Px Silveira retoma a discussão sobre a Lei Rouanet, com uma análise do nosso estágio de desenvolvimento democrático, expondo as zonas de conflito em torno dos usos da lei

De todas as formas de relacionamento entre governo e seus cidadãos, a via democrática parece ser, ainda e inegavelmente, a melhor. Não por ser perfeita ou mesmo suficiente, mas por ser a única em que se pode debater e criticar abertamente não apenas seus atores, mas até ela mesma, chegando-se a uma meta-crítica; o que faz com que suas fraquezas possam ser vistas, também, como suas fortalezas. E assim tem sido desde os inícios dos tempos ditos democráticos –e assim será, até os governistas de plantão o permitirem.

No que diz respeito especificamente à área da cultura, vemos agora mais uma tentativa de desvio da via democrática. Para se chegar a essa conclusão, basta acompanhar o que está acontecendo com o lado administrativo da Lei Rouanet e o atual debate sobre ela.

Internamente, vive-se uma situação beirando o caos na Secretaria de Fomento do Ministério da Cultura. Os prazos de análise dos projetos não são cumpridos, a cada dia proclamam-se novas normas, em sua maioria inconstitucionais; comumente, os pareceres são equivocados, se não, risíveis; os orçamentos são cortados aleatoriamente, com o agravante de que uma redução de 50% no seu valor implica na rejeição do projeto; e as plenárias da CNIC passaram a ser meros encontros legitimadores de todo este circo.

No que diz respeito ao debate sobre a lei Rouanet, pobre e dissimulado, penso que ele ocorre por iniciativa do próprio Ministério para escamotear a sua inércia jurídica e falta de ação no tema. É interessante de se reparar que os artigos com os pontos de vista oficiosos surgem sempre assinados à quatro mãos. Seria porque eles precisam pensar aos pares, qual sertanejos da cultura, solista e acompanhante? Ou porque querem usar logo dois canos com receio de errar o alvo?

Seja qual for a resposta, o objetivo destes artigos é claro –e também simplista, demasiadamente. Apela-se para a manutenção de uma cultura pura, longe do mercado, e que está, portanto, longe de nosso tempo. Sem a preocupação de querer apontar novos caminhos viáveis por meio à complexidade do panorama contemporâneo, estes artigos, no geral, trazem o preconceito surrado de que a cultura não pode lidar com dinheiro. Como se fosse pejorativo à cultura ter números e expressão econômica. E como se coubesse à ela apenas o eterno papel de animação da corte, negando-lhe o direito de sustentabilidade e independência.

A estes patamares, o da independência e o da sustentabilidade, a cultura, como expressão de valores e trocas, somente poderá aceder se souber lidar per si com as normas de regulação da sociedade em que vivemos. Neste tecido social, qualquer coisa para ter valor e utilidade, tem que ter sua codificação, seu acabamento, sua produção, comunicação e decodificação para usufruto do usuário final. Qualquer outra fórmula que procure negar essa linha aqui retratada apenas razoavelmente, soaria arcaica ou, no mínimo, extemporânea. Podemos assim dizer que a cultura se expressa por meio da produção de produtos –e não há porque negar. Este fato é perfeitamente aceitável se não utilizamos de preconceito para entender o que seja um produto.

Digressões à parte, o debate sobre a Lei Rouanet vale pela pedagogia social nele implícita e pela oportunidade que temos de afirmar que não é a cultura que precisa da política, mas a política é que precisa da cultura. Longe de se verem inseridos na disputa do poder pelo poder, a produção, o acesso e o usufruto precisam desenvolver instrumentos e parâmetros estáveis para despertar de vez o potencial da cultura. Ao contrário do que parece desejar os representantes da via ministerial e suas vinculadas, para se realizar, a cultura não precisa do super aparelhamento dos quadros oficiais e tampouco necessita da centralização de um órgão discernido e onipresente.

Não resta a menor dúvida de que a cultura pode sobreviver sem o pomposo Ministério da Cultura –ao qual ela não deve nenhum favor. Mas é o Minc que não sobrevive dignamente sem a Lei Rouanet, que é hoje responsável pela execução do quádruplo do valor de seu orçamento anual, em média. E a prova disso é que se não estivéssemos falando de lei Rouanet, falaríamos de que deste Ministério? Temos, sim, os Pontos de Cultura e, bem ao largo, os infindos pontos de interrogação.

Mais que apenas números, é inegável que a simples manutenção da Lei Rouanet já representa um importante ganho da diversidade cultural do Pais. As cerca de 1.500 empresas que fazem uso anual da Lei, segundo dados do próprio Minc, determinam uma maneira plural de escolher e investir nos projetos, mesmo se concentradas nas regiões mais ricas do país, o que é umas das distorções que podem e devem ser corrigidas. A alternativa a este modelo seria a volta ao balconismo, com as nuances próprias aos arbítrios do poder.

Na verdade, o que tem incomodado –e com razão, é que a lei Rouanet está dando certo demais para uns e certo de menos para outros. Mas isso só deixa patente a necessidade de arranjos internos e externos (onde estão, afinal, as mudanças há tempos prometidas?), mas não é motivo para se ir contra a íntegra da lei, que tem bem mais acertos que erros.

Um dado subjacente ao debate, mas nem por isso menos importante, é que existe essa parcela ligada ao teatro, principalmente localizada em São Paulo, que sempre foi contra a lei de incentivo à cultura, pelo simples fato de que ela é uma renúncia fiscal que prevê o lucro na economia de mercado. Não é que, ao longo destes anos de implementação da lei federal, os membros dessa parcela tenham perdido espaço para as grandes produções incentivadas –que erroneamente taxam de concorrentes. A verdade é que essa turma nunca se dispôs a usar a lei. São grupos localizados, pertencentes a uma elite do pensamento quase elizabetano, o que no Brasil corresponderia a era pré-Collor –divisora de água para a atual lei. De braços cruzados, mas falando muito, eles esperam ver o renascimento de um tempo em que se acostumaram aos repasses governamentais sem muito esforço e, como não poderia deixar de ser, sem muitos resultados.

