Reportagem de Ana Paula Sousa e Marcus Preto publicada nesta sexta-feira (21/1) pela Folha de S. Paulo indica que apesar da desmaterialização de músicas, filmes e livros ter atingido negativamente muitas empresas, existe uma luz no fim do túnel quando o assunto é sobrevivência das estruturas comerciais físicas em meio ao desenvolvimento da tecnologia.

“Há oito anos, se me perguntassem se ainda estaríamos vendendo CDs hoje, eu provavelmente diria que não”, disse aos jornalistas o diretor de marketing da Livraria Cultura, Fábio Herz. O mercado de locação de vídeo e DVD caiu pela metade no Brasil entre 2006 e 2009. E nos últimos cinco anos, estima-se que pelo menos 4 mil videolocadoras tenham sido fechadas.

No entanto, há quem tenha crescido nesse período, como a Livraria Cultura e a 2001 Vídeo, que teve um aumento de 10% nas locações ano passado e abriu nesta semana mais uma loja, nos Jardins. Segundo a sócia da rede, Sônia de Abreu, os consumidores ainda procuram a loja em busca de interlocução e convivência. Além disso, a indústria do entretenimento no século 21 está pautada nos nichos, e não nos hits. Essa é a tese de Chris Andersen, editor-chefe da revista de tecnologia “Wired”, em seu livro “A Cauda Longa”.

Na prática, isso pode ser notado quando o consumidor vai à loja em busca de um catálogo diferenciado. “O mercado em crise é aquele focado no best-seller”, diz Herz. Tendo isso em vista, lojas e gravadoras têm apostado em ações como relançamentos de catálogo histórico e caixas com discografia completa de artistas mais conhecidos.

Isso pode não garantir a vida eterna – a famosa Modern Sound, no Rio de Janeiro, que apostava em ações desse tipo, fechou em dezembro -, mas tem possibilitado uma sobrevida a algumas marcas.

Música no celular

A reportagem da Folha também aborda a questão do download de música e filmes e como o mercado tem buscado soluções para recuperar o público do comércio legal. Uma das principais saídas tem sido aproveitar a tecnologia dos aparelhos de telefonia celular.

A Som Livre, por exemplo, lançará em fevereiro o Escute, um site de música por assinatura no qual o consumidor paga um valor fixo por mês para baixar certo número de faixas de um vasto catálogo, nacional e internacional, negociado com grandes gravadoras e artistas independentes. O conteúdo pode ser baixado no computador, no mp3 player e também no celular.

O gerente do departamento digital da Universal Music, Danillo Ambrosano, informou que a música digital representa 30% da receita da gravadora, sendo 30% disso vindo de venda on-line e 70% da venda para celular. “O Brasil é o inverso do resto do mundo, que vende 80% on-line e 20% em telefone. Talvez porque a maior parte dos usuários que consomem música no celular seja das classes C e D, sem computador em casa”, afirmou.

A grande questão, no entanto, ainda é saber como estimular as pessoas a pagar por algo que elas podem ter de graça, já que os argumentos legais não surtiram efeito. De acordo com o professor Carlos Affonso de Sousa, da FGV,  “as pesquisas mostram que as pessoas sabem que estão fazendo algo ilícito, mas não se sentem constrangidas pela lei” .

Experiências em outros países mostram que as melhores soluções são aquelas que permitem que as pessoas continuem baixando conteúdo, mas fora da “clandestinidade”. Na Europa, o site do momento é o Spotify (ainda não disponível no Brasil), que possibilita ouvir e compartilhar qualquer música, de qualquer artista, de graça e legalmente. Criado na Suécia em 2008, o Spotify já tem 10 milhões de usuários em sete países e acaba de anunciar o lançamento de um aplicativo para celulares.

A manutenção do site e o pagamento dos direitos autorais são pagos com anúncios e uma assinatura mensal que oferece serviços especiais, como o direito de carregar a música no iPod ou não visualizar anúncios na tela.

Para o professor da FGV, “ouvir música é só parte da experiência. As pessoas compartilham, remixam, criam comunidades”. Isso é o que fará o mercado crescer, desde que as pessoas tenham acesso.

*Com informações da Folha de S. Paulo


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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