Na última segunda-feira,12, no Teatro do Supermercado Extra, a nossa classe artística deu uma clara e definitiva demonstração de unidade e força ao rechaçar massiçamente a bolivariana, messiânica e autoritária reforma que o Ministério da Cultura apoiado pela Fundação Ford, pela ONG estadunidense Creative Commons, pela empresa Google e outras forças anti-nacionais e dirigistas querem implantar no território brasileiro.

Tal como os russos quiseram outrora importar à força o comunismo no Brasil, desestabilizando a democracia pátria, agora são as empresas de Internet e telefonia que querem trazer para nossa legislação os conceitos estrangeiros e mercantilistas do copyright para nos subtrair a cultura brasileira.

Apoiando essas iniciativas escusas, jovens alienados, defendendo uma simplista “cultura livre”, “imbuídos de má fé ou de manifesta ingenuidade nem sequer se apercebem de que pagam por tudo na conta de telefone, na conta dos provedores e na publicade”. É a Google, a Telefônica e a Fundação Ford que financiam a cultura livre, querendo extirpar do Brasil a sua rica cultura e apropriar-se “livremente” do espólio da reforma do direito de autor.

Por sorte, empresas fortemente associadas à cultura brasileira, como a Motion Picture Association do Brasil, a Sony, a Warner e a nacionalíssima rede Globo estão alertas para o conluio entre o imperialismo do Creative Commons e o autoritarismo do eixo bolivariano, que já tentou criar sem sucesso a Ancine, o Conselho Nacional de Jornalismo e agora quer reformar o direito de autor e a Lei Rouanet.

Contra esse acintosa ameaça à cultura brasileira, manifestaram-se artistas como Zezé Mota que, desde a difusão do disco de vinil luta contra as mudanças tecnológicas que prejudicam os artistas. Como bem disse, em inspirado depoimento, “se náo fosse pela fita cassete, pelo videocassete e pela moviola, os artistas hoje estariam em muito melhor situação financeira”. O músico Walter Franco, acusou de “falta de tutano” aqueles jovens tolos que apóiam sem pensar essas novidades tecnológicas “como a Internet”. “Onde estão os artistas e intelectuais que podem pensar com independência, desvinculados de agendas eleitoreiras e de modas tecnológicas passageiras, temas tão importantes como o nosso querido direito autoral? Desde 1975, quando lancei ‘Revolver’, já me manifestava contra a lei de direito autoral de 1973, por incluir invencionisses que modificavam o saudoso código português dos tempos do Império.”

Do lado das associações de classe, o jurista Dalton Morato, representante da literária Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, deu um ilustre depoimento em defesa do uso do livro original: “Vocês contratariam para decorar a sua sala um artista plástico que estudou com xerox?” Já o representante da ABRAMUS, Roberto Corrêa de Melo, lembrou que o direito autoral como verdadeiro direito da pessoa não pode estar subordinado ao direito do consumidor: “O direito autoral é do autor, é propriedade privada, como o patrimônio que construí com o meu suor e que só tenho porque fui industrioso e não indolente. Será que agora, sob o pretexto de defender o consumidor, devemos permitir que pessoas, só porque pagam impostos e querem ‘participar da esfera pública’ devem ter acesso ao conhecimento? Eu acho que não! A cada um, o que é de cada um!”

Foi assim, em tom de afirmação da propriedade privada, da crítica da censura bolivariana e do imperialismo do Creative Commons e num rechaço unânime âs novas tecnologias que se fundou o novíssimo Comitê Nacional de Cultura e Direitos Autorais. Que tenha uma vida longa!


contributor

17Comentários

  • Arakin Monteiro, 15 de abril de 2010 @ 21:01 Reply

    Oi Cristiana, parabéns pelo texto!
    Também estive no evento e escrevi um texto. Coloquei em:

    sss://arakinmonteiro.wordpress.com/2010/04/13/industria-cultural-funda-entidade-as-pressas-em-meio-a-acusacoes-conspiratorias-o-cncda-conselho-nacional-de-cultura-e-direitos-autorais/#comment-20

  • Jan Moura, 16 de abril de 2010 @ 10:19 Reply

    Quanto retrocesso. Enquanto toda a vida, todo mundo caminha para um lado, nós saudosistas de tempos outros insistimos em caminhar contra a maré. Que declaração é essa: ”aqueles jovens tolos que apóiam sem pensar essas novidades tecnológicas “como a Internet”. Estamos falando de “acesso”, ninguém é obrigado a disponibilizar sua obra em creative commons, direito é direito, e todo artista tem direito de pegar sua obra e esconder em sue armário… coisa que lhe dá muita vantagem. Será?

  • gil lopes, 16 de abril de 2010 @ 12:54 Reply

    Ou seja, uma confusão danada…acho que no fim não sobra ninguém…nem o super homem conseguiu voltar a história, voltar a andar à cavalo pelos centros urbanos do mundo é uma opção…utópica? vá lá…se queremos novas utopias podemos abraçar uma dessas…francamente. Saudades? …do futuro.
    Pronto, na Inglaterra, onde se leva a sério a questão da Cultura , foi aprovado semana passada a nova regra para a circulação de arquivos protegendo o direito autoral..vamos copiar? Somos bons nisso, mas vamos copiar o que presta. Alo alo Luana, nossa repórter avançada do C&M, tem os termos aí?
    Vamos andar pra frente!