Estes atores insistem em ver unicamente o lado negativo da lei Rouanet. Não lhes interessa saber se ela é um instrumento jurídico que obviamente carece de aprimoramento, eles apenas fazem suas criticas e se recusam a lutar pelos pontos positivos alcançados, mesmo sendo alguns deles doublé de funcionário público, o que, estando do lado de dentro, teoricamente lhes permitiria um melhor trânsito na mudança da lei. Mas não é isso o que lhes interessa: adequar, complementar, aprimorar, evoluir. O que deve ser feito, na visão dessa parcela, é dinamitar toda e qualquer ponte em que não conseguiram instalar seus pedágios ideológicos.

Essa elite alternativa se dá ao luxo de nadar contra a onda e poder dispensar os parcos recursos que a lei acena para os comuns mortais. Seus discursos são intimidadores e levantam a poeira por um bom tempo, onde quer que passem. Mas fazendo sombra a todos eles, seja individualmente ou em companhia, podemos citar o exemplo do Oficina, que faz um teatro visceral e que nem por isso deixa de se permitir o patrocínio incentivado.

Tão certo quanto o fato de que a produção cultural não vive sem recursos, é o fato que nada é mais pernicioso a ela que a relação de favores que se estabelece entre culturas e balcões de repasse. Se é o governo que dá, como preferem alguns, ou o mercado, como conseguem os mais dedicados, isso faz muita diferença, inclusive na qualidade do produto artístico apresentado e na conseqüente compreensão e adesão do público, ou não.

É preciso muito cuidado com a visão monopolizante do Estado. Na cultura ela é ainda mais daninha. A supressão ou simples limitação excessiva de instrumentos legais de acesso aos recursos, sempre necessários, fará aumentar o flerte com o suborno social. Nestes tempos de subsídios do leite, do pão, da geladeira e da cerveja, pode-se chegar ao ponto de termos em breve a Bolsa Cultura para o produtor, como um dos exemplos.

O louvável, mesmo, seria ver o esforço do governo no incentivo de um maior consumo da cultura –e não só na sua produção. Neste sentido, seria providencial se fossem levados adiante os estudos para que os benefícios da lei Rouanet sejam aplicados não apenas na feitura dos produtos, sejam filmes, shows, espetáculos teatrais; mas também na compra e disponibilização de ingressos para o público, democratizando de vez o acesso.

Dado relevante é que o limite de renúncia fiscal para a lei Rouanet, valor que é estabelecido anualmente pelo Ministério da Fazenda, jamais foi atingido. Portanto, é falsa a idéia de que os mega projetos competem com os pequenos e com outros considerados mais pertinentes pela tábula ministerial, pois os patrocinadores daqueles só se interessam mesmo pelo tipo de produto que representa sua visão mega de mercado.

Vamos agora chorar por isso? Parar o jogo e levar a bola para casa? Vamos por isso aprovar que o governo dê repasses contínuos ao pessoal que faz teatro ao falar sobre a lei de incentivo? Acho que merecem um não. Pois não nos queremos platéia ou meros expectadores da dramaturgia política, somos os protagonistas desse drama.

Temos que saber utilizar e aprimorar todas as ferramentas ao nosso alcance. A cultura não tem alergia a dinheiro e nem teme ser também um bom negócio. Já o governo cultural, no seu natural papel regulador -e exercendo o esperado discernimento mínimo, deveria entender que no estágio incipiente em que nos encontramos, bom mesmo seria ter cada vez mais projetos e produções culturais na praça e no mercado, deixando-nos bem à vontade diante de nossa diversidade cultural.

O empresário patrocinador, os artistas, os produtores e o público, não são excludentes nem preconceituosos. Apenas querem fazer suas escolhas.

Px Silveira


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Executivo do Instituto ArteCidadania e Coordenador do Porto das Artes, em Goiânia, é autor dos filmes “Nove minutos de eternidade”, “Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, escritor” e “Amianto, I lobby you”, entre outros.

14Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 23 de abril de 2008 @ 11:58 Reply

