“Queremos um Brasil campeão não só no campo, mas também na organização, na capacidade estrutural e no legado que deixará para depois da Copa do Mundo”. A frase é da ministra Ana de Hollanda, que participou da cerimônia de abertura do Seminário Intercâmbio de Experiências Culturais em Megaeventos Esportivos, iniciado na manhã desta quinta-feira (11/8), em Brasília.
O seminário é promovido pelo Ministério da Cultura e se estenderá até esta sexta (12), com a participação de gestores públicos de cultura, representantes do Comitê Executivo da Copa 2014 e das cidades-sede do evento mundial, além de especialistas internacionais. O objetivo é possibilitar o debate em torno de ações direcionadas ao Mundial de Futebol, propiciar o conhecimento das experiências internacionais nesse campo e reunir as sugestões apresentadas pelos gestores públicos.
“Precisamos nos atualizar, debater, conhecer as experiências de outros países e construirmos nosso caminho”, disse a ministra da Cultura. Segundo ela, “o resultado do seminário é uma etapa fundamental do processo de amadurecimento de um país que quer se mostrar não apenas como bom de bola e de samba, mas que sabe organizar e dar respostas à altura dos desafios demandados”.
Na mesa de abertura, estiveram também os ministros do Esporte, Orlando Silva, e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, e o secretário de Cultura do Governo do Distrito Federal, Hamilton Pereira.
Para Orlando Silva, é preciso pensar a Copa do Mundo muito além de 32 seleções lutando por um título. “O campeonato possui dimensões no campo econômico, social e cultural. Nesse aspecto, esperamos que o Ministério da Cultura lidere o processo, que o Brasil possa celebrar sua diversidade cultural e demonstrar toda a sua gama de potencialidades”, afirmou.
Luiza Bairros ressaltou o momento propicio para que o país mostre ao mundo que a cidadania é um valor a ser respeitado. “Nossa presença na abertura desse seminário é um indício de que os direitos humanos, a igualdade de raça e de gênero são valores presentes na definição das diretrizes e estratégias do Brasil”, salientou.
As propostas elaboradas durante o seminário serão encaminhadas à Câmara Temática de Cultura, Educação e Ação Social, coordenada pelo MinC, e também levadas aos encontros com a sociedade civil nas cidades-sede, o que começará a ser feito a partir de setembro.
Autoestima da população – Um evento da magnitude de uma Copa do Mundo ou de uma Olimpíada não pode dar a impressão ao cidadão de que chega, se realiza e vai embora. Tem que ficar para sempre. É o que ensina Jordi Marti, vereador da Câmara Municipal, delegado de Cultura de Barcelona 2006/2011, participante ativo da construção da Olimpíada de 1992.
Na manhã desta quinta-feira, logo após a solenidade de abertura do seminário, Marti discorreu sobre o tema O Legado Cultural em Megaeventos Esportivos. Segundo ele, foi justamente a mentalidade do permanente, do perene, que tornou Barcelona a capital cultural da Espanha, status obtido depois dos Jogos de 1992.
Jordi observou que tudo o que girou em torno dos Jogos de 1992 foi resultado de um desejo de desenvolvimento que passou décadas represado, em função da ditadura franquista. A prova disso é que os interesses públicos e privados terminaram por convergir, em nome de algo maior. Exemplificou com a construção da Vila Olímpica: depois de uma disputa inicial entre Estado, empreiteiras e incorporadoras, prevaleceu o que seria melhor para o futuro da cidade.
Ele disse que, para o avanço da localidade, criou-se o Modelo Barcelona, cujos eixos são: 1º) visão de futuro: modernizar a cidade; 2º) consenso social e cooperação público/privada; e 3º) um grande acontecimento. Para Jordí, o segundo item se deu sobretudo por causa da retomada democrática, que para ele era considerada recente, mesmo em 1992.
Segundo o delegado cultural da Espanha, o grande legado da Olimpíada para Barcelona foi o resgate da autoestima do cidadão.
Visão global da África – Ainda na parte da manhã, depois de Jordi Marti, veio a fala de Laurine Platzky, diretora-geral adjunta do Governo Provincial de Western Cape (África do Sul), que integrou o comitê organizador da Copa do Mundo, na Cidade do Cabo. Ela considera que o grande legado deixado pelo evento na África do Sul foi ter chamado a atenção do restante do mundo para uma nova visão sobre o continente. Conforme enfatizou, o Mundial trouxe a possibilidade de mostrar que a região não é somente uma coleção de fatos negativos, como fome, miséria de ditaduras sanguinárias.
Segundo Laurine, esse trajeto começou a ser pavimentado em 1994, pela nova Constituição, que colocou fim ao regime de apartheid. A partir daí, começou-se a construir o raciocínio de que o Mundial da Fifa seria a grande oportunidade de integrar uma população secularmente segregada. “Queríamos estender os benefícios a todas as cidades”, ressaltou.
As obras de infraestrura, que fazem parte do caderno de encargos da Fifa, foram motivo de preocupação, por causa da grande pergunta que se faz para o período pós-Copa: o que fazer com alguns dos equipamentos erguidos e de que forma podem ser permanentemente utilizados, gerando receita para os cofres públicos? Uma das primeiras iniciativas foi a de integrá-los à “paisagem” da cidade. Ou seja, que fizessem parte do uso cotidiano, e não episódico, da população.
Para Laurine, a grande lição que fica de Mundiais de futebol realizados em países como a África do Sul – que não integram o grande eixo econômico mundial – é a can-do mentality. A mentalidade de que, mesmo sendo um país com enormes desigualdades sociais e uma economia ainda em consolidação, é possível fazer um evento de tamanha magnitude. E melhor: fazer bem feito, para que seja inesquecível.
*Fonte: Site do MinC