No meio da folia do Carnaval do Rio de Janeiro, o Rio Music Conference aposta na música eletrônica para conquistar o público e os turistas que visitam a cidade. O evento, que acontece de 17 a 25 de fevereiro, é o maior encontro do estilo musical do Hemisfério Sul e ocorre anualmente, sempre nesta época.
Mais do que apenas reunir os fãs da batida eletrônica, o evento hasteia uma bandeira na sua quarta edição nacional: repensar o modo de se fazer música. Guilherme Borges, um dos organizadores do evento, é enfático ao defender o fim de uma indústria fonográfica analógica: “Essa nova maneira de se relacionar com tecnologia e mídias reconstruiu um meio musical falido. Com um software que custa 50 centavos, hoje o artista produz a sua música e compartilha, sem precisar de uma gravadora para garantir o que será sucesso ou não”, defende.
Esse e outros debates fazem parte do primeiro turno do encontro, que se dedica a feira de negócios e capacitação profissional, painéis, workshops e cursos com entrada gratuita. Entre os dias 15 e 16, a turma que carrega uma orquestra em seus laptops dá uma pausa no bate-estaca para refletir sobre os rumos da produção eletrônica. E, atenção, eletrônico aqui não deve se confundir com gênero musical: “É um processo. A música eletrônica é hoje um meio de produção que pode ser usado por qualquer estilo: do soul ao rock, do jazz ao funk”, define Guilherme.
O grande porte do RMC 2012 faturou o trono de maior edição da história do evento. Antes do encontro no Rio, foram mapeadas nove cidades para entender a mobilização do eletrônico em cada canto do Brasil. Segundo Guilherme, as notícias são boas para a indústria de música do país: “A grande beleza deste mercado digital é que aumenta a boca de entrada de novos profissionais. No Brasil, surge um ‘Neymar’ por ano porque tem muita gente jogando futebol. Ficou mais fácil produzir, compartilhar, por isso, surge muita gente boa. A garotada tem acesso absurdo a um acervo de cultura global na internet”.
O diferencial do mercado de música eletrônica fica justamente aí. O som não é feito apenas na internet, mas voltado para a internet. A geração que cresceu com música ao alcance de um clique encara a indústria de forma diferente. “Quem grava álbum é artista de MPB. Esse mercado foi implodido, mas as pessoas insistem em apenas transferir o modelo para outro suporte. Imagina só sumir por dois anos para juntar doze músicas em um álbum? E por que doze? É a forma que está errada. Você quer comprar só a música que gosta. Steve Jobs sacou isso. Hoje você faz, lança na internet e, em minutos, já tem a repercussão”, analisa Guilherme.
Mercado – Nos 10 dias em que o evento é realizado, também são oferecidas palestras, workshops e feiras. A última edição, na Marina da Glória, recebeu 25 mil pessoas e movimentou R$ 20 milhões em negócios. Para este ano, a expectativa é receber 40 mil pessoas e movimentar R$ 30 milhões.
De olho no público, que é apenas 40% carioca, marcas como Redbull, Budweiser, Sminorff, Souza Cruz, Hotéis Marina e Alcatel patrocinam esta edição. Em 2011, os apoiadores foram TIM, Pernod Ricard, Skol, Red Bull, Fashion Mall, Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e os Hotéis Marina. Uma cota de patrocínio pode chegar a R$ 500 mil.
Segundo levantamento feito pelos organizadores do Music Conference, a arrecadação de bilheteria em festas de música eletrônica chegou a R$ 879 milhões em 2011. Além disso, os gastos dos espectadores com alimentos e bebidas aumentaram 115,4%, chegando a R$ 1,07 bilhão no período. Os patrocinadores, principalmente empresas de bebidas, investiram R$ 460,8 milhões nos eventos do estilo, 60% a mais do que no ano anterior.
*Com informações dos sites da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e da revista Exame