    A incompetência, a histórica incompetência da questão do mercado de arte, é do mercado e não da arte. O absurdo é insistir nesse caminho. Não há purismo, há uma realidade, ao mesmo tempo em que há incompetência na gestão do mercado e ele age como todo ignorante, bruta-montes, pela força, deformando a arte para dar espaço ao mercado. É difícil as pessoas compreenderem que quando fazemos uma arte de olho nos benefícios financeiros que ela possa nos trazer, ela já está contaminada, distorcida psicologicamente,já foi induzida, perdeu a liberdade, digo, liberdade de sentimento, a arte vai se transformando num borrão para e igualar ao pensamento empresarial, um borrão típico de quem passa o rodo em tudo o que atrapalha o lucro. É mais ou menos assim, PX: a fotografia de uma cena que tem como valor o seu próprio flagrante, com isso traz o sentido artístico naquela imagem, nas expresões daquele momento, fazendo da foto uma verdadeira obra de arte. Essa mesma cena ensaiada com algumas mudanças para dar sentido mais comercial aos olhos do empresário, transforma-se numa desastrosa mentira de valor patético que nada tem a ver com a arte. Isso está longe de ser purismo. A arte não pode estar atrelada aos cursinhos profissionalizantes de geração de empregos de micros, pequenas e médias empresas como querem essas instituições corporativas. A arte não é uma rapadura, um potinho de mel que precisa de uma boa embalagem para seduzir o consumidor mediano, a arte tem que ter autonomia, independência, sem ter que passar pela liturgia predatória e absolutamente insensível desse mercado neo liberal. Quando você classifica um desastre, a demora com a questão técnica do Minc, até apoio. Eu até aceitaria que o Minc demorasse cinco meses para aprovar um projeto, contanto que a democracia fosse o peso de maior valor na hora da aprovação. A análise de tal projeto, na minha concepção, deveria ter como critério, equilíbrio de forças em contraponto ao que há aqui fora no mercadão e sua volaticidade à caça de lucros. Pergunte aos empresários da indústria fonográfica porque estão abandonando o barco e vamos ver quem é purista. Oque voc^precisa entender é que a especialização dos empresários da indústria musical é ganhar dinheiro. Essa grana que está parando de investir em musica, talvez saia do campo da música e caia no investimento de armamento bélico, por exemplo, sem o menor problema, sem o menor pudor. O romantismo está em crer que o mercado está nessa questão por amor à pátria. O jogo é pesado, é o famosos “bola pro mato que o jogo é de campeonato”. O mercado não quer saber de jogar bonito, vale chutão, comprar juiz e etc, contanto que eles ganhem sempre o jogo. Quando digo da incompetência do mercado é que ele não consegue criar em torno da arte um mercado, a arte é que tem deixar de ser arte para atender as suas normas, as suas regras. Então, quem é rígifo aí nessa história, a arte ou o mercado? Eu, como compositor, tenho que fazer música de acordo com o meu tempo, minha sociedade, meu olhar diante do mundo. Se eu ficar de olho no mercado, estarei fazendo jingle ara publicidade e não música para a contribuição do segmento artístico. Não há incompatibilidade alguma, não há purismo nenhum, todos nós artistas queremos viver do que produzimos, só queremos continuar sendo artistas e sermos observados por alguém que desenvolva, a partir da minha arte, a possibilidade de produzir fundos suficientes para o lucro do investidor e minha sobrevivência. O mercado tem que deixar de ser arrogante, tem que abandonar a piada de inverter as lógicas. Ele insiste em, ao invés de quebrar a champagne no navio, fazer o inverso. O mercado precisa fazer uma coisa, um velho e bom ditado, arte e mercado, “cada macaco no seu galho”. Eu faço arte e o mercado que faça mercado. Assim, a convivência será sempre pacífica, justa e democrática. O que fica nítido com toda essa distorção protagonizada pelas empresas patrocinadoras, é que elas têm um sério problema de gestão que confundem arte com o prospecto distribuido em sinais de trânsito de algum lançamento de um novo empreendimento imobiliário. Um doa maiores desastres da história deste país, foram os oito anos privatizantes e terceirizantes da manada FHC. Essa idéia de que o mercado é o grande regulador é uma furada maior do que o seu símbolo máximo, o buraco do metrô de Sâo Paulo e que caiu, assim como o viaduto da, também cartilha da terceirização que jogou o viaduto no chão da mesma São Paulo. O Ministério da Cultura é, por uma questão de democracia, o nosso principal e único responsável, com tal autoridade, pela observação dos caminhos regidos pela própria sociedade porque ele é fruto direto da construção da sociedade civil brasileira. Se ele não tem autoridade como você quer fazer parcer, não é a Fundação Roberto Marinho que vai ter, não é? A nossa maior conquista, PX, não é a Lei Rouanet, ao contrário, ela vem a cada dia se revelando entreguista, como são entreguistas as privatizações e terceirizações. A nossa maior conquista é o nosso órgão m´ximo de cultura, o Ministério da Cultura, e é nele que temos que concentrar todos os nossos esforços pra ele corrija os seus inúmeros defeitos. Essa sua proposta de implodir o Minc para salvar a lei, é, no mínimo, parecida com a lógica do trans-atlântico e o champagne. Pelo menos, nós que estamos aqui na galera, suados e chicoteados, famintos e sedentos de justiça, de democracia que os nossos barões, por domínio, por aparelhamento de um Estado obediente ao mercado, nos colocou. Que avancemos no sentido de fortalecer as instituições públicas e grifar as suas distorções para corrigir os erros da nossa representatividade máxima, do contrário, é um casuísmo perigoso.

  • Alexandre Batista Reis, 23 de abril de 2008 @ 14:55 Reply

    Eu sinto discordar dos pontos de vista dos senhores. Um me diz que posso ser extemporâneo e o outro teima em admitir que a RSE não é de interesse da Arte Contemporânea. Os senhores nunca trabalharam em periferias, suponho? E imagino que os srs sempre se dedicaram a arte nobre e hermética. Fazê-la como eu faço os srs sinceramente não fazem, muito bem… e, por favor, respeitem as diferenças!!! PX, a questão de um maior consumo da cultura exige maior apreciação dos bens culturais, posso dar um exemplo: vamos falar de corpo. O corpo é a nossa primeira relação com o mundo, é através do corpo que expressamos a nossa existência. Eu me dedico há mais de 22 anos à pesquisa do corpo na Arte, eu nunca fui beneficiado por lei nenhuma neste país, a não ser por uma bolsa que a Universidad Autónoma de Madrid me concedeu em 2001, quando realizava meus estudos de Doutorado por lá. Nunca fui patrocinado por empresa nenhuma, meus recursos felizmente vieram sempre de doações de minha família, é assim que pude viver como professor e artista até hoje. Isso é ainda uma visão romântica e me torna, assim, um prisioneiro de meu amor à Dança e à Pátria, ou seja, enclausurado no pensamento judaico-cristão diante de uma lei Rouanet libertadora que não me alcança. Meu corpo é o suporte da minha arte, e constantemente em posicionamento por mais fronteiras no conhecimento que esta arte me propõe. Eu preciso de alimento. E alimento neste caso não é só a ingestão dos produtos que estão “no mercadão de fora” como diz o colega. Mas, meu corpo como suporte de minha arte (A Dança) precisa de muito mais do que isso, e porquê? Como dançarino, coreográfo, professor de Dança e Diretor de minha Companhia de Dança eu tenho que ter um cérebro mais potente do que um artista plástico ou um músico, por exemplo. E vou explicar porque, os intelectuais das áreas artísticas se preocupam em trabalhar o corpo numa única direção, o corpo é apenas um suporte, um anteparo, uma extensão do Ser Artista, no meu caso em particular o corpo precisa extrapolar essa mera condição intelectual pois eu invado as outras artes a rigor. No caso do mercado de arte para o corpo na arte, temos uma sociedade extremamente arcaica no Brasil. Enrraizada no pensamento judaico-cristão que hipervaloriza o corpo estético sem saber como viver este corpo. É fato que os melhores pensadores sobre o corpo não são de origem latinoamericana, salvo raríssimas excessões e de descendência evidentemente européia. Citemos o nosso tão respeitado e já falecido professor Klauss Vianna, ele de origem meio mineiro e meio alemã. Notadamente, os nomes de pesquisadores ou artistas ligados à dança no Brasil não tiveram grande importância na cena cultural de modo geral. No caso do mercado isso afeta o acesso a esta Arte, mais dura ainda é a situação do artista independente que “quer fazer” e não sabe “como
    acontecer”. Desculpe puxar a sardinha para a minha área específica no campo das artes, mas eu não posso aguardar que esta lei ainda trate o corpo ea Dança da forma como vem tratando. E essa falta de transgressão gera uma angústia que aciona condutas extremanente equivocadas no seio da família brasileira. condutas muito ligadas as essências agressivas do ser humano. E temos acompanhado estes episódios na TV aberta insistentemente nos últimos anos. É fato que “O mercado tem que deixar de ser arrogante, tem que abandonar a piada de inverter as lógicas”, concordo plenamente. Mas essa inversão pode estar sendo na verdade uma inovação na qual o mercado de arte brasileira jamais pautou as suas políticas precedentes. Infelizmente o intelectual não é um produtor cultural competente, por este motivo o intelectual sofre mais do que os nossos atuais e gordos produtores culturais nacionais. normalmente o intelctual e o artista é o “produto” que estes senhores bem comercializam. A lei em sua jurisprudência é indivisa, ela não julga o melhor. Ou pelo menos, como aponta PX é o caminho da democracia. A lei não pode em termos de corpo extemporizar o corpo e, nesse caso, o corpo que dança exige uma necessidade básica para ser artista.

