Dizer que o modo como a informação circula hoje em dia mudou já virou clichê. Falar das novas tecnologias, da possibilidade de qualquer pessoa ser um comunicador para as massas, das mudanças nas relações entre marcas e público, já faz muita gente pedir encarecidamente: “Ok, mas qual é a novidade?”.
No entanto, por mais que a comunicação esteja facilitada, comunicar bem ainda é algo que nem todos conseguem. E na área cultural, muitos produtores e artistas ainda se atrapalham quando precisam definir o quê e como fazer para divulgar seus trabalhos.
“Houve um tempo em que os cadernos de cultura pautavam as grandes gravadoras”, lembrou o jornalista Alexandre Matias na abertura da mesa sobre comunicação no mercado da música, durante a Semana Internacional de Música de São Paulo, em dezembro passado. Hoje em dia, quando grandes gravadoras já não são mais tão importantes, e com o declínio da mídia impressa, isso mudou. No entanto, ainda é importante.
Para Francine Ramos, produtora e assessora de imprensa, o artista quer reconhecimento do público, mas também da crítica. “Mesmo com as redes sociais cheias, ele quer um aval do especialista”, afirmou no debate. Além disso, a maioria dos contratantes quer o aval de um grande veículo. “Isso faz crescer os olhos dele, embora ser capa de uma Ilustrada já não garanta mais casa cheia.”
A jornalista e também assessora de imprensa Nathalia Birkholz lembrou que o mailing da agência Inker – que trabalha com diversos artistas independentes e festivais nacionais e internacionais – mudou nos últimos quatro anos. Incluiu agências de conteúdo e de publicidade, por exemplo. “Hoje não basta mais falar apenas com a imprensa, tem que falar com o cara que forma opinião no meio musical, os blogs especializados e, especialmente, as agências de conteúdo”, afirmou.
Daí que a divulgação de um novo trabalho vira um trabalho de formiguinha. “Sair em um blog muitas vezes abre para outro. Aí isso vai crescendo e às vezes chega no grande”, disse Francine. Mas para chegar no grande, é preciso haver planejamento. “Criar uma banda com um conceito, formar o trabalho, é muito importante pra conseguir o sucesso. Tem um trabalho de base a ser feito”, lembrou Matias.
Planejamento – Para Nathalia, além do trabalho de base, é preciso ter um trabalho de equipe: empresário, produtor e assessor dedicados. Ela lembrou que, se para o patrocinador ainda importa que o artista esteja na grande mídia, para o fã não. Então o planejamento deve prever quem se quer atingir.
Nas redes sociais, o trabalho de equipe mostra-se ainda mais importante. “A banda precisa tocar, e a assessoria é uma ponte, que quer amplificar ao máximo o trabalho, fazer chegar não só pra quem já é fã, mas pra quem ainda não conhece também”, indicou Francine.
Ao mesmo tempo, é muito importante que o próprio artista também cuide das suas redes, como afirmou Piky Candeias, que desde os anos 1990 atua como assessora de imprensa, tendo passado por grandes gravadoras e nos últimos tempos trabalhando na sua Batucada Comunicação com artistas tão diversos como Jota Quest e Cidadão Instigado, Maria Rita e Lirinha.
Para ela, faz muita diferença ser o própria artista o dono daquele espaço. “O público percebe. E é isso que lota shows”, defendeu, sem menosprezar a mídia tradicional. “Sempre vai precisar de assessoria de imprensa. Ainda é importante ter uma crítica boa de um jornalista conhecido. Ainda é preciso enviar os discos para as redações, e o artista ainda espera que um crítico escreva sobre o disco dele.”
Ela contou que, com a falta de controle da informação e com as redes sociais, hoje é preciso combinar com o artista para não colocar uma foto no Instagram, por exemplo, se está negociando uma entrevista exclusiva. Por isso a importância de um bom planejamento. “Antes, lançar um disco era uma notícia. Hoje em dia qualquer um lança. Então o artista precisa fazer mais coisas além disso: fazer mais shows, lançar coisas aos poucos na internet, ir criando redes. Se articular com outros artistas de linguagens e ideias parecidas também ajuda muito”, orientou Piky.
Larissa Marques, da Agência Lema, criticou o artista que já procura uma agência de comunicação querendo ser grande. “Todo mundo quer. Então é preciso analisar isso. É preciso pensar no seu público primeiro”, disse.
Ela sugere começar onde estão suas referências, com veículos de nicho e blogs. Depois começar a pensar nos programas de TV, rádio, fazer audições exclusivas, etc. “É um trabalho contínuo. Ninguém faz milagre. E se às vezes, mesmo com todo o trabalho, o artista não aparece, a questão nem sempre é que a assessoria é ruim: às vezes o disco é ruim”, apontou.
“É difícil dizer para um artista que o disco dele é ruim, porque música é questão de gosto”, completou Piky. “O artista sempre acha que seu trabalho é maravilhoso, e quando o disco não sai na imprensa, ele acha que a assessoria não trabalhou direito. Mas às vezes, mesmo se o disco é bom, ele não é prioridade no momento.”
A questão mais importante, então, não é estar em todas as redes sociais ou nas capas dos principais jornais, mas saber o que se quer com cada um deles e quais são as suas especificidades.
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