Ópera. Esta palavra suscita alguns equívocos. Por vezes, traz-nos à mente cantores líricos arrogantes, enredos intermináveis, maestros pomposos, grandes aparatos cênicos, uma multidão de black-tie e senhoras de longo munidas de mini-binóculos dourados. Com essa referência a estereótipos tradicionais iniciei a palestra com o tema “Ópera como gênero teatral” a uma platéia atenta na última semana, no Cemuni IV,  na Universidade Federal do ES.

Pois bem, essa forma sofisticada de manifestação artística do mundo ocidental acabou de completar 400 anos de existência contados a partir da estréia de Orfeu de Monteverdi em 1607. A par das merecidas comemorações nos maiores teatros europeus e brasileiros aproveitou-se a ocasião para se debater o futuro da ópera em um mundo dominado pelas novas tecnologias e com novos paradigmas de consumo do produto artístico e do espetáculo.

As questões relativas ao financiamento de grandes óperas; a necessidade de programas pedagógicos e educacionais que aproximem as novas gerações dessa manifestação artística; a utilização de novas formas de difusão, através do audiovisual e do cinema, e a massificação do espetáculo operístico apresentado para milhares de pessoas em megaespaços, foram alguns dos temas levantados e discutidos.

Em todos os países do mundo, o poder público atua patrocinando espetáculos de ópera, pois a sua encenação torna-se inviável sem um investimento público, devido aos custos elevados, necessários para uma montagem de qualidade e com bons profissionais.

Apesar da aparente crise de identidade da ópera e de sua busca de novos espaços e públicos, vale citar um dado importante. Segundo estimativas feitas por instituições européias, a ópera é o espetáculo público de maior crescimento nos últimos anos, em quase todos os países ocidentais, depois do cinema e do futebol.

Deve-se ressaltar que a ópera foi alçada à categoria de espetáculo midiático também em função da participação de ícones do canto lírico em eventos de grande apelo público. Mesmo sendo ainda considerada uma arte elitista, ela apresenta um dinamismo surpreendente pela popularização e pelo interesse dos grandes patrocinadores.

O maior desafio de uma encenação operística, além do vigor dos cantores e da presença marcante da música, é a ênfase na teatralidade e na movimentação cênica. Mesmo sabendo que cabe à música a contribuição mais importante, o elenco deve estabelecer uma perfeita sintonia entre o canto, os gestos, a caracterização dos personagens, a movimentação e a música. Só assim a ópera se realiza integralmente potencializando todos os seus elementos constitutivos.

Essa aproximação maior entre profissionais do teatro e da música deve proporcionar novos impulsos à ópera destituindo-a de possíveis aspectos museológicos e ultrapassados – como se ela fosse um gabinete de curiosidades que oscila entre o ridículo e o sublime – tornando-a um reflexo vivo e fascinante do homem de nossa época.

No Espírito Santo, a ópera tem alcançado aos poucos um público amplo e interessado.  E tudo indica que assim deve continuar.


Gestor Cultural, diretor de teatro, dramaturgo e tradutor. Foi gerente na Secretaria de Políticas Culturais do MinC e é sub-secretário da cultura do Espírito Santo.

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