  • mais um membro da familia adelaide, 23 de abril de 2008 @ 21:49 Reply

    vejo pelo comentáriodo Sr. Alexandre q os artisitas querem continuar a serem bancados pela familia e tratados como “café com leite”. pq não profissionalizar a cultura?

  • Abel Carrilho, 24 de abril de 2008 @ 10:53 Reply

    Este artigo é uma espécie de liga, que dá sentido a todo o resto da edição. Começo a entender melhor a fala do Marco Antonio, o lado do Rossetti, e também, por que não, o sentimento do Px, que venho acompanhando semanalmente. Até o fórum tem relação com este artigo. Acho que tem um ponto que vem sendo levantado pelo Px, que é a autonomia da CNIC, que deve ser levado mais a sério pelo CeM. E devemos discutir a composição da CNIC, quem deve compô-la. Acho que a sociedade tem que ocupar a CNIC e não os órgãos de classe. Taí uma bela discussão para o site promover.

  • Maria Alice Gouveia, 25 de abril de 2008 @ 8:51 Reply

    Carlos Henrique: de novo discordo de você. Artista que não quer saber de dinheiro é invenção do romantismo do século XIX – aliás o apogeu da burguesia que podia acalentar seus filhinhos artistas sem que esses se preocupassem com o “Vil” metal. Boticelli, Da Vinci, Michellangelo – todos trabalharam de olho no caixa – com contrato ques estipulava até as cores de tinta que poderiam usar em função do preço das tintas no mercado – oOh! Deus – falei a palavra horrível. Mais recentemente, acho que não dá para dizer isso de Picasso, não é – conhecido mercenário a pesar de ser considerado um dos maiores, senão o maior artista plástico do século XX. E por aí vai … Essa história de querer separar arte e dinheiro é uma bobagem idealista que ignora que arte e dinheiro já estão juntas desde sua concepção. Assim como saúde, educação, oportunidade na vida, etc etc etc. Ninguém aqui está discutindo o que deveria ser, mas o que é… Vivemos no presente. Talvez lutando para modificá-lo no futuro, mas sobrevivendo no aqui e no agora. Um abraço Maria Alice

  • Carlos Henrique Machado, 25 de abril de 2008 @ 12:44 Reply

    Maria Alice, talvez esteja em você uma percepção preconceituosa de que minha fala representa um esteriótipo, um bicho-grilo comedor de arroz integral debaixo de alguma pirâmide tocando lira para as estrelas. Sugiro-lhe que leia mais atentamente o meu comentário. Se clamas por racionalidade, utilize-a para ler o que escrevi. Vou lhe contar um segredinho: com os meus 51 anos de idade, tenho, pelo menos, quarenta anos de envolvimento com a música. Conheço as histórias escabrosas e românticas da arte, isso, dentro do meu próprio universo que otimizado por uma lógica percentual de todo o conjunto da sociedade brasileira, é possível estabelecermos dimensões que representam um quadro dentro do Brasil. E, por assistir cenas lamentáveis com a indignidade do subjugamento que o artista sofreu durante todos esses anos no Brasil, é que posso lhe assegurar que não há como ser romântico quando clamo para o artista uma condição cidadã. Portanto, Maria ALice, ao contrário do que você disse, brigo por uma postura menos festiva e mais pragmática, mas que atenda a arte como produto, e, para atender a essa arte, tem que atender ao artista, mantê-lo de pé como cidadão. Preservadas essas premissas, o mercado não só pode como deve desenvolver a sua atividade. E como todo bom e dinâmico gestor, reduzir os custos da burocracia empresarial para dar sustentabilidade organicidade ao seu produto comercial, a arte. Trocando em miudos, temos no Brasil uma péssima herança de criar elefantes brancos, megalomaníacos, hollyoodianos, estruturas inchadas, caras, vorazes que sugam o dinheiro que poderia ampliar o cachê, a premiação do trabalho operário do artista. Porque, justamente, quem enxerga o artista como um não cidadão é o grande mercado, seja ele privado, seja ele o chique culto político-privado. Isso está longe de ser subjetivo. Vá lá e pegue, no meu caso, que sou músico, a tabela de preços referentes a cachês de músicos que já é são insulto de tão baixos. Mesmo assim, na média do Brasil, o artista mal consegue receber 20% do estabelecido pela tabela. O que digo é que, se tivéssemos um mercado menos voraz, empresas captadoras menos gananciosas, teríamos artistas melhor pagos. Mas como temos uma herança escamoteada de patrões, donos de engenho e suas capitanias, continuamos ainda sob a lei da chibata, bem perto do trabalho escravo à serviço dos senhores da cultura, privada ou público-privada. É só ver a renda média de um artista e o de um dirigente de uma fundação cultural. Se quiser, podemos continuar discutindo isso, pode ser aqui ou pelo meu email. chorobrasileirocarloshenrique@yahoo.com.br

