Uma “Granta” só com jovens autores brasileiros que sai em um ano. Uma edição brasileira da mexicana “Letras Libres” que começa a se desenhar. As revistas literárias descobriram o Brasil?
John Freeman, da “Granta”, e Enrique Krauze, da “Letras Libres”, que participaram da mesa “No Calor da Hora”, sobre crítica literária, na Flip, têm motivos diferentes para mirar os escritores destas terras. Freeman diz que a ficção mais nova e interessante se encontra hoje “em lugares onde há uma nova geração de autores, onde há questões sérias a enfrentar e onde narrativas ainda importam e têm algo a dizer”. Mais especificamente, cita países africanos como Nigéria, Etiópia e Quênia, comunidades de imigrantes nos EUA e no Reino Unido e a América Latina.
A edição só com jovens autores de língua espanhola fez “grande sucesso”, segundo Freeman, no mercado de língua inglesa (leia abaixo). Isso significa que há boas expectativas comerciais. “Leitores parecem ter muito interesse na colisão entre novos escritores e um lugar particular. O Brasil tem crescido bastante e é por isso que estou aqui”, diz o editor.
Numa visão oposta, o ensaísta e historiador Krauze, da “Letras Libres”, crê que a ficção mais nova e interessante hoje seja de língua inglesa. “Mas ainda não deixamos de ter grandes escritores na nossa América”, pondera.
O Brasil interessa, diz Krauze, porque “tem muito a ensinar em vários aspectos”. “Creio que o Brasil é uma experiência histórica mais bem-sucedida que a de nossos países na América Latina”. Como exemplo, lembra o sucesso que fez a edição que analisava o governo Lula sob vários ângulos -vale lembrar que, enquanto a “Granta” se concentra em ficção, a “Letras Libres” também se abre ao debate de ideias.
O triângulo perfeito, segundo Krauze, será conectar a edição brasileira -que deve ter como parceiro o selo Benvirá, da Saraiva- com a mexicana e a espanhola, estas últimas já existentes.
A internet ajudou as revistas literárias? “Sim e não”, avalia Freeman. “Ajudou porque o leitor não precisa mais estar onde a publicação circula para poder lê-la”, diz.
“Mas, como a internet é uma cultura livre, é mais difícil levar as pessoas a pagarem por algo que já têm de graça”, acrescenta. O editor da “Letras Libres” diz que a internet revitalizou a literatura. “Agora o mundo é um imenso escritório com pessoas escrevendo em celulares e computadores. Há um elemento poético na escrita sintética da rede.”
*Com informações da Folha de S. Paulo