No final de fevereiro estive no prédio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, no bairro da Mooca, para conversar com Carlos Sodré. Em março de 2011, ele assumiu a Gerência de Produtos Editoriais e Institucionais da IOESP, e recebeu o Cultura e Mercado para falar sobre os desafios e propostas da sua área.
Sodré já passou pela Secretaria de Cultura do Estado e pelo MASP – entre outras instituições – e foi convidado pelo diretor de negócios da Imprensa Oficial para ajudá-lo na nova gestão da editora. Entre os desafios, estava conhecer todo o processo de trabalho, já que a Imprensa Oficial tem uma característica especial: é uma indústria gráfica pública, portanto sujeita às regras a que as empresas públicas estão submetidas, mas precisa atuar no mercado. “Temos regras pra comprar, regras pra vender, temos um estatuto que nos regula, temos o controle do tribunal de contas, controle de capitais do Estado. Todas as nossas ações são de uma empresa pública, porém nós somos uma indústria que tem que concorrer no mercado”, explica Sodré.
Criada em 28 de abril de 1891, a Imprensa Oficial tinha como função inicial ser uma gráfica, estratégica para o governo, a partir do momento em que supriria a necessidade de publicação de materiais do Estado, com a agilidade necessária a ele. O lançamento no setor editorial aconteceu mais de 100 anos depois de sua criação. A Lei 11.455, de 2003, conferiu a ela o status de editora, o que garantiu autonomia para editar seus próprios livros, revistas e outras publicações de interesse público.
Relevância histórica, cultural e social estão entre os critérios da empresa na escolha dos livros a serem publicados. Os livros da Imprensa Oficial compreendem obras editadas por ela e co-editadas em parceria com universidades públicas, fundações, instituições sem fins lucrativos e ONGs (organizações não-governamentais). São mais de 500 títulos publicados e inúmeros premiados. Só do prêmio Jabuti de 2011 foram sete estatuetas, com livros de arquitetura e urbanismo, arte, tecnologia e informática, didáticos e paradidáticos.
Definir o que será publicado ou não é outro desafio de Sodré. Quando assumiu o cargo, ele se deparou com um quantidade de material que aguardava definição e direcionamento. “Eram livros, por exemplo, que estavam no catálogo de 2011, mas que por razões várias não foram produzidos. Razões de ordem legal, técnica e editorial, e até mesmo razões de acúmulo”, explica.
Para ajudar a definir o que vai ser lançado, de maneira mais impessoal, foi criado um conselho editorial. “No momento em que você amplia o colégio decisório, você despersonaliza a decisão. O que é de interesse do Estado, universitário, acadêmico, cientifico, histórico, e é isso que é levado em consideração. O papel do conselho é a definição de um foco um pouco mais fechado da produção editorial, que ainda é um pouco aberto. Publica-se um pouco de tudo, mas se você olhar o histórico de todos os anos em que a Imprensa Oficial que vem publicando obras, você percebe que alguns focos têm mais resultados, mais aceitação”, diz ele.
Mercado – Esses focos são os que dão à Imprensa Oficial mais sucesso e premiação. As obras geralmente mais conhecidas, mais procuradas e mais vendidas são, segundo Sodré, das áreas de arquitetura, história e artes. Em 2011, por exemplo, de mais de 43 mil exemplares vendidos, o que mais saiu foi o livro “Mário Covas: democracia, defender, conquistar, praticar”, uma homenagem ao ex-governador, organizado por Osvaldo Martins – em toda a história da editora, o título mais vendido foi “História Concisa do Brasil”, de Boris Fausto.
A coleção Aplauso, embora seja mais conhecida e tenha repercussão na mídia, ainda não encontrou um significado editorial para a Imprensa Oficial, segundo Sodré. Ao contrário da Coleção Essencial, feita em parceria com a Academia Brasileira de Letras, que faz bastante sucesso, trazendo livros pequenos, de fácil leitura, alta qualidade e baratos. “É muito usada por quem está para prestar exame, concurso, vestibular”, conta o gerente.
Sodré diz que, por ser uma empresa pública, não terceirizar funcionários na gráfica e ter todos registrados em carteira, além das tiragens baixas, os preços dos livros da Imprensa Oficial acabam muitas vezes sendo maiores que os de editoras comuns. “Nós temos um público em específico e não temos uma política comercial. Eu não gasto dinheiro com propaganda, então quem nos procura é porque conhece o autor ou o tema, é interessado naquilo. A gente sempre procura fazer da maneira mais barata, mas com todas as exigências de qualidade. Nosso livro é reconhecidamente de alta qualidade, e isso é uma política que sempre foi respeitada.”
Era digital – A Imprensa Oficial é uma empresa que atua na área tecnológica fortemente, por ser uma autoridade certificadora, mas a editora ainda tem muito o que crescer com relação à era digital. Apenas 280 livros estão digitalizados, e em txt e pdf. Sodré explica que isso acontece porque os livros publicados têm, na sua maioria, características especiais. Livros que têm muitas imagens, como os de arquitetura, por exemplo, exigem do leitor um bom computador e internet banda larga de maior velocidade.
Também ainda não existe um trabalho nas redes sociais, mas no ano passado foi inaugurada uma loja virtual, com as técnicas mais atuais de pagamento e acompanhamento, visando facilitar o acesso do público. Professores da rede estadual de ensino e da Fundação Paula Souza têm desconto, e o objetivo é avançar. “Temos acertos a serem feitos, para passar à era digital completamente”, afirma Sodré.