  • José Paulo Chrisóstomo, 25 de abril de 2008 @ 16:17 Reply

    Carlos Henrique, parece que há uma certa incoerência entre os dois textos que vc postou aqui. No primeiro vc diz que o mercado deforma a arte e agora está dizendo que briga por uma postura menos festiva e mais pragmática, do mercado, mas que atenda a arte como produto.
    No primeiro texto acho que está clara a sua critica da arte como produto pois vc escreveu: “O mercado precisa fazer uma coisa, um velho e bom ditado, arte e mercado, “cada macaco no seu galho”. Eu faço arte e o mercado que faça mercado. Assim, a convivência será sempre pacífica, justa e democrática. O que fica nítido com toda essa distorção protagonizada pelas empresas patrocinadoras, é que elas têm um sério problema de gestão que confundem arte com o prospecto distribuido em sinais de trânsito de algum lançamento de um novo empreendimento imobiliário.”
    Então acho que a impressão que a Maria Alice teve de você não é preconceituosa não, é baseada sim numa leitura clara daquilo que vc mesmo escreveu.
    Parece que você ainda não percebeu que como bem ela escreveu, arte e mercado, sempre estiveram ligados. Você disse que se ficasse de olho no mercado teria que fazer jingle. Será que não está tentando justificar pra si mesmo uma situação que busca ignorar que tem muito artista bom que faz sucesso de massa sim. Muita gente boa e talentosa que conseguiu encontrar o seu público trabalhando as forças de mercado a seu favor ?
    O seu discurso está cheio de adjetivos anti burgueses, coisa de gente que ficou com a mente paralisada numa época em que o muro de Berlim ainda estava de pé e em que a China ainda não era a segunda maior de exportadora do mundo e fabricante de produtos eletrônicos da indústria de tecnologia do vale do silício.
    Como bem disse o PX no artigo, “Se é o governo que dá, como preferem alguns, ou o mercado, como conseguem os mais dedicados, isso faz muita diferença, inclusive na qualidade do produto artístico apresentado e na conseqüente compreensão e adesão do público.”
    Nesta frase subjaz um ponto importante sobre a motivação daqueles “colegas” que não querem que os seus pares recebam recursos direcionados do mercado.
    Para esses ,como bem disse alguém aqui nesse site “O dinheiro que os outros ganham nunca é justo e o dinheiro que eles ganham nunca é privilégio.”
    A arte que atrai público e que não são apenas “jingles” geralmente é reconhecida pelo público e atrai a atenção das empresas patrocinadoras. Agora, aqueles artistas que não conseguem com que a sociedade os reconheça como úteis e expressivos no cenário artístico querem sempre pleitear repasses diretos do Estado e se autoproclamam baluartes de uma cultura genuína que choramingosamente precisa ser incentivada por uma comissão que perigosamente deve julgar o mérito das produções.
    Quer algo mais anti democrátrico que isso. Meia dúzia de sabichões distribuindo dinheiro para os compadres que eles consideram os verdadeiros artistas do Brasil
    Para esses desvalidos do mercado que costumam atribuir as suas mazelas à brutalidade insana do voraz mercado é preciso esclarecer que as empresas, o mercado, estão sim de olho na diversidade e na democratização cultural. A Votorantim acabou de lançar o seu edital de R$ 4 milhões. O critério de escolha deles não são as grandes produções e os artistas famosos, mas a capacidade de oferecer acesso democrático á arte. Isso precisa ser anunciado para calar a boca daqueles que usam de casos específicos, com argumentos rasteiros contra a Lei Rouanet. Vide o caso do Cirque Du Solei que é usado à exaustão como exemplo de distorção da Lei, quando na verdade quem aprovou o projeto do jeito que estava foi o próprio MinC que tinha condições de exigir contrapartidas. Esse mesmo MinC que aprovou o circo sem contrapartida é aquele que Poe os seus técnicos pareceristas para cortar lanche e água do pessoal das produções e que solicita a carta da anuência de autores famosos mortos como Kafla e Machado de Assis. Ou seja, não é a Lei Rouanet que está em estado terminal e sim os seus gestores atuais, que com todos os mecanismos que o Pronac tem para democratizar a arte, não o utilizam e só fazem arranjar desculpas esfarrapadas para a má gestão dos instrumentos que eles operam.

