Foi apresentada em seminário nesta segunda-feira (25/11), no Imperator – Centro Cultural João Nogueira, a pesquisa “Hábitos Culturais dos Cariocas”. O estudo foi feito pelo Datafolha, JLeiva Cultura & Esporte e Secretaria Municipal de Cultura, com o objetivo de conhecer em profundidade os hábitos da população com 12 anos ou mais da cidade e fornecer subsídios para o planejamento de políticas públicas na área de cultura.
“Procuramos não partir de uma definição prévia de cultura ao elaborar o questionário. Apostamos em uma abordagem mais aberta e abrangente, que pudesse oferecer um panorama geral de diversas atividades que hoje fazem parte do universo cultural. Algumas infelizmente ficaram de fora devido ao limite de perguntas com o qual trabalhamos, principalmente aquelas de definição menos evidente (como intervenções urbanas, ocupação de espaços públicos, arte digital, design, etc)”, explica João Leiva Filho.
Ouvir música é o principal hábito cultural da população carioca (95%), seguido por frequentar shopping center (77%) e praia (74%). Ir ao cinema é prática entre 68% dos entrevistados, mas 94% disseram que costumam assistir a filmes em outros formatos (TV, DVD, Blu-ray, Internet ou sob demanda), o que indica um alto índice de consumo desse produto cultural.
Apenas 37% costumam ir ao teatro, 34% a museus ou exposições de arte – mesma taxa dos que saem para dançar em boates – e 32% a bibliotecas, mas 64% afirmam ter o hábito de ler livros não didáticos. Boa parte (40%) costuma ir às feiras de artes ou artesanato e jogar videogame. Festas populares ou religiosas são frequentadas por 54% dos entrevistados. Além disso, foram indicados os hábitos de praticar esportes (74%) e acessar a internet (71%).
As atividades com taxas mais baixas de ocorrência são visitas a circos (25%), às quadras de escolas de samba (22%), a espetáculos de dança (20%), desfile oficial no sambódromo (19%) e ida a concertos de música clássica (14%).
De acordo com a pesquisa, as visitas a museus, a bibliotecas, frequência a teatro, concertos de música clássica, espetáculos de dança e a feiras de arte são hábitos muito mais comuns entre os entrevistados com nível superior de escolaridade, moradores da Zona Sul e integrantes das classes A e B. Já quando se fala em visitas às quadras de escola de samba, à participação em blocos de Carnaval (30%), à frequência em boates e a bares com amigos (51%), identifica-se maior equilíbrio na participação da Classe C em relação às A/B, em especial nas quadras de escolas de samba e nos desfiles do sambódromo. As visitas a shopping centers e a frequência com que os entrevistados vão a cinemas alcança principalmente as classes A/B e C e chega, além dos mais escolarizados, nos que têm nível médio de escolaridade.
De todas as atividades estimuladas no levantamento, a mais comum entre os cariocas é a de ouvir música, sendo que dos 95% que afirmam fazê-lo, 88% pertencem às classes D/E, que têm perfil de baixo consumo em geral.
Interesse – Quanto ao interesse e à preferência dos cariocas em relação às atividades, não há grandes diferenças de hierarquia. O que talvez chame mais a atenção, conclui a pesquisa, é o contraste na posição dos shoppings nesses quesitos. Segunda colocada entre as atividades mais realizadas pelos cariocas, a visita a esses estabelecimentos cai para quarto lugar quando o assunto é interesse (62%) ou preferência (29%). Em ambos os casos, a atividade que assume a vice-liderança nos dois rankings é ir à praia (68% e 39%, respectivamente).
“O mais comum para a maior parte das atividades é que a Realização seja maior ou igual ao Interesse pelas atividades. Porém, algumas chamam atenção porque ocorre o oposto, ou seja, há mais Interesse do que Realização, como se dá com museus (41% têm interesse), concertos (23%), teatro (43%), dança (28%) e Sambódromo (28%). Fica a pergunta: por que as pessoas não conseguem realizar especificamente cada um desses interesses?”, questiona a pesquisa.
Sessenta por cento da população carioca com idade a partir de 12 anos declaram gostar de realizar ou participar de atividades culturais. A média é de 6,8 em escala que vai de 0 a 10 (0 significa que não gosta e 10 que gosta muito). Questionados sobre quem foram os principais influenciadores no gosto por atividades culturais, os pais aparecem em primeiro lugar, com 35% de menções. A seguir apontam os amigos (27%) e outros familiares (23%) – nos targets que mais se interessam por atividades culturais (classes AB, ensino superior), os pais aparecem com maior destaque.
Outro aspecto que o Datafolha investigou foi a prática ou realização de algumas atividades de caráter cultural, seja na escola, no centro cultural, igreja ou curso livre. 55% afirmaram já ter realizado alguma delas, com destaque para teatro (24%), dança ou balé e coral/canto (17% cada). De modo geral a prática dessas atividades ocorre na escola, mas para canto e música instrumental a igreja tem papel importante na formação.
