“As livrarias saíram na frente porque houve um trabalho anterior que preparou esse segmento para o Vale-Cultura”, aponta Galeno Amorim, diretor geral do Observatório do Livro e da Leitura.
A primeira vez que a ideia do programa bateu nas portas do Ministério da Cultura, diz ele, foi há 10 anos. “Originalmente, se falava na criação de um Vale-Livro nacional, nos moldes que as feiras de livros fazem junto a prefeituras e governos estaduais para os alunos da rede pública. A ideia inicial, portanto, evoluiu muito, resultando no Vale Cultura.”
Segundo ele, a propagação e o interesse das livrarias é também reflexo de um programa criado em 2011 pela Fundação Biblioteca Nacional, que mobilizou as empresas do setor para que passassem a oferecer livros de baixo preço, inclusive se preparando melhor para ser mais competitiva na hora que chegasse o Vale-Cultura.
“O Vale-Cultura pode tanto dar novo impulso ao negócio do livro quanto gerar mais leitura na medida em que isso motivar mais gente a desenvolver projetos de fomento e mediação da leitura. Na pior das hipóteses, vai aproximar as pessoas e os livros, o que é imprescindível”, diz ele.
Estudos mostram que um dos grandes problemas da baixa leitura é, em paralelo a questões de formação e falta de habilidade técnica para ler, o baixo acesso, motivado tanto pelo preço dos livros como pela rede precária de bibliotecas e livrarias.
Nos últimos 10 anos, afirma Amorim, cresceram os investimentos e os esforços do estado, iniciativa privada e sociedade para fomentar a leitura. “É uma mudança importante. Mas carece de planejamento a longo prazo e investimentos muito maiores, principalmente em bibliotecas, o que é uma ação estruturando, como aconteceu no passado recente com a consolidação de amplos programas sociais do livro gratuito para a fatia da população que está na escola.”
Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, afirma que o Brasil tem ampliado suas ações para a promoção da leitura, lembrando que o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) estão entre os maiores do mundo em distribuição de livros para a rede pública de ensino.
“Em 2013, cerca de 140 milhões de obras chegaram a 42 milhões de estudantes. Somados, os dois programas custaram ao governo federal cerca de R$ 1,1 bilhão. A criança que adquire o hábito de leitura, seja na escola ou em suas casas, certamente, na fase adulta continuará tendo contato com os livros.”
Na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontece de 22 a 31 de agosto, o Vale-Cultura poderá ser usado tanto para a aquisição de livros quanto para a compra de ingressos. “Ficamos muito satisfeitos com o retorno, acima de tudo porque o paradigma de que o brasileiro não gosta de ler vai sendo derrubado à medida que a população tem mais acesso aos livros, jornais e revistas”, diz Karine.
Outras áreas – Bel Toledo, presidente da Cooperativa Paulista de Circo, era uma das maiores entusiastas do Vale-Cultura no momento da sua criação. Ela conta que foram feitas parcerias com diversas operadoras, entre elas a Ticket e Sodexho, no sentido de conscientizar sobre a importância da diversidade do consumo cultural. “Todas as operadoras estão com verbas represadas e a ideia é uma campanha interna para que parte desses valores possam ser direcionados para a programação dos circos”, explica.
Segundo ela, o movimento da Cooperativa para instrumentalizar o circo a fim de receber o Vale-Cultura culminou no edital Carequinha Funarte 2013, com uma verba de R$ 10 milhões. “Foi a primeira vez que tivemos o mesmo valor do teatro. Nada anda com a velocidade que desejamos, mas caminhamos”, diz Bel.
Ela também foi responsável por reunir outras cooperativas, como as paulistas de música, teatro e dança, na Federação Brasileira das Cooperativas Culturais, que surgiu justamente em razão do Vale-Cultura. A ideia era unir diversas áreas para conseguir utilizar o programa como um alavancador de público.
“Já temos uma vitória expressiva. Conseguimos a isenção do PIS e COFINS, assinado pela presidente Dilma no mês passado, e agora já estamos com projeto de lei na Câmara Municipal, com apoio de inúmeros vereadores, para isenção do ISS. Além disso, o Supremo Tribunal considerou dupla taxação o recolhimento patronal de 15% que os tomadores eram obrigados a fazer quando trabalhavam com cooperativas”, aponta Bel.
“Continuo muito empenhada. Acho que o Vale-Cultura realmente vai ser um divisor de águas para os circenses. Claro que nem todos vão aproveitar a possibilidade, mas com trabalho ao longo do tempo, o circo vai se beneficiar muito”, conclui.
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