  • José Paulo Chrisóstomo, 25 de abril de 2008 @ 16:17 Reply

    Carlos Henrique, parece que há uma certa incoerência entre os dois textos que vc postou aqui. No primeiro vc diz que o mercado deforma a arte e agora está dizendo que briga por uma postura menos festiva e mais pragmática, do mercado, mas que atenda a arte como produto.
    No primeiro texto acho que está clara a sua critica da arte como produto pois vc escreveu: “O mercado precisa fazer uma coisa, um velho e bom ditado, arte e mercado, “cada macaco no seu galho”. Eu faço arte e o mercado que faça mercado. Assim, a convivência será sempre pacífica, justa e democrática. O que fica nítido com toda essa distorção protagonizada pelas empresas patrocinadoras, é que elas têm um sério problema de gestão que confundem arte com o prospecto distribuido em sinais de trânsito de algum lançamento de um novo empreendimento imobiliário.”
    Então acho que a impressão que a Maria Alice teve de você não é preconceituosa não, é baseada sim numa leitura clara daquilo que vc mesmo escreveu.
    Parece que você ainda não percebeu que como bem ela escreveu, arte e mercado, sempre estiveram ligados. Você disse que se ficasse de olho no mercado teria que fazer jingle. Será que não está tentando justificar pra si mesmo uma situação que busca ignorar que tem muito artista bom que faz sucesso de massa sim. Muita gente boa e talentosa que conseguiu encontrar o seu público trabalhando as forças de mercado a seu favor ?
    O seu discurso está cheio de adjetivos anti burgueses, coisa de gente que ficou com a mente paralisada numa época em que o muro de Berlim ainda estava de pé e em que a China ainda não era a segunda maior de exportadora do mundo e fabricante de produtos eletrônicos da indústria de tecnologia do vale do silício.
    Como bem disse o PX no artigo, “Se é o governo que dá, como preferem alguns, ou o mercado, como conseguem os mais dedicados, isso faz muita diferença, inclusive na qualidade do produto artístico apresentado e na conseqüente compreensão e adesão do público.”
    Nesta frase subjaz um ponto importante sobre a motivação daqueles “colegas” que não querem que os seus pares recebam recursos direcionados do mercado.
    Para esses ,como bem disse alguém aqui nesse site “O dinheiro que os outros ganham nunca é justo e o dinheiro que eles ganham nunca é privilégio.”
    A arte que atrai público e que não são apenas “jingles” geralmente é reconhecida pelo público e atrai a atenção das empresas patrocinadoras. Agora, aqueles artistas que não conseguem com que a sociedade os reconheça como úteis e expressivos no cenário artístico querem sempre pleitear repasses diretos do Estado e se autoproclamam baluartes de uma cultura genuína que choramingosamente precisa ser incentivada por uma comissão que perigosamente deve julgar o mérito das produções.
    Quer algo mais anti democrátrico que isso. Meia dúzia de sabichões distribuindo dinheiro para os compadres que eles consideram os verdadeiros artistas do Brasil
    Para esses desvalidos do mercado que costumam atribuir as suas mazelas à brutalidade insana do voraz mercado é preciso esclarecer que as empresas, o mercado, estão sim de olho na diversidade e na democratização cultural. A Votorantim acabou de lançar o seu edital de R$ 4 milhões. O critério de escolha deles não são as grandes produções e os artistas famosos, mas a capacidade de oferecer acesso democrático á arte. Isso precisa ser anunciado para calar a boca daqueles que usam de casos específicos, com argumentos rasteiros contra a Lei Rouanet. Vide o caso do Cirque Du Solei que é usado à exaustão como exemplo de distorção da Lei, quando na verdade quem aprovou o projeto do jeito que estava foi o próprio MinC que tinha condições de exigir contrapartidas. Esse mesmo MinC que aprovou o circo sem contrapartida é aquele que Poe os seus técnicos pareceristas para cortar lanche e água do pessoal das produções e que solicita a carta da anuência de autores famosos mortos como Kafla e Machado de Assis. Ou seja, não é a Lei Rouanet que está em estado terminal e sim os seus gestores atuais, que com todos os mecanismos que o Pronac tem para democratizar a arte, não o utilizam e só fazem arranjar desculpas esfarrapadas para a má gestão dos instrumentos que eles operam.

