Acabo de chegar do seminário Aberje de Gestão Cultural, realizado no Masp, em São Paulo. Um dia inteiro de programação para discutir a importância da cultura para o ambiente empresarial. Os vários públicos relacionados com a produção cultural brasileira estavam presentes, embora o olhar trouxesse sempre o filtro do investimento privado e os usos da cultura no ambiente empresarial.
Abriram o seminário Paulo Nassar, diretor-geral da ABERJE, e Eduardo Saron, diretor-superintendente do Itaú Cultural, que deram a tônica da programação, com um olhar fixo nas especificidades do patrocínio cultural e seus efeitos sobre a sociedade como um todo e, mais especificamente, sobre o setor cultural.
A segunda parte da manhã foi marcada pela exposição de Thaís Wohlmuth Reis, da Petrobras, que expôs a política de investimentos da empresa. Logo após, Danilo Miranda, do SESC-SP, apresentou sua instituição como um exemplo de investimento privado amplo, coletivo e democrático, por abarcar o interesse público das empresas, em vez de atender aos interesses meramente privados dos patrocinadores.
Ana Paula Sousa, jornalista da Folha de S.Paulo especializada em política cultural, completou a segunda parte do seminário com dicas para os profissionais de empresa sobre as relações com a mídia. O debate, com participação por escrito dos participantes, foi coordenada por Ana Vilela, da Casa Fiat de Cultura.
O tema “Políticas Culturais e Cooperação” foi trabalhado por Alfons Martinell Sempere, professor da Universidade de Girona, com uma discussão sobre os diversos usos e valores agregados da gestão cultural. Para o espanhol, há várias maneiras de enxergar os benefícios das políticas culturais. Além de agregar conteúdos para o aprendizado, bem-estar, qualidade de vida, facilitar a coesão social, o senso de pertencimento, ampliar a participação política, é possível mapear o desenvolvimento de um setor econômico próprio, além de auxiliar uma imensa cadeia econômica, atrelada ao turismo, à infraestrutura e aos serviços, gerando um grande número de empregos, sobretudo indiretos.
Ainda sobre o mesmo tema, Teixeira Coelho, que é um dos mais importantes pensadores do assunto no Brasil, aborda três maneiras diferentes de atuação da gestão cultural: intervenção, coordenação e cooperação. E defende o terceiro tipo como o mais adequado para a condução de processos culturais contemporâneos.
Qual é a política cultural para o século XXI? O curador do Masp é enfático ao responder que a maneira mais interessante de gerir cultura é pela cooperação e não pela intervenção, ou mesmo a cooperação.
Saí do evento antes do término da penúltima mesa, cujo tema “Cultura de marca ou marca da cultura?”, com participação de Maria Arlete Gonçalves, da Oi Futuro e Marcelo Mendonça, do Banco do Brasil, mais parecia um desfile institucional das marcas patrocinadoras. Quem esperava ouvir um pouco dos bastidores, das dificuldades, dos embates éticos presentes nos corredores das grandes marcas, saiu frustrado do debate. Mas quem precisava de bons argumentos para investir em cultura, saiu satisfeito, já que estamos falando de profissionais de tarimba, grande conhecimento técnico e de casos com sólido investimento em cultura.
Perdi a última mesa, o que foi uma pena, pois estava muito interessado na fala de Mário Mazzilli, da CPFL Cultura, falando de “Expansão do Conhecimento e da Informação”, e de Marcello Dantas, com “Novas Linguagens e experiências interativas com o público”. Por telefone, alguns colegas presentes relataram que as falas fecharam o evento com chave de ouro.
Deixo aqui os parabéns a Paulo Nassar e à ABERJE pelo evento realizado, com votos de novas edições e publicações sobre o tema.
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