Indagados sobre a oferta cultural da escola onde realizaram a maior parte dos estudos, nota-se que o auditório, a sala especial para apresentações, é o item mais comum: 49% disseram que a escola tinha/tem esse espaço. Com taxas menos encorpadas, mencionam a presença de aulas de música ou coral (38%), as aulas de teatro (34%) e de dança (31%). “Mas é muito importante ressaltar que cerca de quatro em cada 10 entrevistados afirmaram que a escola não tinha/tem nenhuma dessas atividades ou espaços”, aponta a pesquisa.
“Em resumo, a família tem grande influência no gosto cultural do carioca, cabendo à escola um papel menos importante, na percepção dos entrevistados. O poder público poderia incentivar a ampliação dessa área de ensino, por exemplo, em atividades extracurriculares que se apropriem dos equipamentos culturais já disponíveis na cidade e através da inclusão de formação educativa nas atividades culturais e artísticas.”
Fontes – A TV é a principal fonte de informação sobre eventos culturais, citada por 60% dos cariocas acima de 12 anos. A Internet é mencionada por 28% do público, sendo a segunda fonte no Rio de Janeiro. Dentre os sites, destaque para Google, com 14% das menções. As redes sociais especificamente são citadas por 25% do total. Outras fontes citadas são propaganda, divulgação em jornais impressos (17%), em panfletos, folhetos, cartazes (5%) e em revistas impressas (4%). Apenas 1% diz se pautar por opinião da crítica especializada.
O uso de fontes na web para informações sobre eventos culturais é naturalmente maior entre que acessam internet diariamente (43%). Porém, mesmo neste segmento, a TV continua sendo a fonte mais citada, com 51% das menções.
O meio mais popular de acesso a filmes ainda é a TV aberta, usado por 82% do público. Trinta e nove por cento da população pesquisada não tem o hábito de comprar, alugar ou baixar filmes. Entre os 61% que costumam fazê-lo, 39% compram originais em DVD ou Blu-Ray, 32% alugam, 28% compram piratas e 15% baixam piratas na internet. 12% compram/alugam filmes originais em sites.
As séries não são tão procuradas como os filmes: 27% do público não costuma assistir séries. Entre os que assistem, os meios mais citados são novamente a TV (61% a aberta e 50% por assinatura).
A principal prática no consumo de música ainda é a compra de CDs originais de cantores e bandas, o que metade da população do Rio de Janeiro declara fazer. Essa compra ocorre em lojas físicas – apenas 8% o fazem também via Internet e só 6% declaram comprar músicas online.
Entre os 64% que costumam ler livros não didáticos, 71% compra em livrarias de rua ou em shoppings e 64% declaram emprestar de outras pessoas, amigos ou parentes. Outros três canais de acesso atingem um terço do universo da pesquisa cada um: compra em bancas, supermercados (34%); compra em sebos, brechós (34%); e empréstimo em bibliotecas (32%). Num terceiro patamar de importância aparecem compra pela Internet (17%), e-books (14%) e clubes de leitura (11%).
Barreiras – Entre os 32% dos cariocas que não têm o hábito de ir ao cinema, a principal justificativa está ancorada na falta de interesse por essa atividade cultural (48%). Cerca de dois em cada 10 apontam questões econômicas (principalmente os pertencentes às classes CDE) e 18% alegam preferir ficar em casa.
Mesmo questionamento foi realizado para o grupo que não tem o hábito de ir ao teatro (63% do total da amostra). As razões para não realizar a atividade apontam praticamente para o mesmo caminho: 53% não frequentam por desinteresse, 22% por questões econômicas. O diferencial está na parcela de entrevistados que menciona a falta de opções perto de casa (16%). Para a não frequência a museus (66% não têm esse hábito) o desinteresse é ainda mais expressivo: 65%, taxa que entre os adolescentes sobe para 76%. Com menor intensidade apontam a distância ou dificuldade de acesso (14%).
“Em resumo, a formação de público é decisiva para ampliar a frequência a algumas atividades culturais, principalmente teatro e museu, que se encontram atualmente restritas a um nicho de público com características mais elitistas”, indica a pesquisa.
Indicador Cultural – Para atender aos objetivos do estudo, foi elaborado um Indicador Cultural para a cidade do Rio de Janeiro, com base em sete atividades. Foram levados em consideração o caráter cultural de cada uma delas e a utilização de equipamentos culturais para sua realização. São elas: cinema (68%), shows de música (56%), teatro (37%), bibliotecas (32%), museus (34%), dança (20%) e concertos de música clássica (14%). Não foram incluídos no indicador: livros, filmes e música, que podem ser realizados em casa, por exemplo, e não necessitam de mobilidade.