  • Carlos Henrique Machado, 25 de abril de 2008 @ 19:29 Reply

    Oi José Paulo! Vou me apresentar melhor pra você: num certo momento da minha vida tive que fazer uma opção em função da minha sobrevivência e também para criar os meus filhos. Foi um período relativamente longo. Então, tive que mergulhar no mercado, e dos mais competitivos, o mercado informal de roupas que no Brasil movimenta uma soma monstruosa de produtos, serviços e, consequentemente, financeiro. Uma coisa que você deve conhecer muito bem. Você é o patrão, o funcionário e também o vendedor, a santíssima trindade empresarial dentro da grande realidade brasileira. É só você perguntar a algum planilheiro do Sebrae, desses que vendem cursos à balde, cursos aplicados por algum gomalinado que serve tanto para conversão de cristãos novos quanto para algum novo e deslumbrado micro empresário aspirante de burguês, com a sua senha predileta, a pulseira de ouro. Geralmente, esses palestrantes que vendem essa mantra neoliberal, os tais livros de auto-ajuda, caminham entre o psicodelismo hippie, representados por uma espécie de Ronaldinho, ou seja, Bill Gates, explico melhor, e puxo o gancho da sua referência ao sucesso artístico, pois a lógica é a mesma. De certa forma traduz que ser hippie é um bom negócio, Bill Gates foi. Ser jogador de futebol ao invés de ser bem formado, é um bom negócio, pois os ronaldinhos ficaram milionários, tanto o gordo quanto o magro. O mercado da música ou o da arte, como queira, não produz sucesso como você quer fazer crer. Essa falácia de marketing se desmonta numa explicação muito sólida. Dê uma chegadinha rapindinho ali no Ecade e pergunte qual a música de carnaval mais tocada nos salões do Brasil, vê se não é o “Abre-Alas” de Chiquinha Gonzaga. Faça aquea clássica pergunta, como pode fazer este sucesso, assim como “Luar do Sertão”, “Carinhoso” e tantos outros, sem a alavanca do mercado do jabá. Ou você crê que o samba, em termos de música é da vontade dos mercadores? Não é não, meu amigo. A análise do mercado é como as comódites, trabalham com a lógica das safras, do “oba-oba tá dando grana”. Por isso, você tem alguns picos de alguns lançamentos, mas não consegue sustentabilidade no mercado. É mais ou menos, tentar fazer a população parar de usar bermuda e voltar ao chique do terno. A regra é simples, meu caro, se o mercado caminha com as suas próprias pernas, ou seja, o investidor é autônomo, independente a partir do seu próprio capital, é justo que ele crie as suas leis pela própria sobrevivência, preservando, logicamente, a legalidade. A regra básica do mercado é competitividade, leveza, enxugamento das máquinas. Isso é o mercado que anda também com as suas pernas bem bambas e que brada a queda do muro de Berlim e omite o fiasco neoliberal que anda agora de penico na mão atrás dos Bancos Centrais que já nem querem mais ouvir falar da sua independência. Mas, voltando a falar da minha odisséia empresarial, aprendi que a competitividade tem várias formas e não sou eu que determino as regras dela. Não tem um ditado “estar no lugar certo e na hora certa”, ou seja, adequação. Oferecer o produto certo ao cliente certo, na hora certa e com o preço certo. Ou você acha que o mercado aceita que eu deforme o meu produto para torná-lo competitivo? A mentalidade atual da gestão de qualidade criou uma redoma em torno da qualidade, ou seja, aqui não se mexe. O movimento para torná-lo competitivo fora da redoma sob um ângulo que o faça mais sedutor, oferecer garantias de qualidade, facilitar o pagamento, e por aí vai, essas regrinhas básicas do mercado. Sinto, José Paulo, te irritar com um texto tão longo, mas tenho que seguir à risca o contraponto, mesmo que não seja o caso do título oficial, mas faço uso dele para lhe explicar melhor sobre ele, “Cultura ponto a ponto”. Quando voltei à música, fiz o meu primeiro trabalho. Fui à comunidade buscar recursos, vender o meu CD antecipadamentte, debaixo de um sol escaldante. O CD ficou pronto e foi muito recebido por críticos, músicos e o público em geral. Busquei ali toda a minha experiência e minhas dificuldades e as forçadas mudanças de rumo para fazer o meu segundo trabalho, o álbum duplo “Vale dos Tambores’ e diga-se de passagem, aprovaram o projeto MINC dentro do praso previsto, ao contrário do que está endo dito aqui por PX e, ao lado da minha produtora, fui defender o meu projeto carregado de paixão. Conseguimos de imediato um patrocínio, modesto, R$80.000,00 que tenho certeza, senão o menor, um dos menores aportes liberados por essa grande estatal que não vem ao caso nomear. Neste projeto, várias coisas, além da minha participação como compositor e músico, questionei a exclusão da cultura do interior, da autoria das grandes manifestações brasileiras, enfim, tratei de discutir a lógica perversa que a arrogância palaciana das nossas instituições culturais insistem, por pura incapacidade, não enxergar. Todos os músicos que participaram, assim como produtor, estúdio, material gráfico, as múicas que são todas de minha autoria, até a lata/embalagem, tudo da qui da região, pois a lata, confeccionada no sul, é feita da folha de flanders da CSN instalada na cidade onde moro. Nada de bairrismo, detesto bairrismos xenófobos. Mas precisava mostrar que a minha região, o Vale do Paraíba tem capacidade de construir um projeto cultural, autônomo, independente, justificável. Eu estava de olho em quê? Em fazer no Vale do Paraíba mais uma frente de mercado cultural, não dessas frentes de acampam três dias numa cidade, mas que brotassem na própria região. Não é uma propaganda minha, mas tenho que dizer. Pronto, o projeto recebeu premiações nacionais e internacionais tanto no mercado cultural quanto no mercadão, melhor, foi escolhido pela própria patrociandora como o melhor projeto patrocinado naquele ano, servindo, inclusive de “projeto exemplo” acompanhando o seu relatório anual. Foi destaque no Japão, foi destaque nas principais rádios de jazz nos EUA, Europa e etc. Tudo isso, com R$80.000,00 de investimento, modesto, porèm produtivo. Detalhe, todos os centavos foram gastos na execução, produção dos dois CDs com 35 músicas inéditas, como já disse, minhas e um livro com a pesquisa sobre a influência e contribuição do Vale do Paraíba na construção da música brasileira. Depois, o dinheiro que recebi pelo meu trabalho, investi em uma nova tiragem deste trabaho onde mantive as logomarcas tanto do MInc quanto da empresa patrocinadora. Imagino que você já tenha percebido que eu não estou aqui vendendo os meus dotes artísticos e muitos empresariais, estou tentando lhe dizer exatamente o tamanho da encrenca que é tudo isso. Se quiser mergulhar no campo das geografias políticas, caminharei pelo mesmo sintomas, minhas próprias lógicas, nem por doutrinas marxistas, menos ainda por cartinhas neoliberais. Não estou aqui com intuito e declarar o meu voto para corrente A ou B, estou tentando lhe passar uma idéia clara de que estou longe de ser um deslumbrado. Portanto, quando disse festiva, disse fogueteira, mais conhecida como conversa fiada, improdutiva, irreal e, muitas vezes, não detecta de fato o que acontece com o mercado. Assim como fiz com Maria Alice, convido-o a continuar esa discussão, o meu email está aí no outro comentário. Antes de estar à caça de suas incoerências, estou à caça das incoerências de todo esse embrolho, Minc, patrocinadores e mercado. Nada pessoal com quer que seja.

