Artistas e cientistas são dois grupos de agentes sociais que raramente se unem em função de uma causa. Para promover esse encontro entre os dois setores, a organização britânica Tipping Point especializou-se em fazer conexões produtivas entre artistas e cientistas que trabalham nos campos da sustentabilidade e da ciência climática.

O intuito é estimular colaborações e novas formas de trabalho e, dessa maneira, encontrar respostas para os atuais desafios ambientais que a sociedade tem enfrentado. A organização tem braços nos Estados Unidos, França, Alemanha, Noruega, Bélgica, Austrália, Índia e no Reino Unido.

Entre os dias 19 e 28 de março, o diretor da Tipping Point, Peter Gingold, esteve no Brasil para participar do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que aconteceu em Manaus (AM), e conhecer melhor o contexto brasileiro de arte + sustentabilidade. Em entrevista ao Cultura e Mercado, Gingold falou sobre os planos da Tipping Point para o Brasil e suas impressões sobre o país.

Cultura e Mercado: De onde surgiu a ideia de integrar artes e ciências?
Peter Gingold
: Não sei bem se integrar é a palavra correta. Conversar ou dialogar seria mais apropriado. Há um movimento recente bastante forte que busca olhar as convergências entre ciência e artes. Nosso foco é particularmente o meio ambiente e a razão para isto é simplesmente porque há problemas imensos, e cientistas podem ajudar! Artistas trabalham de maneira diferente de cientistas, eles lidam tanto com emoções como com seu intelector, e são capazes de contar histórias de forma diferente dos cientistas. Cientistas falam alto, mas artistas gritam! Mas todos eles têm algo em comum – eles trabalham no campo da criatividade, que tem as mesmas raízes em ambos os casos.

CeM: Como funciona o trabalho da TippingPoint?
Gingold:
Através de reuniões – não gostamos de chamá-las de conferências – onde pessoas que sabem muito sobre diferentes aspectos dos desafios ambientais se encontram com artistas. Nosso objetivo é estabelecer a mais forte comunicação possível entre dois grupos, e queremos que isso leve a novas ideias, projetos, colaborações, etc.

CeM: A que se deve sua visita ao Brasil?
Gingold
:
Quero entender até que ponto este tipo de pensamento pode se encaixar na realidade de cientistas e artistas brasileiros, e explorar como será possível ter este tipo de evento no país, integrado ao programa de Artes do British Council, planejado para acontecer entre 2012  e 2016. O Tipping Point no Brasil terá a preocupação de desenvolver um programa que contenha um olhar recíproco entre Brasil e Reino Unido, para encontrar soluções sustentáveis a partir de conexões entre as comunidade artísticas e científicas nos dois países.

CeM: Quais foram as suas impressões quanto à política de sustentabilidade do país?
Gingold:
 Não existe país no mundo em que as políticas de sustentabilidade sejam fortes o suficiente. Não sei muito sobre o que está acontecendo no Brasil, mas obviamente o país está crescendo economicamente de forma muito rápida e, por mais que a sustentabilidade já esteja bem estabelecida nos negócios, política e agenda pública, há sempre uma tensão entre o desenvolvimento e a sustentabilidade.

CeM: O que devemos fazer para dar um passo à frente na questão?
Gingold:
Acho que um entendimento público mais amplo e profundo dos desafios que enfrentamos, em particular da bomba que são as mudanças climáticas, ajudaria. Isto pressionaria os políticos. É claro que, do que o mundo realmente precisa é de uma mudança de visão e uma liderança genuína dos países dominantes.

CeM: Na sua opinião, o que falta para haver um intercâmbio maior entre essas duas áreas (artes e ciências)?
Gingold:
Falta diálogo. Um especialismo surgiu nos últimos 200 anos e todos temos a tendência de trabalharmos em pequenos compartimentos que em geral não se comunicam. Alguns deles têm até uma língua própria, então mesmo que se falem, há uma dificuldade no entendimento. Em muitos aspectos, este é o maior problema que enfrentamos, o fato de que a comunicação entre especialistas é pobre. As pessoas precisam entender melhor as consequências do que fazem, para a vida dos outros.


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Jornalista, foi repórter do Cultura e Mercado de 2011 a 2013. Atualmente é assessor de comunicação da SPCine.

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