Qualquer tentativa de mudança de um dispositivo legal da relevância de uma Lei Rouanet, que disponibiliza cerca de R$ 1 bilhão por ano para a produção cultural brasileira, deve ser precedida de análise criteriosa e científica, com base em estudos técnicos, discussão transparente e participação democrática. Será que o processo iniciado pelo Ministério da Cultura cumpre alguns desses quesitos básicos da boa gestão pública?
No intuito de proteger a sociedade de uma possível gestão ideológica em torno da Lei Rouanet, solicitamos do Ministério da Cultura, dentro do processo de diálogo há pouco inciado, sobre alguns dados que podem ser extraídos de forma muito simplificada por qualquer sistema de processamento de dados (que deveriam ser) públicos.
Qualquer mudança proposta para a Lei Rouanet deve ser resultante do conhecimento profundo dos impactos, positivos e negativos, gerados pelo mecanismo. Por isso Cultura e Mercado preparou um guia de perguntas, que pode ser livremente aprimorado e ampliado pelo leitor. A idéia é constituir uma base analítica que nos ajude a formular propostas concretas para um instrumento tão vital para o setor cultural e para a sociedade brasileira, mas que infelizmente tem sofrido descabidos ataques do próprio poder público, que mostrou-se incapaz de geri-lo de acordo com a sua real potência para a economia da cultura.
Enquanto a sociedade não souber responder as questões abaixo não poderá entender o que representa a Lei Rouanet em sua dimensão econômica e sociocultural. Ao finalizarmos a consulta, encaminharemos as questões ao Ministério da Cultura na quarta-feira, quando teremos o terceiro “Diálogos Culturais”, na cidade São Paulo:
– Qual o número de empresas culturais beneficiadas, direta ou indiretamente, até hoje pelo mecenato? Qual o perfil dessas empresas? Como se deu o crescimento e a consolidação dessas empresas diante do mercado? O mecenato auxiliou em sua evolução empresarial? Qual o grau de dependência desses negócios em relação à Lei?
– Quantos postos de trabalho são gerados anualmente com o mecenato? Qual a arrecadação de impostos resultante dos processos econômicos iniciados com o mecanismo?
– Quantas ações iniciadas com o mecenato continuam com “as próprias pernas”? Qual o impacto econômico dessas ações continuadas em termos de arrecadação de impostos e geração de postos de trabalho?
– Quanto dinheiro não incentivado circula no mercado por processos iniciados com a Lei Rouanet? O que isso representa na economia da cultura (postos de trabalho, arrecadação de impostos…)?
– Quantos projetos de organizações comunitárias são atendidos pelo mecenato? Como o investimento privado em cultura potencializou essas comunidades em termos de número de atendimento e impacto nos modos de vida?
– Em relação à inserção econômica de processos culturais independentes, quantos novos agentes de mercado foram gerados pelo mecenato e quantos ainda dependem do mecanismo?
– Quantos livros, discos e DVDs são realizados anualmente com o mecenato? Qual o impacto de sua distribuição e acesso? Podemos relacionar esses dados com outros programas, como Cultura Viva e Bolsa Família, para saber se os produtos culturais chegam a quem mais precisa?
– Quantos beneficiários de outros programas do MinC, como o Cultura Viva, os editais e o FNC, são beneficiários também do mecenato? Qual o peso de cada um na vida econômica desses agentes?
– Quantas bibliotecas, centros culturais, teatros e cinemas são mantidos anualmente com a Lei Rouanet? Qual o impacto de suas ações na sociedade brasileira?
– Quantos artistas, produtores e técnicos vivem hoje exclusiva ou parcrialmente de processos patrocinados pela Lei Rouanet? Como se dá o comportamento dessa relação de dependência com a Lei ao longo da carreira?
– Quantas empresas possuem políticas culturais e departamentos específicos para cuidar da relação com o investimento privado? Quantos postos de trabalho foram gerados por esses departamentos? Como se deu a evolução do processo?
– Quanto o interesse público está sendo pautado dentro dessas empresas? Como se dá o processo de evolução de uma ação meramente promocional para uma atitude mais responsável?
– Qual o perfil dos 20 maiores proponentes da Lei? E os 50 e os 100 maiores? Quem são e o que fazem? Qual o percentual de verba captada é acumulado nas mãos dos maiores proponentes?
– Como se dá a concentração de verbas dentro das etapas da cadeia econômica de cada setor atendido pela Lei?
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