  • Carlos Henrique Machado, 16 de abril de 2010 @ 13:35 Reply

    O delirio é mesmo total.
    Este artigo de Marco Aurélio Weissheimer(carta maior)tambem é um belo exemplo de como lidar com essa verdadeira epidemia esquizofrenica.

    sss://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16529

  • André, 17 de abril de 2010 @ 17:17 Reply

    “Tal como os russos quiseram outrora importar à força o comunismo no Brasil, desestabilizando a democracia pátria”

    Como assim? Não foram os russos que apoiaram o golpe de 64.

  • Daniel Lopes, 20 de abril de 2010 @ 2:18 Reply

    Não entendi muita coisa do texto… talvez eu não tenha a sabedoria do nativo brasileiro… Aliás, qual mesmo é o povo nativo do Brasil?

    O que eu sei é que sou português, a autora do texto, pelo sobrenome, parece ser hermana e o apelido do meu vizinho é Schumacher!

  • Fidelis, 21 de abril de 2010 @ 19:02 Reply

    Mas quanta baboseira. Não acredito que alguém com o minimo conhecimento de cultura e mudanças tecnológicas tenha escrito isso.

  • Leonardo Brant, 21 de abril de 2010 @ 23:48 Reply

    Eu adorei o texto. Ela consegue, com bom humor e discontração, apresentar os equívocos das leituras rasas e preconceituosas de dois lados da mesma moeda. Demonstra, por isso, como a discussão sobre direitos autorais não pode ser pautada por religiões e ideologismos baratos. E sim pela compreensão da complexidade do tema. Abs, LB

  • Ana F., 22 de abril de 2010 @ 14:22 Reply

    Putz, é sério que eu li isso aqui? Não saquei a ironia.

  • Rodrigo, 24 de abril de 2010 @ 17:28 Reply

    Um Comitê Nacional de Cultura e Direitos Autorais, que ainda por cima ataca abertamente a cultura livre?

    Uma idéia tão estúpida e anacrônica — velar pelo copyright em plena era do copy-paste — merece um artigo irônico assim.

    Seria fácil demais falar mal dessa camarilha sem ironizar. Parabéns.

  • gil lopes, 25 de abril de 2010 @ 1:27 Reply

    Desculpe companheiro mas estupidez é continuar batendo a carteira do outro e reproduzir desemprego e deseconomia. Anacrônico é investir na velha Ordem, achar que a Nova Cultura será anárquica e decretar o fim da propriedade. Perdeu e vai continuar perdendo, é fórmula velha e ultrapassada para dialogar no capitalismo atual. É preciso mais imaginação, muito mais ara avançarmos o mais breve possível para a produção de riquezas através da Nova Cultura e seus novos meios, queremos crescer, precisamos crescer. Nominar camarilhas é fácil, difícil é construir a Nova Ordem com o pensamento entupido por uma utopia ultrapassada. Novas utopias!…mas cada um tem o direito de pensar como quiser companheiro…

  • gil lopes, 25 de abril de 2010 @ 1:32 Reply

    e completando, o que falta é educação…falta aprender a ser livre…cultura livre não pode ser o direito de avançar sobre a propriedade alheia, sobre a criação do outro, sob a chancela ai ai da necessidade de informação…se for pra avançar, que tal pensar em avançar na prateleira dos supermercados? ou ocupar os imóveis vazios? sair nos carros estacionados? muito mais justo do que avançar sobre a composição da música alheia, do livro, do filme alheio, sem pagar nada e sem a autorização de quem criou…é melhor investir num remédio para aplacar a sede larápia da burguesia enfurecida e desgostosa, sedenta, ai ai, de informação…francamente…um mata leão nessa gente!

  • Renato Leite, 25 de abril de 2010 @ 11:45 Reply

    Já estava achando o texto muito estranho, mas ao ler que a Sony, a Warner, a MPA do Brasil são “empresas fortemente associadas à cultura brasileira”, obtive a certeza de que algo estava errado. Tive que ler o “manifesto” de fundação do Comitê Nacional de Cultura e Direitos Autorais (obrigado Arakin) para captar a ironia do texto da Cristiana.

  • gil lopes, 25 de abril de 2010 @ 15:10 Reply

    desculpe a insistência mas é importante saber: a Sony, a Warner, não são “empresas fortemente associadas à cultura brasileira”???? claro que são…alguma dúvida? é só ver quantos empregados e por quanto tempo, com que artistas esteve em parceria, enfim…quem pode negar? uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa…

  • Guilherme Varella, 27 de abril de 2010 @ 17:16 Reply

    Ótimo texto da Cristiana. Temos que batalhar para que saia logo a consulta pública da reforma da LDA, para que possamos debater com a sociedade. Uma rede de organizações já se propõe ao debate público e aberto: pelo equilíbrio entre proteção do autor e interesse público. Rede pela reforma da LDA: sss://culturadigital.org.br/site/lda

  • CNCDA – ECAD organiza evento reacionário no Rio de Janeiro « e-trabalho – Arakin Monteiro, 13 de junho de 2010 @ 13:12 Reply

    […] evento reacionário organizado pela ABRAMUS em São Paulo no dia 12 de abril (leia também “O supermercado da cultura” de Cristiana Gonzales). De lá para cá, eles têm pressionado o MinC e a Casa Civil para que apresentem uma versão mais […]

  • Janaína de Castro Alves, 16 de junho de 2010 @ 14:01 Reply

    Isso é uma piada?
    Mas é claro que é uma piada né?
    Não cabe nem argumentar, só cabe lamentar por essas palavras tão reacinoárias.

    Acorda minha filha, estamos em 2010!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *