“Apesar da crença popular, a música brasileira nunca se colocou no mercado internacional. A oportunidade está aí; nós temos música comercial e com qualidade e existe um público lá fora. O que falta é uma estrutura regional e nacional focada no mercado internacional.”

Foto: epSos .de A afirmação é de David McLoughlin, consultor internacional da BM&A (Brasil Música e Artes) e do projeto BME (Brasil Music Exchange). McLoughlin foi gerente de importação da loja Tower Records, em Londres, e gerente internacional em empresas como as gravadoras e distribuidoras Eldorado, Atração, MCD, Sum e Trama. Nos dias 23 e 24 de novembro ele apresentará dois módulos do curso Mercado Internacional da Música, que o Cemec promove em São Paulo (clique aqui para saber mais).

Segundo ele, embora tenhamos muitos casos de sucesso, as exportações de música brasileira ainda não trazem ganhos significativos e contínuos, nem geram carreiras significativas ou empregos a longo prazo. “Apesar do poder econômico do país e sua rica produção musical, nossa presença no cenário internacional é muito underground e esporádica, dependendo mais do trabalho de produtores internacionais do que dos produtores brasileiros”, diz. E completa que, para aumentar as exportações de música, é necessário realizar uma abordagem coordenada para a comercialização, envolvendo associações regionais e nacionais, assim como órgãos do governo.

O número de músicos brasileiros que fazem carreiras fora do Brasil vem caindo nos últimos 10 anos, segundo André Bourgeois, fundador da gravadora Urban Jungle e responsável por mais de 500 shows no exterior de artistas como Céu, Curumin, Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Lucas Santtana. “Será que o interesse na música brasileira, se comparado com as músicas africanas ou latinas em geral, diminuiu? Ou os músicos brasileiros vêm encontrado dificuldades financeiras e logísticas maiores para se apresentaram fora do país? São perguntas que precisam ser feitas”, provoca.

Ele explica que é muito pouco provável que um estrangeiro contrate um artista brasileiro sem acontecer algo relevante desse artista no território dele. Por isso, para criar qualquer tipo de demanda de show ainda é preciso lançar e divulgar bem um material musical localmente.

“Exceções podem existir para artistas brasileiros de grande sucesso no Brasil que fazem turnês no exterior para tocar exclusivamente para a comunidade brasileira local. Não existe quase nenhuma noite brasileira fixa nos festivais internacionais, o artista brasileiro quando atravessa o oceano, entra em ‘concorrência’ com artistas brasileiros locais e músicos do mundo inteiro”, diz Bourgeois.

Saber contar uma boa história sobre o conteúdo artístico, acredita ele, é tão importante quanto o próprio produto a ser vendido. Muitas bandas se promovem sem ter imagens ao vivo de boa qualidade, por exemplo, e é muito difícil vender algo que não pode ser representado de forma simples e objetiva. “Nunca podemos esquecer que o interlocutor geralmente não tem muito tempo e que trabalhando com música o mais importante é representar de forma visual ou audiovisual”, indica.

Leandro Silva, gerente de projetos do Brasil Music Exchange, completa que para qualquer tipo de empreendimento o planejamento é essencial. “Sem um planejamento mínimo, corremos o risco de executarmos ações aleatórias e que não nos levarão a lugar algum”, alerta.

No caso na internacionalização da música, pensando nos artistas e empresários, é necessário analisar aspectos como: Quais são os pontos fortes da música? Qual público deve ser atingido? Existem artistas com trabalhos semelhantes que já se projetaram no exterior? Como eles conseguiram isso? Quais ações devem ser executadas para se projetar no exterior? Quanto dinheiro será necessário para executar estas ações? Qual é a fonte dos recursos?

“A partir da resposta dessas e outras questões, o empreendedor deverá estar mais preparado e organizado para iniciar sua projeção no mercado internacional”, explica Silva.


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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