cultural, começando pelo próprio MINC que deveria ter uma representação eficiente em cada capital de estado e outra em uma cidade importante do interior desse estado, facilitando assim o fluxo das demandas, diálogos etc.
    c) ainda no campo da descentralização, ampliar as verbas regionalizadas, pois com um recorte territorial menor, poderemos antender mais as especificidades e demandas de micro regiões;
    d) ainda em descentralização: construção de equipamentos culturais (cinemas, teatros, espaços multi uso) há muitos editais para criação de novos produtos culturais, mas falta espaço e infra estrutura para apresentá-los.
    Concordo com a fusão de ministério, da forma que está já é provado que não avançaremos muito.

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