  • Carlos Henrique Machado, 26 de abril de 2008 @ 11:49 Reply

    Na verdade, estou acompanhando e participando deste fórum que reabre o papel do estado, ou melhor, do governo nas políticas públicas de cultura. No tema, o que mais se debate é a questão democrática, no entanto, a meu ver, ela está sendo esfolada, na maioria dos temas, que são tendenciosos e equivocados pelo próprio “Cultura e Mercado”
    Como pode o governo ser autoritário por tomar as rédeas do comando e ações? Foi eleito democraticamente, portanto, é ele o legitimo e indiscutível representante da sociedade que o elegeu, por duas vezes, pelo voto DIRETO!!!! Se isso não lhe dá legitimidade, então, o que dará? As instituiçoes privadas? Quem assinou essa bradada e auto-proclamada procuração de “representante da sociedade civil”? Estão sendo defendidas aqui as milícias culturais? Quem votou nelas? Afinal, o que é mais importante numa democracia, não é o voto direto? Então, que papo é esse de Minc ditatorial? Ele é um ministério de um governo eleito democraticamente, é bom reafirmar isso. Governo é pra governar e não para terceirizar!!
    Éssa lógica modernizante é de uma incoerência absurda que beira o provincianismo Miami Beach! Ser moderno, pra mim, é ser democrático e ser democrático é respeitar a vontade da maioria e fim de papo! Ou estamos aqui desqualificando a representatividade do voto direto?
    É engraçado, o berço esplêndido do neo liberalismo, a Inglaterra, assim como a França estão revendo seus conceitos e querem SIM, uma maior participação do Estado em todos os setores da sociedade e, principalmente na economima. Sabem quem está decidindo isso lá? A sociedade, melhor, a população, o indivíduo. Não são as Ongs, nem as entidades corporativas, muito menos as ocultas. A moeda corrente lá hoje, no berço da modernidade européia, é um Estado ágil, porém forte, mais que isso, a população está convocando o governo a intervir mais fortemente em todos os campos das atividades sócio-econômicas. Aqui, estamos atrelados à velha cartilha, já amarelada, do Estado minimo a la FHC que fez aquela lambança que todos nós conhecemos, rifando o país em nome da “mudernidade x o nosso caipirismo”. Deveríamos começar este tema todo novamente, sem o papo de Adelaides e Julinhos que desceu mais como espinha de peixe do que filé de salmão azeitado. Na verdade, essa ocultação de nomes está mais para araponga numa espionagem rasteira dentro do Minc do que pra Chico Buarque.

  • Anônimo, 27 de abril de 2008 @ 12:00 Reply

    Contra o argumento exposto pelo Carlos Henrique, não é só por que um governo foi eleito democraticamente que todas as suas ações devem ser entendidas como democráticas. O Minc ao paralizar os tramites dos processos e so mandar pra Cnic os projetos dos amigos ja está unilateralmente instalando o seu balcão dos privilégios. Tem desreipeitado assim, os princípios de uma Lei que foi aprovada pelo Legislativo, tem desrespeitado os milhares de artistas impedidos de gozar de seus direitos em consequencia direta das ações autoritárias do Minc.Ser eleito democraticamente não é certficado de nada. Basta lembrarmos do Chanceler Adolf. O Hitler. É preciso analisar e fiscalizar sempre os atos dos governantes depois que se está no poder e não independente da via pela qual se chegou lá.

  • Carlos Henrique Machado, 27 de abril de 2008 @ 22:30 Reply

    A, sei lá, quem escreveu isso aí em baixo!! Essas ilações é que não são democráticas. É lamentável ter que ler comentários virulentos e, ainda mais, com o apelo barato de classificar o Minc de golpista e nazista, coisa de João fogueteiro.Usar a tribuna pra isso, não contribui com nada. Vamos deixar os bufões de lado, meu caro, e elevar um pouco o nível do debate. Esse denuncismo barato, com frases já muito surradas, é tudo o que a cultura não precisa. Não tendo o que dizer, o silêncio, em alguns momentos, é algo precioso. Da próxima vez, se possível, se identifique, pois ficar de tocaia é cultura de cangaço. É chato responder para alguém sem rosto.

  • Carlos Augusto Peres, 28 de abril de 2008 @ 19:11 Reply

    Caro Carlos Henrique, me desculpe mas que está sendo virulento é você, com ataques pessoais a pessoas que, por qualquer motivo, não quiseram se identificar. Por favor não transforme este fórum em um bate boca de fundo de quintal. Concordo com o sujeito “sem rosto”, quantos governos eleitos democraticamente não se tornaram tiranos…a democracia se exerce no cotidiano, e não apenas de 4 em 4 anos.

  • Carlos Henrique Machado, 29 de abril de 2008 @ 10:21 Reply

    Lamento muito o rumo que o Cultura e Mercado tomou, o de promover o ocultismo num debate sobre políticas públicas de cultura. Respeito a opinião de vocês, embora não concorde com este tipo de prática. Causa-me um enorme desconforto ser observado pelo olho mágico. Acho que uma revista eletrônica de fundamental valor como o Cultura e Mercado, deixou-se levar por interesses em detrimento do próprio debate cultural. Em algum momento pensei que estaria se encerrando esse equivocado ciclo de denuncismo sem assinatura, quando Leonardo Brant, muito bem, reclamou da inexistência de Amanda Brasil. Achei que ali, naquele momento, a percepção de que esse tipo de conduta daria munição para outros tipos de ações iguais, fossem senhas suficientes para mudar o rumo das práticas inauguradas recentemente. Mas não. Acho que, de fato, eu também entrei no clima de irritação que esse tipo de procedimento causa. Por isso, agradeço a todos a oportunidade da minha participação aplaudindo o Cultura e Mercado pela coragem de não mediar os cometnários, muito menos, editá-los. Porém, lamento que esta tribuna perca a credibilidade quando se excede e eleva o tom excessivamente político num momento nítido de desvinculação com o Minc, promovendo uma auto-destruição quando acabam se degladiando num duelo com o seu próprio discurso até, pelo menos, há um ano atrás. Por várias vezes utilizei a tribuna para fazer críticas no sentido de ajudar a construir novos horizontes e perspectivas para a cultura brasileira, mas sinto que a minha participação perde o sentido a partir de então. Reitero aqui meu profundo respeito ao belo trabalho de vocês que, no cômpito geral, a meu ver, apresenta uma enorme margem positiva de serviços prestados à cultura brasileira, promovendo debates e visão crítica consistentes. Por isso, torço, verdadeiramente, para que a temperatura baixe e que, mesmo com tom necessariamente crítico, o Cultura e Mercado reencontre um caminho equilibrado em seus belos artigos. Abraços a todos e obrigado.

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