Notas sobre Investimento Social Privado 6
Relatório publicado no último mês de março pelo NEA- National Endowment for the Arts e pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos mostra que o setor da arte e da cultura americano contribui com mais de 800 bilhões de dólares para o produto interno bruto dos Estados Unidos. Considerando o dólar americano no valor de R$4,00, isso significa cerca de R$3,2 trilhões de reais, aproximadamente três vezes o valor esperado da economia a ser produzida pela reforma da previdência pública proposta pelo governo Jair Bolsonaro, em 10 anos.
O relatório oficial traça o desempenho agregado de 35 áreas-chave da arte e da cultura, incluindo TV, cinema, streaming de vídeos e áudios, editoras, teatro, dança e outras. Os números são impressionantes, mesmo quando comparados a economias maduras e a outros setores produtivos dos próprios Estados Unidos.
O setor cultural responde por cerca de 4% do PIB americano, à frente de setores tradicionais como Construção Civil, Transportes, Mineração e Agricultura. Na verdade, só é menor do que os setores de Saúde e Assistência Social e do Varejo em geral. A contribuição da arte e da cultura para a economia americana corresponde a aproximadamente metade do PIB do Canadá e é maior do que o PIB da Suécia e da Suíça. Mais impressionante ainda, é verificar que a taxa de crescimento anual do setor nos últimos anos foi de 4,2%, quase o dobro da média americana no mesmo período (2,2% ao ano), o que sugere a manutenção da relevância econômica do setor no futuro próximo.
Além disso, o setor é um grande empregador de profissionais qualificados. Mais de 5 milhões de americanos trabalham na economia da arte e da cultura. Foi o setor que mais rapidamente se recuperou da crise de 2008, gerando mais de 200 mil novos empregos entre 2009 e 2016. Apenas em 2016, a renda do trabalho no setor foi de quase 400 bilhões de dólares, comprovando a alta remuneração média dos profissionais.
Os números da economia da cultura no Brasil, quando existem, são muito menores evidentemente. No entanto, apontam para algumas características semelhantes. A contribuição para o PIB brasileiro, a depender das fontes, fica entre 1% e 2%, porcentagem relevante em qualquer dos casos. A renda média do trabalho cultural é mais alta do que a de outros setores econômicos brasileiros. No Brasil, assim como nos Estados Unidos, o setor alimenta uma cadeia produtiva diversificada e com alta capilaridade, que provoca impactos virtuosos na economia como um todo e não apenas naqueles setores diretamente envolvidos com a indústria criativa.
A arte e a cultura não são apenas amenidades, ou formas de enriquecimento espiritual e de prazer estético, mas como demonstra o relatório do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, uma fonte crucial de investimento na economia contemporânea, que se concentra cada vez mais na valorização dos chamados ativos intangíveis.
Em outras palavras, é o mesmo que afirmam os economistas britânicos Jonathan Haskel e Stian Westlake, autores do livro Capitalism without capital, e aquilo que projeta as atividades no campo da arte e da cultura como os vetores para o crescimento da economia na era do conhecimento: “Nas últimas décadas, a natureza do investimento está gradualmente, mas significativamente, se transformando. O tipo de investimento que tem crescido inexoravelmente é o intangível: investimento em ideias, em conhecimento, em conteúdo estético, em software, em marcas, em redes e relacionamentos. ” Todos na esfera das representações e dos símbolos, campo privilegiado de atuação da cultura e das artes.