Agentes envolvidos na cadeia produtiva da cultura têm visões bem diferentes no que se refere aos investimentos na área. O Panorama Setorial da Cultura Brasileira, pesquisa patrocinada pela Vale e Ministério da Cultura por meio da Lei Rouanet, convidou uma das classes desses agentes, os patrocinadores, para expor suas dificuldades quanto ao maior mecanismo de incentivo à cultura no país.
O levantamento dividiu os investidores em três grupos: privado, que faz aportes em projetos, não necessariamente utilizando recursos públicos, mas se valendo da lógica reguladora do mercado e da livre iniciativa; público, que trabalha com recursos provenientes da arrecadação de impostos; e híbrido, que se utiliza dos dois recursos anteriores e foca em interesses que revertem em maior perspectiva de mercado, tendo como resultado a produção de valor, formação de conexões entre pessoas e um bom investimento para visibilidade.
Os investimentos em cultura do grupo privado têm como principais motivações facilitar a comunicação, valorizar e conferir cidadania à marca, melhorar o relacionamento com a comunidade local. O grupo demonstrou pouco conhecimento sobre políticas públicas na área cultural, o que, segundo o estudo, pode ocasionar uma escassez de diversidade nos investimentos, que tendem a acolher um único público.
Um dos pontos mais questionados pela análise é a forte influência do eixo Rio-SP na preferência de investimentos privados. O grupo se justifica alegando que grande parte dos projetos que estão disponíveis para serem incentivados é da região, que apresenta também maior público e melhor estruturação de projeto. Esses fatores aumentariam a chance de retorno, segundo os incentivadores.
Trabalho em conjunto dos atores envolvidos nos processos de incentivo cultural e maior diálogo entre as partes envolvidas auxiliaria na descentralização de capital no país, segundo o grupo híbrido. O grupo acredita que a dinamização de execução dos projetos e um maior diálogo de incentivadores com as três esferas de poder são peças fundamentais para descentralizar os investimentos em cultura. Incentivadores híbridos apostam na variedade de investimento, participações e de manifestações culturais pelo país, buscando preservar a identidade coletiva, as tradições e os costumes.
O grupo público, que investe em cultura para gerar retorno social, melhorar a educação, a economia e a sociedade em geral, também questiona a concentração de investimentos no Sul e Sudeste do país. “Esta questão sugere que os diversos elementos que contribuem para a produção cultural – a cadeia produtiva da cultura – precisam ser entendidos também regionalmente para se estimular o desenvolvimento nacional e integrado”, concordam Gisele Jordão e Renata Allucci, responsáveis pelo Panorama.
Os entrevistados do grupo público enfatizaram que a lei de incentivo à cultura criou canal de comunicação entre o poder público e as empresas, permitiu o reconhecimento de segmentos culturais e criou condições para a ampliação dos recursos do Ministério da Culura.
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