Matéria de Ana Paula Sousa publicada no jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira, dia 10, analisa uma nova fatia de mercado, apontando que “depois de anos de abandono, mercado de cinema volta a mirar a classe C com salas em supermercado e nova estratégia”.

Na mesma matéria, a jornalista cita ainda que a classe C, que inclui famílias com renda entre R$ 726 e R$ 1.195, cresceu 21% entre 2003 e 2008 (Datafolha). Com esse aumento na renda desta faixa da população, a pirataria e a TV viraram o principalmente foco de consumo, já que o cinema se tornou um programa para as classes A e B com o fim das salas de rua e a chegada dos multiplex. “Quando temos um filme como “Se Eu Fosse Você 2”, vemos que o circuito está falido”, afirmou Adhemar Oliveira, sócio da rede Unibanco Arteplex, apostando que se houvesse salas populares, o filme teria vendido o dobro de ingressos.

Veja a íntegra da matéria abaixo:

A classe operária vai ao cinema

Folha de S. Paulo – Ilustrada – 10/09/2009
Ana Paula Sousa

Depois de anos de abandono, mercado de cinema volta a mirar a classe C com salas em supermercado e nova estratégia

Os fabricantes de sabonete fazem. As companhias aéreas fazem. Mas os cinemas perderam o compasso. “Para o cinema, o boom de consumo da classe C não chegou. Não estávamos preparados para receber esse novo consumidor, não fizemos nada por ele,” constata Adhemar Oliveira, sócio da rede Unibanco Arteplex.

A classe C, que inclui famílias com renda entre R$ 726 e R$ 1.195, cresceu 21% entre 2003 e 2008 (Datafolha). Se, em 2004, 17% dessa população tinha acesso à internet, em 2008 o índice, segundo o Ibope, saltou para 34%. E, ao bater de porta em porta, o IBGE constatou que, pós-geladeiras, outros objetos de desejo surgiram. Números levantados pelo instituto indicam ser de até R$ 14 bilhões o potencial de consumo da classe C para lazer e cultura.

Mas, enquanto a banda Calypso fisgava esses novos consumidores, o cinema os deixava do lado de fora. “Com o fim das salas de rua e a chegada dos multiplex [em 1997], o cinema se tornou um programa para as classes A e B”, diz Oliveira. Nascia assim o enorme contingente dos sem-tela que, se não tem líder, tem a pirataria e a TV como aliados. “Quando temos um filme como “Se Eu Fosse Você 2″, vemos que o circuito está falido.” Oliveira aposta que, se houvesse salas populares, o filme teria vendido o dobro de ingressos.

Pois foi de olho nesse público que o empresário decidiu construir dois complexos no Carrefour Sulacap, na periferia do Rio, e no Carrefour Limão, em São Paulo. A primeira diferença é que, em vez de estarem abrigadas em shoppings, as salas ficarão num supermercado. O frequentador não pagará estacionamento e, mágica, os ingressos e a pipoca custarão cerca de 30% menos. “Da construção à bombonière, todo conceito é diferente. Claro que o frequentador tem de se sentir bem, mas é possível reduzir alguns custos”, diz o empresário. A principal diferença está no contrato de locação, assinado em parâmetros distintos daqueles dos shoppings.

O governo, do seu lado, também tenta empurrar esse movimento. “Estamos trabalhando com a Ancine [Agência Nacional de Cinema] para que haja um apoio específico para salas populares”, confirma Luciane Gorgulho, do BNDES. Ao falar sobre o assunto, num seminário, o presidente da Ancine, Manoel Rangel, cutucou: “Resta saber que agentes privados terão a ousadia de investir”.

Resta saber também se o público perdido voltará às salas. Flavio Panzenhagen, dono do cinquentenário Cine Cisne, em Santo Ângelo (RS), acha que não. “Atingir a classe C não é tão simples”, diz ele, que cobra de R$ 5 a R$ 7 pelos ingressos. “As pessoas preferem ver TV ou comprar o pirata na esquina e levar para casa.”

* Com informações da Folha de S. Paulo

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Jornalista e sócia da empresa CT Comunicações.

1Comentário

  • João Pimentel, 11 de setembro de 2009 @ 19:14 Reply

    Vixe.

    Quanta besteira, ingenuidade, oportunismo…enfim…

    Como se diz no popular “seria cômico se não fosse trágico”!

    Assim, por não conhece-lá, ainda dou um desconto prá tal da Ana Paula Souza, que talvez seja apenas mais uma “jornalista” da nova geração, explorada pela Folha (pois é os salários estão cada vez mais baixos) e ela, apesar das boas intenções, no mínimo não deve ter a menor consciência do que é o Brasil…

    Pois é, feliz ou infelizmente a tal “classe operária” não está restrita a São Paulo ou as grandes metrópoles brasileiras…e neste contexto, afirmar que a classe operária vai ao cinema é no mínimo acreditar em papai noel…

    quanto aos comentários do Ademar…acho melhor nem comentar…já que ao contrário da Ana ele sabe ou deveria saber muito bem qual é o texto e o contexto desta situação…afinal, ele um dia até foi um militante do movimento cineclubista…mais isso foi antes dele se tornar um pequeno/médio/e prá alguns, grande, empresário(sic) do setor de exibição audiovisual no país…

    Quanto a ANCINE e o BNDES me desculpem…

    Ou seus dirigentes sofrem de miopia crônica…ou são realmente incompetentes ou o que é pior (e nem quero acreditar nisso) estão submissos e a serviço de interesses transnacionais inconfessáveis…

    Ou será que eles acreditam que é economikamente viável a implantação de CINEMAS em cidades com menos de 300 mil habitantes sem que ocorra uma efetiva mudança no modelo mercadológico vigente?

    Bem, cansei…mas sobre o tema gostaria de indicar a todos a leitura de um texto…

    sss://pec.utopia.com.br/tiki-read_article.php?articleId=378

    boa leitura

    ab

    Pimentel

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